Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue agricultura sustentável
À quinta edição, o Prémio Gulbenkian para a Humanidade, criado para distinguir pessoas e iniciativas no combate às alterações climáticas, centrou-se na agricultura sustentável. Agraciou o investigador em ciência dos solos Rattan Lal, o projeto egípcio SEKEM e a iniciativa do estado indiano de Andhra Pradesh APCNF.
O júri, constituído por oito personalidades internacionais, analisou um número recorde de 181 candidaturas de 117 nacionalidades, tendo a sua escolha recaído em exemplos de sucesso de métodos de agricultura sustentável.
Segundo a presidente do júri, Angela Merkel, "o acesso a uma alimentação de elevada qualidade nutricional é de importância vital para todos. As alterações climáticas, e o aquecimento global que daí resulta, provocaram um aumento de fenómenos climáticos extremos e põem em perigo a segurança alimentar global. Esta situação implica um desafio adicional a todos os que se dedicam ao setor agrícola". Conclui a antiga chanceler da Alemanha: "Os vencedores deste ano demonstraram, de forma exemplar, como, na prática, os sistemas alimentares sustentáveis podem contribuir para a resiliência climática.”
Já o presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, António Feijó, realçou o facto de os distinguidos terem provado que "os modelos sustentáveis podem prosperar em ambientes desafiantes e diversos" e que "o seu trabalho demonstra os benefícios da agricultura sustentável para as comunidades e para o planeta". Afirma acreditar que "as suas histórias irão inspirar outros a implementar abordagens semelhantes noutras regiões do mundo e a construir um futuro sustentável para todos”.
Rattan Lal, de 79 anos, nasceu na então Índia britânica, hoje Paquistão. Os seus pais, agricultores hindus, foram forçados a sair do novo país e a estabelecerem-se numa região semiárida e com menos terreno. A história familiar "influenciou bastante" o seu pensamento, disse ao DN. Ao longo de uma longa carreira académica e de investigação como especialista na ciência dos solos, este professor da Universidade do Ohio, EUA, concluiu que a técnica de cobertura vegetal, as plantações de cobertura do solo e o plantio direto devolvem os nutrientes do solo. É, portanto, um defensor da agricultura regenerativa.
Em 1977, o químico egípcio Ibrahim Abouleish decidiu transformar uma região desértica do seu país num oásis agrícola, introduzindo os métodos da agricultura biodinâmica, desenvolvidos em 1924 pelo filósofo Rudolf Steiner. A regeneração dos solos são realizados com o envolvimento da comunidade local e hoje a organização por si fundada, SEKEM, produz algodão, ervas para chá, vegetais, etc., mas além disso, através da a Associação Biodinâmica Egípcia (EBDA), tem apoiado milhares de agricultores na transição de modelos agrícolas convencionais para modelos agrícolas regenerativos. É o filho de Ibrahim Abouleish, Helmy, quem está à frente do conglomerado.
Por fim, da Índia, foi distinguido o programa do estado do sudeste Andhra Pradesh APCNF, ou seja, Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming. O seu mentor é Vijay Kumar, que tem levado a cabo esta iniciativa de agricultura natural desde 2016, tendo alterado os métodos de produção agrícola de um milhão de pessoas desde então. Os pequenos agricultores são convidados a abandonar as monoculturas com recursos a químicos e a diversificarem as culturas através de técnicas como utilizar resíduos orgânicos e não lavrar a terra, além de reintroduzirem sementes autóctones.
A ativista ambiental Greta Thunberg foi a distinguida no primeiro ano do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, em 2020. Nas edições seguintes o júri premiou organizações ou mais do que uma pessoa. Em 2021, o laureado foi o Pacto Global de Autarcas para o Clima e a Energia; no ano seguinte, o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) e a Plataforma Intergovernamental Científica e Política sobre a Biodiversidade e os Serviços dos Ecossistemas (IPBES). No ano passado, o prémio conjunto coube ao líder comunitário tradicional da Indonésia Bandi “Apai Janggut”, à ativista e agrónoma dos Camarões Cécile Bibiane Ndjebet, e à ambientalista e cenógrafa brasileira Lélia Wanick Salgado.