Impedidos de ir para o centro da cidade, os tuk-tuks procuram novas localizações, como o Largo Ator Dias, junto à muralha Fernandi
Impedidos de ir para o centro da cidade, os tuk-tuks procuram novas localizações, como o Largo Ator Dias, junto à muralha FernandiFoto Amin Chaar

Restrições a veículos turísticos já geraram milhares de cancelamentos

Centro histórico. Novo regulamento entrou em vigor há duas semanas e não faltam críticas dos operadores. Nos tuk-tuks já se fala em riscos de falências e despedimentos em massa.
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Duas semanas depois da entrada em vigor do projeto-piloto da Câmara Municipal do Porto que restringe o acesso dos veículos turísticos ao centro da cidade nas horas de ponta da manhã e do final do dia, há já milhares de cancelamentos e os operadores temem pelo efeito que o descontentamento dos turistas possa ter na procura futura da cidade. No caso dos tuk-tuks, que estão totalmente impedidos de circular no centro histórico, a Associação Nacional de Condutores de Animação Turística (ANCAT) fala em taxas de cancelamento de 80% e pede a reversão da medida.

Foi com o objetivo de “garantir uma utilização eficiente e sustentável do espaço público” que a autarquia lançou o projeto-piloto que impede o acesso de veículos turísticos ao centro histórico entre as 8h00 e as 10h00 e entre as 17h00 e as 20h00. Das 10h00 às 17h00, toda a circulação na zona de restrição tem que ser previamente autorizada pelos serviços da autarquia, devendo os pedidos ser submetidos com 20 dias úteis de antecedência -  o que só por si é criticado pelos operadores, por ser considerado de difícil operacionalização. Depois das 20h00, basta a comunicação prévia, não é preciso autorização.  

E é precisamente a limitação entre as 8 e as 10 da manhã que gera dificuldades a quem organiza tours a partir do Porto para o Douro ou outra qualquer região, porque tem que apanhar os turistas nos seus hotéis às 7h30 e nem todos estão de acordo com a alteração. 

Só a Living Tours, um dos operadores contactados pelo Diário de Notícias, acumulava já, no final da semana passada, cancelamentos de mais de 1300 pessoas que tinham tours agendados para outubro, mas não quiseram aceitar a antecipação da hora de pick up  para as 7h30. A isso somam-se os cancelamentos dos tuk-tuks, que passam a só poder circular em circuitos alternativos, designadamente mostrando a vista do Porto a partir de Vila Nova de Gaia. O problema é que se trata de veículos 100% elétricos e, portanto, com limitações.

Rui Terroso, CEO da Living Tours, garante que os operadores querem ser “parte da solução e não do problema”, mas assegura que, da forma como a medida foi implementada, está a limitar a operação. "Como é que vamos apresentar um pedido de autorização com 20 dias de antecedência se muitas vezes recebemos pedidos de um dia para o outro?”, questiona.

Foto Amin Chaar

Já o vice-presidente do grupo Douro Azul acredita que o modelo tem virtudes, mas peca por “passar para o transporte turístico o ónus da questão, como se, de repente, todo o problema do trânsito na cidade fosse do transporte turístico”. Com uma reunião agendada para esta semana com a autarquia, Manuel Marques acredita que o modelo pode ser ajustado, “não pode é ser cego”. Com 11 dos 35 navios-hotel que circulam no rio, a Douro Azul tem, também, uma frota de autocarros que acompanham o navio para, em cada paragem, levar os turistas a fazer as visitas às quintas ou, no caso do Porto, a visitar a cidade. 

“Estamos a falar de clientes acima de 70 anos, muitos deles com mobilidade reduzida, mas que não são propriamente gente de pouco dinheiro. É um turismo qualificado e que quer usufruir da cidade com qualidade e que, agora, muitas vezes são impedidos de sair do autocarro porque não conseguem descer do Parque das Camélias à Sé, a Sá da Bandeira, subir ao Bolhão e regressar às Camélias. Não conseguem, há aqui uma lógica de quase castração e isso vai ter impacto, não é agora, é a médio e longo prazo, no modo como os operadores olham para a  cidade, que fala em aumentar taxas turísticas, mas trata mal o turista”, diz Manuel Marques.

Nos tuk-tuks a situação é mais complicada porque a autarquia atribuiu licença a cinco empresas, tentando  disciplinar onúmero destes veículos na cidade, mas um dos preteridos recorreu para tribunal e, enquanto a situação não for esclarecida, ninguém opera no centro. Rúben Batista é um dos prejudicados e fala em prejuízos a rondar os 80%. Tem seis viaturas, que opera ele e mais cinco funcionários, mas teme que os “cancelamentos constantes” acabem a gerar o fecho destes pequenos negócios. “Prometi à minha equipa lutar até ao fim,mas ninguém faz o impossível se não houver trabalho”, sustenta.

Foto Amin Chaar

 Os comerciantes dos Clérigos, uma das zonas principais de paragem dos tuk-tuks e que agora não podem lá estar, dividem-se. Numa tabacaria da zona, Florbela e Mónica Silva lamentam a quebra no movimento, já Adão Aroso, de uma loja de artesanato local, admite que  nem tinha dado conta da falta destes veículos.

A autarquia rejeita as críticas de falta de transparência no processo, garantindo que fez uma consulta pública sobre a matéria, e diz-se aberta ao diálogo. “Embora possam causar transtornos iniciais, acreditamos que os benefícios a longo prazo, como a melhoria do ambiente urbano e da mobilidade, serão significativos”, sustenta fonte da CM Porto, prometendo continuar a monitorizar o impacto da medida “e fazer alterações sempre que necessário”.

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