Óculos de “computação espacial” da Apple deverão chegar em breve à Europa.
Óculos de “computação espacial” da Apple deverão chegar em breve à Europa.DR

Realidade virtual ainda é um nicho, mas Apple abre caminho para um mercado maior 

Chegada dos Vision Pro à Europa vai dar um impulso às vendas num segmento dominado pela Meta que nunca conseguiu chegar às massas. Mas estes dispositivos de realidade virtual, aumentada ou mista nunca vão movimentar os mesmos volumes de unidades que os smartphones, considera a consultora IDC.
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À porta das lojas Apple na França e Alemanha não houve filas intermináveis de consumidores a tentar comprar os novos Vision Pro, mas a marca tem grandes expectativas para a chegada dos seus óculos de “computação espacial” à Europa. É a primeira categoria inteiramente nova de produtos que a Apple lança em quase uma década e está a fazer ondas num mercado onde várias outras marcas falharam. A promessa da realidade virtual nunca foi inteiramente realizada e a transição para a realidade mista ou estendida - a que se juntam elementos de realidade aumentada - tem sido feita aos solavancos. A Meta domina as vendas mundiais com os seus dispositivos Quest 3 e a Apple entrou diretamente para a segunda posição, seguida da ByteDance, Xreal e HTC. 

Cinco meses depois do lançamento nos Estados Unidos, os Vision Pro aterram agora nos mercados europeus com uma etiqueta de 3999 euros, um preço muito elevado para este tipo de dispositivos. Ainda assim, a novidade deverá movimentar centenas de milhares de unidades no primeiro ano. A consultora IDC prevê que a Apple venda 400 mil óculos Vision Pro até ao final de 2024, depois de ter alcançado o marco de 100 mil unidades vendidas no primeiro trimestre. 

“Se isso acontecer, nenhuma outra marca conseguiu atingir um tal volume de unidades e de receita no primeiro ano com um lançamento de apenas um produto, o que demonstra aqui um sucesso considerável”, disse ao Dinheiro Vivo Francisco Jerónimo, vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA. “É normal que não atinjam os mesmos volumes que a Meta está a atingir”, continuou. “Agora, nós continuamos a ver uma forte perspetiva e no próximo ano estimamos que a Apple vai duplicar as suas vendas face a 2024, porque haverá novos mercados onde o produto vai estar disponível.”

A previsão em termos de receitas é notável: 1,4 mil milhões de dólares (cerca de 1,2 mil milhões de euros) este ano e 14 mil milhões (12,9 mil milhões de euros )nos próximos cinco anos. “Estamos a falar aqui de um volume de negócios que não é negligenciável”, salientou Francisco Jerónimo. 

A questão que se tem debatido é se este é o ponto de inflexão que irá levar à massificação do mercado, mas esse pode ser um debate falacioso, avisa o analista. Para Francisco Jerónimo, é importante salientar que estes dispositivos de realidade virtual, aumentada ou mista nunca vão movimentar os mesmos volumes de unidades que os smartphones e que a sua utilização é fundamentalmente diferente. 

“Há sempre a expectativa que a Apple vai vender tantos Vision Pros como vai smartphones, ou que as pessoas vão todas andar de realidade virtual e aumentada nas suas cabeças em todo o lado”, apontou. “Isso não vai acontecer, ponto final”, estabeleceu. “O smartphone vai continuar a ser o aparelho dominante.”

Mas a aposta da Apple deverá alimentar o mercado, trazer-lhe mais atenção e incentivar outras marcas a inovarem. “A Apple vai continuar a trazer mais awareness para o mercado, sem dúvida”, afirmou. “Tudo vai depender do conteúdo que eles disponibilizarem e também da versão mais barata em que estão a trabalhar e vão lançar, à partida, no final do próximo ano.”

Para já, os dados indicam uma transição no tipo de produtos que os clientes procuram. O relatório trimestral de dispositivos de realidade virtual e aumentada da IDC, lançado em junho, mostrou um declínio acentuado de 67,4% das vendas no primeiro trimestre do ano. A quebra deveu-se à transição para dispositivos de realidade mista e estendida, segundo a análise da firma. Com um pormenor interessante: apesar da redução no número de unidades vendidas, o preço médio disparou mais de mil dólares devido à entrada da Apple no mercado e à estratégia da Meta de se focar no segmento premium com os Quest 3, cujo preço fica acima dos 600 euros/dólares. 

