Professores organizam protestos no 1.º dia de greve por tempo indeterminado
Manifestações, cordões humanos e distribuição de panfletos aos pais na porta das escolas são alguns dos protestos que os docentes implementam esta sexta-feira. Greve por tempo indeterminado pode causar constrangimentos de norte a sul do País.
Começa esta sexta-feira a greve por tempo indeterminado convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.T.O.P), que contesta as propostas de alteração aos concursos e exige respostas a problemas antigos da classe docente. A paralisação acontece numa altura em que o Ministério da Educação (ME) está em negociações com os sindicatos, que se mostram contra a maioria das propostas do ME. Em causa estão as alterações ao modelo de concurso de colocação de professores e as condições da carreira (salários, dificuldades na mudança de escalão, tempo de serviço congelado, entre outras).
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O S.T.O.P, que afirma que esta greve é "forma de luta inédita", convocou a paralisação na sequência de uma sondagem realizada no blogue ArLindo, onde milhares de professores apoiaram a realização deste protesto por tempo indeterminado. Os outros sindicatos de professores não aderiram à greve, mas convocaram uma manifestação para março de 2023, para além de vigílias um pouco por todo o país.
Expectativas de adesão elevadas
Ao DN, fontes de dezenas de agrupamentos escolares avançaram que as escolas estão a prever constrangimentos e a enviar comunicados aos encarregados de educação, indicando a possibilidade de não haver condições para abertura de portas. É o caso da Escola Clara de Resende, no Porto; o Agrupamento de Escolas de Viseu Norte; o Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital; o Agrupamento de Escolas de São Lourenço, em Valongo, agrupamentos de escolas de Beja, Lisboa, Bragança, Leiria, Viana do Castelo, Setúbal, Faro, Braga, Aveiro, entre outros.
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"Estando agendada para o dia 09/12/2022, e por tempo indeterminado, uma greve nacional de todos os trabalhadores docentes que poderá condicionar o funcionamento da escola, vimos alertar no sentido de serem tomadas algumas medidas: estar atento ao impacto da greve através da página da escola ou da comunicação social, aferir com o seu educando procedimentos de cariz preventivo, nomeadamente a possibilidade de não haver aulas ou de regressar a casa mais cedo (...)", pode ler-se no comunicado enviado aos pais pela direção do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital.
Alberto Veronesi, professor de 1.º ciclo, afirma estar confiante no que se refere ao impacto desta greve. "Estou bastante confiante relativamente à possibilidade desta greve poder ter impacto e com isso conseguir pressionar o Ministério da Educação a recuar nas suas intenções", sublinha. O docente lamenta ainda a não adesão à greve por parte de todos os sindicatos, embora esta decisão não impeça qualquer professor de aderir à greve, mesmo aqueles que não são sindicalizados.
"De referir que considero altamente desonesto o tratamento dado ao S.TO.P. por parte de todos as outras forças sindicais. Colocar a partidarite ou as quezílias pessoais à frente dos interesses de toda uma classe revela claramente falta de seriedade sindical. Para além disso, tenho conhecimento que há uma clara tentativa, por parte dos sindicatos do sistema, de desmobilizar a adesão dos docentes a esta greve", explica.
Para Alberto Veronesi, "a criação dos mapas intermunicipais e do conselho de diretores que passam a poder escolher os professores por adequação de perfil" são a mudança mais "grave" que está prevista aplicar por parte do ME. "Só não vê quem não quer que é o primeiro passo para um posterior no sentido de municipalizar, direta ou indiretamente, a colocação de docentes, criando critérios que não passem pela graduação. Aliás, como disse o próprio ministro, a graduação será o primeiro critério, mas não esclareceu se haveria outros. Juntando os níveis altos de corrupção existentes nas autarquias, parece, de facto, que nenhum professor pode estar tranquilo", sustenta.
Luís Sottomaior Braga, professor de História e especializado em gestão e administração, vê nesta greve a representação de "um sentimento profundo" que existe nas escolas: "canalizar a consciência de injustiça do comportamento dos Governos e do atual ministro num protesto forte, com significado, mas visível".
"Creio que uma greve de dias vai fazer notar junto da opinião pública as injustiças que os professores sofrem e mostrar a falta que fazemos à sociedade", afirma. O docente também destaca como "mais gravosa", "a alteração feita de forma sub-reptícia e dissimulada ao Estatuto da Carreira Docente tendo em vista diminuir ainda mais a autonomia e direitos profissionais dos professores". "Isto é feito de várias maneiras e a mais visível delas, a alteração das regras de concurso, significa injustiça no tratamento, diminuição da transparência de processos e abertura de porta a arbitrariedades e até comportamentos como compadrios na seleção de professor", conclui.
dnot@dn.pt
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