"Portugal vive situação endémica. Imunidade 'híbrida' mantém valores controlados"
Este será o Natal mais tranquilo dos dois últimos anos, mesmo as últimas sub-variantes da Ómicron, agora dominantes em Portugal, nomeadamente a BQ.1 e a BQ.1.1, que derivaram da BA.2 e BA.5, não estão a causar preocupação. Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, que integra a equipa que desde o início da pandemia faz a modelação da doença, diz mesmo que "a manterem-se estes valores a situação está controlada, apesar do Inverno e do Natal".
Aliás, sublinha, "pode mesmo dizer-se que o país está a entrar numa situação endémica". Por agora, "não há qualquer tendência de que se a situação possa vir a agravar-se". A não ser, ressalva, "que apareça alguma variante completamente diferente das que circulam agora, com um grau de perigosidade mais elevado e diferente das que têm surgido da linhagem da variante Ómicron", detetada precisamente há cerca de um ano na África do Sul.
De acordo com o analista de dados, que continua a monitorizar a doença através da mortalidade e dos internamentos, já que desde setembro se abandonou a testagem massiva, o país está a registar uma média de dez óbitos diários e uma média de 13 por 100 mil habitantes a 14 dias. Ou seja, valores que estão bem abaixo dos valores de referência, nomeadamente de 20 óbitos por 100 mil habitantes.
"A situação continua controlada, apesar do inverno e do Natal, porque temos tido situações de convivência em espaços fechados, maior afluência de pessoas às compras e nos transportes, e tal não se traduziu num aumento significativo ou relevante em termos de óbitos ou de internamentos em cuidados intensivos. Portanto, não me parece que o Natal vá causar algum problema, a não ser que, e como já disse, surja uma outra variante de maior perigosidade", refere o professor.
Há um ano o cenário era bem diferente, com os especialistas a alertarem, mais uma vez, para o aumento de casos a seguir à época natalícia e com o país já a registar milhares de casos nesta fase. Agora, "os valores estão estáveis. Houve uma ligeira subida da mortalidade, mas penso que é consequência do período de inverno que vivemos, porque foi sentida nas faixas etárias associadas a mais morbilidade, mesmo assim são valores que estão abaixo dos valores de referência não traduzindo qualquer alarme ou situação anormal".
Neste momento, e em termos de internamentos em cuidados intensivos, Carlos Antunes refere que estes estabilizaram nos 43, sendo este o número máximo dos últimos tempos, embora apenas 17% do valor referência que é de 255 internamentos por 100 mil habitantes. O professor de Ciências explica que, apesar de a adesão às doses de reforço não estar a ser idêntica à das primeiras vacinas, existe já na população o que se pode chamar de "imunidade híbrida", alcançada entre a imunidade pela vacinação e pela doença, que está a funcionar como barreira ao aumento de situações graves. "Digamos que as defesas e a imunidade adquirida, por vacinação ou infeção, estão a ser uma barreira de proteção, mantendo uma situação de normalidade", referiu.
Mas esta é a situação que se vive também um pouco pelo resto da Europa, mesmo nos países da Europa Central, que tiveram um aumento de casos em outubro e reforçaram as medidas, como o uso de máscara em transportes públicos e em espaços fechados, os casos também estão controlados.
Para Carlos Antunes, o único país a nível mundial que faz a monitorização de casos e que apresenta alguma preocupação é o Japão, porque "continua a apresentar valores elevados de infeção e de mortalidade. Neste momento, está com uma média de 200 óbitos diários, o que quer dizer que triplicou o número de óbitos desde o início do ano, começou com 18 mil e já vai nos 53 mil. É dos países que podemos considerar que ainda está numa situação de epidemia. Todos os outros, nomeadamente na Europa, já podemos considerar que se vive quase uma endemia".
De qualquer forma, é bom ter sempre presente, sobretudo as pessoas que convivem com outras que têm comorbilidades, a perceção do risco e manter cuidados de proteção individual. Os dados revelados pela própria DGS até esta última segunda-feira, em que registaram apenas 225 casos e oito óbitos.