Regular para confiar e criar uma agência para competir
Do painel “O futuro da Inteligência Artificial”, da Grande Conferência dos 160 anos do DN, realizada esta sexta-feira, saíram duas ideias que deverão fazer parte da evolução da adoção da IA em Portugal nos próximos anos: é preciso regular a utilização da IA para gerar confiança e apostar numa agência para competir numa escala global.
“A regulação serve para que tenhamos confiança na inovação”, afirmou Maria Manuela Leitão Marques, antiga eurodeputada pelo PS e ex-ministra da Presidência e Modernização Administrativa.
“Ninguém tomaria um medicamento que fosse, ou sujeitar-se-ia a um tratamento, se não confiasse que ele tinha passado nos vários crivos, nos vários filtros que são utilizados antes de entrar no mercado”, argumentou, lembrando que “nenhum” dos unicórnios de ADN português “se queixou de regulação no desenvolvimento do seu negócio”. “Queixaram-se foi da falta de capital de risco europeu”, disse.
A responsável defendeu que a regulamentação europeia para a IA não é um obstáculo à inovação, mas um mecanismo de confiança para os cidadãos, realçando que as barreiras ao desenvolvimento da IA são a falta de capital de risco e a necessidade de acelerar a transformação da investigação científica em inovação económica.
Por oposição, Daniela Braga, fundadora e CEO da Defined.ai, que em 2021 foi escolhida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para integrar uma task force para a estratégia sobre IA, declarou: “Cada mês que passa estamos cada vez mais atrasados. Eu ando a dizer isto há 5 anos pelo menos. Está cada vez a ficar mais difícil desenvolver alguma coisa relevante de base.”
Não obstante, a empresária destacou o potencial de Portugal em combinar tecnologias existentes com soluções locais para criar aplicações inovadoras, “como é o caso do investimento que foi feito nas agendas do Accelerate AI e do Centro de Responsabilidade de Inteligência Artificial”, realçando que o país tem o talento e as condições necessárias para investir em tecnologia de base.
E, nesse sentido, defendeu a importância do país criar uma Agência Nacional de Inteligência Artificial, “uma espécie de hub de IA para formar talento e criar condições para produzir tecnologia de base”.
“Às vezes, não é quem inventa a roda que tem o melhor retorno dessa invenção. É quem utiliza e rentabiliza várias tecnologias ao serviço de setores que vão ser completamente transformados”, acrescentou.
No mesmo painel participaram Pedro Martins, executive director & head of data & AI na Devoteam Portugal, e Luís Barreto Xavier, presidente do Instituto de Conhecimento da Abreu Advogados.
Para Pedro Martins, o país deve criar condições para atrair os centros de dados das Big Tech, para acelerar a inovação da IA no país.
“Precisamos de ter [mais] acesso aos dados”, afirmou o especialista durante o painel “O Futuro da Inteligência Artificial”, na Grande Conferência dos 160 anos do DN, quando questionado que políticas públicas podem ser adotadas para incentivar o progresso com IA.
Já Barreto Xavier explicou que a adoção da IA no setor da advocacia está no início, defendendo que o custo de investimento em IA deve ser refletido nos honorários.
Carlos Formigal, head of engineering IT hub da Philip Morris International, considera que a Inteligência Artificial (IA) não é um fim em si, mas antes "um percurso de descoberta" contínua.
No caso desta empresa, o responsável explicou que a primeira abordagem ainda decorre, focando-se nos recursos humanos da empresa, nomeadamente na "simplificação de processos, controlo e automação".
A grande questão, segundo o responsável, é como pode a IA "ser usada para suportar a organização" e dar ao produto "maior impacto". No caso daquela empresa, "produtos como maior alternativa ao cigarro".