A preocupação sobre o futuro turístico no Centro do país cresce também no Turismo da região, como reconhece o seu presidente. Pedro Machado considera que as repercussões da seca no setor primário são, em si mesmo, "um grande problema para o turismo; desde logo para a gastronomia, mas também estamos a pensar nos vinhos, para toda a questão económica que está relacionada com o setor primário, onde a água é vital para garantir as atividades de animação turística"..De resto, o presidente da Entidade Regional do Turismo do Centro adianta que "temos já algumas das infraestruturas naquilo que chamamos "doca seca", face ao que estamos habituados a ver". Aponta o caso de Figueiró dos Vinhos, mas frisando que todo o Pinhal Interior começa a dar sinais preocupantes nas praias fluviais. "Toda aquela região depende muito, em plano de água, da animação nas albufeiras. E se deixarmos de ter água, se estiver concentrada apenas no consumo humano, iremos ter uma diminuição grande das praias fluviais", adverte Pedro Machado..O responsável do Turismo do Centro sublinha que, por ora, está preocupado em "sinalizar a situação, porque mais importante é a satisfação das necessidades básicas, o consumo humano". Mas lembra que é preciso olhar para o que está a acontecer e para o futuro: "Tem de estar ligado a modelos de reaproveitamento do que é o ciclo da água, que no âmbito do PRR o pudéssemos inscrever, que esta fosse uma prioridade do governo português, e não apenas a transição digital e as questões relacionadas com as alterações climáticas.".Victor Gomes recorda que "há muita gente que depende do rio para viver, da nascente à foz. "A maioria são até pessoas com alguma idade, que têm o seu barquito de madeira e estão habituadas a lançar as redes e a vender o seu peixe." Como o achigã que se servia no restaurante do Parque de Campismo da Foz de Alge, agora de portas fechadas, até que a Câmara de Figueiró dos Vinhos decida qual das quatro propostas a concurso é a melhor para continuar naquela infraestrutura. No dia em que o DN percorreu a ribeira de Alge e as margens do Zêzere, uma equipa da autarquia dedicava-se à limpeza dos ramos e galhos das árvores que circundam o parque, na foz de Alge. Junto ao Clube Náutico, os barcos permanecem ancorados, à espera que o caudal permita navegar. Os restantes desportos náuticos também esperam por melhores dias. Tal como Victor, que é o último otimista: "Talvez eu seja a única pessoa que gosta do rio vazio. Quando era pequeno, assisti ao que se está a passar duas ou três vezes. Aliás, eu acredito que o rio ainda vai descer mais. Mas também lhe posso dizer que se o parque estivesse aberto, nestes dias recebi mais de 50 chamadas de pessoas que queriam reservar bungalows. Porque se gerou uma curiosidade tremenda à volta disto. E sim, pode ser uma oportunidade de ver o rio assim, que tão cedo não volta a repetir-se.".Por estes dias, o único ponto de atração "turística" é mesmo o leito do rio, que quase dá para atravessar a pé. A seca deixou a descoberto as ruínas da Fundição de Ferro da Foz de Alge, que se tornou uma das mais fotografadas da região..dnot@dn.pt