Mais 75 mil árvores vão ser replantadas na área afetada pelo fogo de 2018 na serra de Monchique até março de 2023, anunciaram esta quinta-feira os promotores de um projeto que já replantou 200 mil e apoiou 60 proprietários.."Até março de 2023 estaremos no terreno a ajudar os proprietários desta região, através da plantação de mais 75 mil árvores autóctones", disse João Dias Coelho, presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), que coordena o projeto Renature Monchique..O dirigente da organização não-governamental, que falava em conferência de imprensa realizada em Faro, revelou que, no quarto ano de ação do projeto de reflorestação, vão ser replantados sobreiros, castanheiros, medronheiros, carvalhos-cerquinhos, freixos e amieiros.."Haverá ainda um reforço e uma grande aposta na plantação do carvalho-de-Monchique, uma árvore tão emblemática na região e criticamente ameaçada", acrescentou..Ao longo dos últimos anos, o Renature Monchique, coordenado pelo GEOTA e apoiado pela companhia aérea Ryanair, desde 2019, permitiu a plantação de 200 mil árvores autóctones, com restauro ecológico iniciado em cerca de 800 hectares, ajudando 60 proprietários "a recuperarem as suas vidas"..Além da companhia aérea - cujo apoio financeiro, resultante dos donativos dos passageiros, ascende já a um milhão de euros -,são ainda parceiros no projeto a Região de Turismo do Algarve, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e o município de Monchique.."Os resultados são muito positivos. Como sabemos, o que ardeu na serra de Monchique é brutal, estamos a falar de 28 mil hectares", sublinhou João Dias Coelho, enaltecendo o "trabalho inédito de restauro ambiental e proteção dos ecossistemas naturais" já realizado..A ação "importante" do GEOTA, prosseguiu, tem passado pelo "contacto direto com agricultores e proprietários", para lhes fazer entender "o perigo que é apostar em espécies de crescimento rápido que não são autóctones da região - porque os incêndios são fruto disso"..Falando de um "trabalho complexo" e reconhecendo que esse contacto "nem sempre é fácil numa primeira abordagem, porque as pessoas estão bastante traumatizadas, não só pelo incêndio, mas também, muitas vezes, pela carência de apoios", o responsável destacou o facto de a comunidade estrangeira "diversificada" ter aderido ao processo.."Quem vem de fora, quem veio para cá viver, quem se estabeleceu no Algarve e na zona da serra, estão interessados em manter aspetos tradicionais da própria agricultura e produção local. E há muitos portugueses que, depois de perceberem o contexto em que estamos a trabalhar, têm uma adesão grande ao projeto", referiu João Dias Coelho..O objetivo passa por "proteger o ecossistema da serra de Monchique" com as espécies autóctones e compatibilizar essa aposta com as atividades económicas locais, "proporcionando às populações locais a sua rentabilidade"..O presidente da Câmara de Monchique, Paulo Alves, frisou que este projeto "já deixou uma marca" no concelho, comprovada pelos números de proprietários apoiados e árvores plantadas..O autarca exemplificou com o caso do medronheiro, que, das árvores que são plantadas, "é aquela que mais cedo vai dar o tal valor necessário".."No espaço de três a quatro anos já traz o fruto e começa a dar valor ao proprietário. A criação desse valor em terrenos abandonados, ou que foram severamente fustigados pelo incêndio, seguramente que tem sucesso junto dos proprietários", sustentou..A nível nacional, além de Monchique, o GEOTA está a coordenar o projeto Renature Leiria, tendo já sido plantadas cerca de 60 mil árvores na Mata Nacional de Leiria, afetada pelos incêndios em 2017, numa meta de 1,3 milhões até 2026..Está também a ser desenvolvido outro projeto semelhante para a região da Serra da Estrela, onde este ano arderam mais de 28 mil hectares de floresta...