Protões, pontapés e muito mais nos 30 anos do LIP

A física de partículas e a participação portuguesa no CERN mostram-se até dia 25 na Reitoria da Universidade de Lisboa

Há um jogo de flippers com berlindes de metal e de vidro, os primeiros a fazer de eletrões e os outros de partículas sem carga elétrica. Cada um deles tem um percurso depois de ser lançado, e assim percebe-se a diferença entre as partículas carregadas eletricamente e as outras. Mas há mais. A peça que ameaça ser a mais concorrida da exposição "Partículas, do bosão de Higgs à matéria escura", que celebra os 30 anos do LIP-Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, patente na Reitoria da Universidade de Lisboa até 25 de maio, é um túnel virtual de colisões, onde os visitantes podem fazer chocar protões... ao pontapé. Quem disse que a física não é divertida?

O túnel virtual de colisões é isso mesmo: um simulador das colisões de protões (partículas do núcleo dos átomos) como as que se fazem no LHC (Large Hadron Colider), o acelerador gigante do CERN, Laboratório Europeu de Física Nuclear, perto de Genebra.

No LHC, os protões são acelerados a velocidades vertiginosas e lançados uns contra os outros, para produzir outras partículas, que os físicos medem em detetores enormes. Foi assim que em 2012 se descobriu o famoso bosão de Higgs, um acontecimento em que estiveram envolvidos também os investigadores do LIP.

No simulador é mais fácil, e é divertido. Funciona assim: dois visitantes, de frente um para o outro, lançam os "protões" com um pontapé. Um estampido atesta a colisão e se ela foi bem sucedida, surgem num écran e no chão, as linhas luminosas correspondentes às partículas produzidas, tal como acontece nos detetores do LCH.

Foi justamente por aqui, pela física de partículas, que a aventura da internacionalização da ciência portuguesa se iniciou, há três décadas, com a adesão de Portugal ao CERN, e coube ao LIP, que hoje celebra o 30.º aniversário, dar corpo a essa colaboração internacional, que então se iniciou com uma meia dúzia de portugueses doutorados em física - entre eles, o homem que teve essa visão, na altura presidente da JNICT e depois ministro da ciência: Mariano Gago, falecido no ano passado. Para o presidente do LIP, Mário Pimenta, esta comemoração mostra sobretudo "que foi possível concretizar essa internacionalização da ciência e participar em pleno nas experiências e nos desenvolvimentos tecnológicos" que isso implicou e ainda implica.

Hoje, no LIP, entre investigadores, engenheiros e técnicos, trabalham mais de 200 pessoas, 103 das quais doutoradas, e muitos delas têm no currículo a participação nas experiências do CERN que permitiram a descoberta do famoso bosão de Higgs - o físico que teorizou a tal "partícula de Deus", o britânico Peter Higgs, foi galardoado, em 2013, com o prémio Nobel da Física.

Outro Nobel que contou com a participação dos investigadores do LIP foi o do ano passado, atribuído a Takaaki Kajita e Arthur B. McDonald pela descoberta de que os neutrinos têm massa.

O percurso rico destes 30 anos é evocado na exposição, que mostra também a evolução tecnológica dos detetores de partículas, na qual o LIP também deu um contributo, com o desenvolvimento de alguma dessa instrumentação - e de algumas aplicações no diagnóstico médico que essas tecnologias também permitiram. Mas a mostra está sobretudo voltada para o futuro e para os novos desafios que se colocam ao conhecimento nesta área complexa.

Rolf Heuer, que dirigiu o CERN nos últimos anos, estará hoje na Reitoria da Universidade de Lisboa, a partir das 17.00, para falar desses desafios e das novidades que já se desenham nas experiências que prosseguem no CERN. Por exemplo, a última temporada de colisões deu resultados cuja interpretação ainda não é clara. Uma nova partícula? Ainda não se se sabe, mas até dia 25, isso e muito mais, pode ser visto na exposição, na Reitoria. É ir.

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