Portugal recua cinco anos na taxa de natalidade. E morreram muitos mais
Nasceram 84 296 bebés em Portugal no ano passado, menos 2283 do que em 2019. Significa uma diminuição de 2,6% num ano, o que representa uma grande quebra na taxa de natalidade. Portugal tem, agora, um número de nascimentos inferiores a 2015, segundo os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados nesta terça-feira.
Estes indicam o número de crianças que constam nas conservatórias do Registo Civil. Em 2015, registaram-se 85 500 crianças, marcando o início da recuperação na taxa de natalidade, que tinha decrescido bastante devido à crise económica de 2010-2014. O país bateu no fundo em 2014, com 82367 nascimentos.
Iniciada a recuperação económica, há cinco anos, o país começou recuperar a nível da natalidade, com ligeiras variações de ano para ano. Mas em 2020 o país retrocede nessa evolução positiva.
Se é já o efeito negativo da pandemia, ainda há pouca informação para se tirar conclusões. No entanto, os primeiros indicadores apontam nesse sentido. A diminuição de 2283 nascimentos em 2020, comparativamente com 2019, só se registou a partir da segunda metade do ano, com exceção do mês de fevereiro, mas 2020 foi ano bissexto (fevereiro teve mais um dia). E dezembro, mês em que potencialmente nasceram as primeiras crianças da pandemia, teve a maior quebra no número de nados-vivos: menos 702, ou seja, menos 10,1% do que no mês homólogo de 2019.
Já em 2021, o número de testes do pezinho - o rastreio de doenças realizado entre o terceiro e o sexto dia da criança - indica novas quebras. O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge realizou 11 246 rastreios neonatais em janeiro e fevereiro, menos 2694 (menos 19,1%) que nos mesmos meses de 2020.
O adiamento da decisão de ter um filho também se verifica nos emigrantes. Estão registadas 262 crianças fora de Portugal em 2020, quando eram 447 em 2019.
Num ano em que os nascimentos registam uma grande diminuição, assistiu-se a mais 10,2% de óbitos. Morreram 123 152 pessoas em 2020, mais 11 359 óbitos do que em 2019, o que agravou o saldo natural da população portuguesa.
"No contexto da pandemia de covid-19, o aumento do número de óbitos, assim como o decréscimo do número de nados-vivos, determinaram um forte agravamento do saldo natural (-38 856). Há 12 anos que o saldo natural é negativo", sublinha o INE.
Analisando o número de óbitos por meses, verifica-se que março, abril, novembro e dezembro registaram mais de dez mil óbitos cada. O maior volume de óbitos foi em dezembro: 12 951.
Portugal está a perder população, uma vez que são muito mais as mortes do que os nascimentos. Em anos anteriores, quem tem compensado este défice são os imigrantes, que voltaram a escolher Portugal passada a crise económica. O INE ainda não publicou os dados do movimento de pessoas transfronteiriço, pois são muitas as restrições devido à pandemia. E, por outro lado, a covid-19 agravou a atividade económica portuguesa.
Em 2019, a população residente foi estimada em 10 295 909 pessoas, mais 19 292 habitantes relativamente a 2018, após nove anos de decréscimo populacional., o que se deveu à imigração. A previsão é que volte a decrescer.
Estima-se que em 2019 tenham entrado em Portugal 72 725 imigrantes permanentes, mais 68,5% do que em 2018 (43 170). Em contrapartida, saíram apenas 28 219 emigrantes permanentes, menos 10,7% do que em 2018 (31 600). O saldo migratório foi positivo pelo terceiro ano consecutivo (4886 em 2017, 11 570 em 2018 e 44 506 em 2019) e compensou o decréscimo no saldo natural.