Premiados projetos de voluntariado universitário

São os quatro projetos vencedores na edição de 2017 do prémio criado pelo Santander Totta em outras tantas categorias: Comunicação, Ideia, Projeto e Comunidade. Recebem cada um três mil euros
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Prémio Comunicação Diogo Cruz estava no ensino secundário, em 2007, quando, um dia, a sua vida pareceu desmoronar-se. Adoeceu gravemente, e o primeiro diagnóstico foi terrível: cancro do pulmão. "Depois percebeu-se que afinal era tuberculose e tive de ficar um ano em isolamento, estive muito tempo internado no hospital de Gaia", conta. Foi uma experiência dura, mas de algum modo fortaleceu-o. "Pensei que tinha de fazer qualquer coisa para ajudar as crianças e as famílias que enfrentam estas situações difíceis e que perdem a esperança." Em 2013, no segundo ano da faculdade - fez Economia na Universidade do Porto -, lançou o seu projeto, o U. Dream. "O objetivo é concretizar sonhos", explica. Sonhos como o do João, o menino autista que não consegue falar mas que escreve livros e que o que mais quer é ter voz. O projeto assim fez: a partir do livro, realizou um filme em que a voz off fala pelo João, com as suas palavras. Ou a de um outro rapaz, com cancro do fígado, que queria conhecer o Ricardo Quaresma, e conseguiu, antes de falecer. O projeto, que acompanha crianças do IPO do Porto, do Hospital de Braga e do Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, conta atualmente com 280 voluntários, envolve as universidades do Porto, Católica do Porto, de Braga e de Aveiro e vai continuar a concretizar sonhos. O valor do prémio já está destinado: serão para os sonhos de crianças de Aveiro.

Prémio Ideia Tudo começou em Moçambique, em 2009, pela mão de um grupo de estudantes de Economia da Universidade Católica. Objetivo: ajudar famílias a gerir os seus recursos, a fazer as melhores escolhas para economia familiar doméstica, a descobrir talentos escondidos para criar pequenos negócios e mais riqueza. Nascia assim o projeto MOVE, que, entretanto, se estendeu a São Tomé e a Timor. "Temos grupos de cinco voluntários durante seis meses no terreno, que são substituídos depois disso por grupos de outros cinco durante mais seis meses, assim asseguramos o acompanhamento durante o ano todo", explica Rodrigo Duarte, um dos estudantes que fizeram voluntariado em Moçambique e que, a partir de janeiro, vai coordenar o próximo passo do projeto: o Porta a Porta, nos Açores. Os jovens voluntários vão mudar-se para três comunidades carenciadas na ilha de São Miguel - Rabo de Peixe, Água de Pau e Fenais da Luz - para estar lá, a conversar sobre economia familiar, a aconselhar, a sugerir escolhas, hipóteses, caminhos. Para isso vão contribuir os três mil euros do prémio, que "além importante reconhecimento dão uma ajuda", reconhece Catarina Marques, também do MOVE. Para trás, há muito caminho andado e, desde 2009, mais de 800 novos pequenos negócios criados em Moçambique, São Tomé e Timor com a assessoria empenhada destes jovens voluntários.

Prémio Projeto O belíssimo edifício do Colégio dos Jesuítas, onde está sediada a reitoria da Universidade da Madeira, é um ícone do Funchal. Por que não organizar visitas guiadas, fazer receita e aplicá-la no apoio aos estudantes carenciados da universidade? A ideia surgiu em 2012, na associação académica, e depressa foi levada à prática. "Fizemos a proposta à universidade, foi aceite", recorda Luís Nicolau, que fez a licenciatura naquela universidade, foi membro da associação académica e hoje trabalha para a sua editora. "A ideia é valorizar o património e ao mesmo tempo ajudar os estudantes mais carenciados em várias vertentes", explica. Desde então, o projeto Herança Madeira cresceu, passou a abranger mais edifícios históricos da cidade - os Paços do Concelho, a Igreja de São João Evangelista e o Mosteiro de Santa Clara são alguns deles - e envolve hoje cerca de 80 voluntários de 11 nacionalidades, que são formados pelo projeto para fazer as visitas guiadas e uma série de outras atividades culturais relacionadas com o património, como visitas educativas, exposições ou apresentação de obras. A receita que isso gera alimenta os quatro programas de apoio aos estudantes da universidade com poucos meios, sob a forma de refeições, material de estudo ou livros. Desde que se iniciou, o projeto deu mais de 20 mil refeições. E o prémio ainda vai ajudar a formar mais voluntários.

Prémio Comunidade Tanto podem realizar um vídeo para mostrar e promover a atividade de uma ONG como a Refood, que recolhe alimentos que sobram e os distribui por quem precisa deles, como conceber o design de um logótipo para uma associação de apoio social ou criar aplicações para telemóvel cujo objetivo é facilitar a mobilidade urbana de pessoas cegas. Iniciado há cerca de ano e meio na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), o projeto Escola Inclusiva é isso mesmo: a escola virada para a comunidade, para os seus problemas e necessidades. "Quisemos envolver a comunidade na resolução dos seus próprios problemas, dando o nosso contributo académico, o nosso conhecimento", explica Joana Santos, a diretora da ESTG. O Escola Inclusiva conta com cerca de 180 voluntários, entre alunos e professores. "Este é um projeto multidisciplinar, que envolve as várias licenciaturas e áreas de conhecimento da escola", assegura a sua diretora, explicando que "agora, passado ano e meio, já são as pessoas, as organizações e as empresas que nos procuram, já vêm ter connosco para apresentar os seus problemas e buscar colaboração". A verba do prémio, de três mil euros, tal como os outros, "será para investir no projeto", assegura Joana Santos, nomeadamente para "adquirir algum equipamento".

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