Professores anunciam greves às avaliações finais e novas paralisações por distrito

Fenprof volta a "atacar" com o anúncio de mais greves até maio e uma manifestação nacional em junho. Presidente da ANDAEP apela ao fim da "guerra total" no ensino e lembra as consequências para os alunos.
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"Estamos a viver uma guerra total sem tréguas à vista na educação. Não há uma luz ao fim do túnel que preveja o vim deste gravíssimo problema que se vive na escola pública portuguesa. Aliás, o túnel cada vez é maior e está mais difícil de vislumbrar a luz". Esta é a perspetiva da ANDAEP quanto às novas formas de luta anunciadas ontem pela Fenprof, no âmbito da última reunião negocial (a 9 de março) e terminou sem um acordo entre o Ministério da Educação (ME) e os sindicatos quanto à contratação de professores.

Em conversa com o DN, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), admite que Portugal está a viver uma situação "muito preocupante" na educação, que se pode caracterizar numa guerra "sem fim à vista".

"Neste momento assistimos a uma guerra no ensino e cada parte usa as "armas legais" mais poderosas que tem à mão. A greve, seja qual for a sua forma, é sempre uma arma poderosa que os docentes têm para usar. Já o Ministério da Educação utiliza os serviços mínimos para ripostar", explica.

Nesse sentido, Filinto Lima destaca a necessidade de terminar com o "intenso braço de ferro" que está a acontecer entre o Ministério da Educação e os professores. "O Presidente da República pediu que esta situação terminasse antes da Páscoa, o que já não deverá acontecer. Portanto, é importante que termine antes do final do ano letivo, senão pode complicar bastante a vida das escolas, aos alunos e também aos pais", afirma.

Segundo o presidente da ANDAEP, os alunos do 9.º, 11.º e 12.º ano poderão ser os mais prejudicados com as paralisações, visto que são estudantes que irão realizar exames nacionais. Assim, Filinto Lima frisa: "Na escola não se quer guerra. Queremos estabilidade e paz, e neste momento não temos nenhuma das duas".

A Federação Nacional de Professores (Fenprof) revelou as greves e manifestações que se preveem nas próximas semanas, considerando que as reivindicações dos professores ainda se encontram sem resposta da tutela.

Mário Nogueira, secretário-geral da plataforma que reúne nove sindicatos, garante que os docentes "não se vão deixar calar" e a partir de 27 de março, iniciam-se paralisações sem data de término, que desta vez implicam as avaliações finais dos alunos.

Com o objetivo de paralisar "todo o serviço extraordinário, todo o serviço imposto fora do horário de trabalho, toda a atividade atribuída no âmbito da componente não letiva de estabelecimento e as avaliações finais", os professores voltam a fazer greve, prometendo não parar até que as suas reivindicações sejam ouvidas.

Além disso, também as greves por distrito estão de regresso. A partir de 17 de abril (depois da interrupção letiva da Páscoa) e até 12 de maio, os docentes saem à rua, começando no Porto e acabando em Lisboa. Aliás, as greves não se ficam apenas pelos distritos: a plataforma vai também iniciar uma "greve ao ultimo tempo letivo diário de cada docente".

Para terminar "em grande", esta nova forma de luta promovida pela Fenprof prevê uma manifestação nacional a 6 de junho - data simbólica (06-06-23)que assinala os 6 anos, 6 meses e 23 dias que os professores reivindicam de recuperação de tempo de carreira.

"Será um dia muito importante. Haverá uma greve e esperamos que seja uma grande manifestação nacional", disse Mário Nogueira.

Os protestos dos docentes, que têm incluído várias formas de manifestações e greves, começaram em dezembro do ano passado e não têm data prevista para terminar.

Os sindicatos dos professores continuam a considerar as propostas do ministério como insuficientes, tendo agora a Fenprof pedido reuniões com "todos os partidos políticos", de forma a conseguir apoio da oposição para a luta dos professores.

Por sua vez, o ME continua a apostar nos serviços mínimos para contrariar os protestos - uma medida muito contestada pela Federação Nacional de Professores, que apresentou uma ação no Tribunal da Relação de Lisboa e uma queixa à Comissão Europeia "pelas limitações impostas ao direito à greve".

ines.dias@dn.pt

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