"Queria que isto fosse feito em Portugal e, felizmente, consegui"
Quando percebeu que este projeto ia para a frente?
Nunca tive dúvidas de que ia para a frente. A minha dúvida, até à última, foi se ia acontecer em Portugal.
Pensou em fazer isto noutro país?
Não. Fiz a candidatura [ao IAPMEI], que foi aprovada na condição de eu ter uma parte do financiamento, o que só aconteceu no último dia do prazo. O projeto seguiria o seu caminho, eu já tinha tido ofertas pela patente, podia vendê-la. Mas queria que isto fosse feito em Portugal e, felizmente, consegui.
A primeira vez que experimentou a boia, ela funcionou logo?
Logo. Melhorámos depois alguns pormenores, mas funcionou logo. E posso dizer que o sistema de propulsão, e os cálculos, foi por feeling. A dimensão, a hélice, a dimensão da turbina. Tentámos aumentar um milímetro, baixar um milímetro, e é tudo. Parece mentira.
É a sua intuição, à mistura com muita a experiência?
Nunca estudei eletrónica, nem mecânica. Mas isto é tudo lógico, para mim são coisas óbvias. Ganhei os primeiros ordenados a reparar eletrodomésticos. Acabava a escola e ia para uma empresa fazer reparações. Depois comecei a reparar rádios e televisores e na tropa, na Força Aérea, no centro de audiovisuais, reparava câmaras e vídeos. Mais tarde instalei antenas parabólicas. Algumas grandes instalações de antenas para satélites no país foram instaladas por mim.
O facto de a U-Safe ser um produto de Portugal dá-lhe uma especial alegria?
Fazia questão que isto nascesse em Portugal. Tive a possibilidade de vender [a patente] e não tinha de fazer mais nada na vida, era muito dinheiro. Tive a sorte de ser um projeto com muita visibilidade. Comecei a ter mais ajudas a partir desse momento. Porque, antes disso, foi um caminho sozinho, do género, "OK, vai lá fazendo que nós depois falamos". Agora há grandes marcas multinacionais bastante interessadas em ficar envolvidas no projeto.
Esta ideia é uma espécie de ovo Colombo.
Esta boia, há uns tempos, era tecnicamente impossível de concretizar. Ao contrário do que as pessoas dizem, esta é uma fase do percurso da humanidade em que há muitas oportunidades para fazer coisas novas. Diz-se que já está tudo inventado. Não é verdade. Agora é que há muita coisa para inventar, porque houve uma grande evolução tecnológica, que é possível aplicar agora em coisas novas. Estamos é numa fase em que as pessoas se preocupam com a tecnologia e não se preocupam com as necessidades.
O que foi mais difícil em todo este processo?
Começar a ser ouvido e, de alguma maneira, ser respeitado. Chegar a reuniões onde são todos doutores e engenheiros menos eu, era complicado. Custava-me, porque sou reconhecido por grandes empresas e grandes grupos no estrangeiro, que me respeitam, e procuram a minha colaboração. Depois aqui, em Portugal, se não se é doutor ou engenheiro, já ninguém nos ouve. Mas isso agora está ultrapassado.