“Com a realidade mista a crescer, devemos esperar que os dispositivos estritamente de realidade virtual desapareçam nos próximos anos, à medida que as marcas e programadores desenvolvem novo hardware e experiências para ajudar os utilizadores a transitarem para a realidade aumentada mais à frente”, explicou o analista Jitesh Ubrani. “Entretanto, os óculos de realidade estendida vão captar a atenção dos consumidores, porque oferecem uma experiência de grande ecrã ao mesmo tempo que incorporam inteligência artificial e displays transparentes num futuro próximo.”

Curva ascendente

A previsão da IDC é de que as vendas voltem a crescer na segunda metade do ano, podendo terminar com uma subida de 7,5% em relação a 2023. Essa inversão do que aconteceu até agora vai dever-se a novos lançamentos e uma redução dos preços, sendo que a versão mais barata do Vision Pro só deverá chegar no próximo ano. Até 2028, a firma antecipa que o mercado cresça a um ritmo composto de 43,9% ao ano. 

“Vamos continuar a ver novos produtos, como por exemplo os smart glasses que cada vez mais vão ter uma taxa de adoção grande”, frisou Francisco Jerónimo. O analista apontou para o investimento que a Meta está a ponderar fazer na EssilorLuxottica, casa-mãe dos Ray-Ban, como um reflexo forte do potencial de crescimento no segmento. 

“Esses smart glasses vão ter lentes com a possibilidade de ler mensagens e outro tipo de conteúdos”, referenciou. “Depois temos os aparelhos tipo o Vision Pro para cenários mais específicos.”

Os conteúdos desenvolvidos para estes dispositivos irão determinar o nível de massificação e sucesso, mas Francisco Jerónimo salientou que os Vision Pro têm vantagem no hardware, pelo menos para já, quando comparados com aparelhos como o Meta Quest 3 ou PlayStation VR2. 

“Eu não consigo trabalhar com um Meta na cabeça, porque a qualidade da imagem não é boa o suficiente”, frisou. “O que é muito bom no Vision Pro é usar aquilo num ambiente de trabalho. Se quiser estender o meu Mac com dois monitores à frente, tenho uma qualidade de imagem extraordinária.”

É aí que o analista acredita que a Apple pode fazer a diferença, aliando a disponibilização de conteúdos Apple TV+, Disney e outros com aplicações de produtividade e em ambiente profissional. 

“Muita gente vai justificar comprar por essas duas razões, porque conseguem trabalhar com ele e porque conseguem consumir conteúdo em locais que de outra forma não conseguiriam.”

A perspetiva está a incentivar os programadores a desenvolverem mais conteúdos. No seu relatório trimestral, a IDC referiu que tanto o Quest 3 como o Vision Pro estão a fomentar o interesse dos programadores na criação de conteúdos de realidade mista, que misturam os mundos físicos e digitais. Até agora, essa experiência situa-se num segmento de preço que ainda não permitiu a massificação. Mas no caso específico do Vision Pro, a estratégia da Apple vai além das caixas de hardware, que “nunca vão vender como pãezinhos quentes”, disse Francisco Jerónimo, centrando-se em áreas como a educação e outras aplicações.

“Aqui o sucesso não é quantas pessoas compram Vision Pro, é quantas habitações têm acesso ao Vision Pro, tal como nas televisões”, afirmou o especialista. “A questão é quantos lares vão ter o Vision Pro nos próximos anos. Isso é que é um indicador de sucesso.”

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Óculos de “computação espacial” da Apple deverão chegar em breve à Europa. FOTO: Direitos reservados
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Realidade virtual ainda é um nicho, mas Apple abre caminho para um mercado maior 
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Chegada dos Vision Pro à Europa vai dar um impulso às vendas num segmento dominado pela Meta que nunca conseguiu chegar às massas. Mas estes dispositivos de realidade virtual, aumentada ou mista nunca vão movimentar os mesmos volumes de unidades que os smartphones, considera a consultora IDC. Texto: Ana Rita Guerra

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