O magistrado sul-africano Rajesh Parshotam vai anunciar na sexta-feira às 9.00 (menos duas horas em Lisboa) a sua decisão sobre o pedido de liberdade sob caução do ex-banqueiro João Rendeiro, foi hoje anunciado..Hoje, o magistrado ouviu durante cerca de três horas os argumentos da defesa, que propõe a libertação em troca de 40 000 rands (2187 euros), e do ministério público sul-africano, que se opõe.."A quantia de 40 000 rands não seria nada" para Rendeiro, referiu o procurador Naveen Sewparsat, aludindo aos 13 milhões de euros de dinheiro do antigo BPP "que ainda não foram descobertos" e que constam no segundo mandado de captura..O magistrado que preside ao pedido de liberdade sob caução perguntou ao procurador, mesmo no final, se já sabia quanto tempo ia precisar para ter o processo de extradição pronto, referindo que a Convenção Europeia de Extradição obriga a que toda a documentação esteja pronta até 18 dias após a detenção provisória em que Rendeiro se encontra..O procurador referiu que "o processo já começou".."Fomos informados pela nossa contraparte que vão mandar todos os documentos e cumprir todos os requisitos no prazo de 14 dias", disse, descontando os quatro que Rendeiro já passou detido..Da mesma forma garantiu que os mandados de detenção provisória foram redigidos e executados conforme as normas e estão disponíveis no sistema de dados da Interpol, refutando as queixas do advogado de defesa sobre falta de formalidades e autenticações..A extradição é outro processo, realçou Naveen Sewparsat..Para já, trata-se de decidir se Rendeiro pode sair em liberdade mediante caução: o procurador diz que não, que ele já deu todos os sinais de que poderá voltar a fugir.."Não respeita o processo legal", afirmou, acrescentando que já teve "essa atitude em relação aos processos em Portugal".."Ele pode dizer que não quer voltar para Portugal, mas a lei diz o contrário", sublinhou para reforçar a tese do perigo de fuga e minimizando a "vitimização" de Rendeiro.."Porque é que não se defendeu em Portugal e vem agora constituir defesa na África do Sul? Com todo o respeito, isto não faz sentido", disse..E se tiver liberdade, "o que o impede de ir para outro país?", questionou, classificando-o como um "caso clássico" de alguém que "não vai ficar" para o processo de extradição..Quando foi detido, João Rendeiro tinha em sua posse 70 000 rands (3843 euros), "o que é muito dinheiro na África do Sul" e oito cartões bancários, acrescentou o procurador..Naveen Sewparsat respondia ao advogado de Rendeiro, Sean Kelly, que considerou que as quantias não são extraordinárias para quem queria dar um passeio e passar uns dias em Durban, porque lhe faziam lembrar a terra natal, Portugal, disse..Depois de expor o caso, Kelly centrou a sua réplica em questionar a validade dos documentos que têm sido emitidos no caso: "Sem documentos autenticados, tudo não passa de coisas que se ouvem dizer"..E preferiu falar do arrendamento de uma suíte no complexo Da Vinci em Sandton, Joanesburgo, até março de 2022 para mostrar que Rendeiro quer ficar e pode ser libertado sob caução - até porque, apesar de não ter atividade profissional no país (como argumentou o procurador), pode vir a fazer qualquer coisa, contrapôs a defesa, dada a diversidade do seu currículo..Além do mais, "precisa de medicamentos", não porque esteja doente, mas por causa da idade, e, portanto, "não devia estar encarcerado"..Ainda no que respeita à saúde do ex-banqueiro, a defesa refutou a dedução feita pela procuradoria de que Rendeiro possa ter tendências suicidas só por aquilo que ouviu na entrevista à CNN Portugal.."Nenhum psicólogo falou. São alegações que deixam escapar a areia por entre os dedos", disse.."Não há dúvida, este caso vai avançar, vai ficar bastante grande" e Rendeiro "vai lutar contra a extradição, mas não é isso que está aqui hoje em discussão", concluiu, reiterando o pedido de liberdade sob caução..Além de defender uma caução de 40 000 rands (2187 euros), Rendeiro quer voltar para a sua casa na zona de Sandton, Joanesburgo, estando disponível para se apresentar junto da polícia todos os dias e ser monitorizado..Na quinta-feira é feriado nacional na África do Sul (Dia da Reconciliação) e na sexta, às 9.00 (7.00 em Portugal), o magistrado Rajesh Parshotam anuncia na sala B do Tribunal de Verulam a sua decisão sobre o pedido.