Seis meses depois da denúncia do massacre de centenas de civis em Wiriamu - na região de Tete, Moçambique -, o regime ensaiava uma campanha internacional para acusar os “terroristas” da Frelimo de massacrarem os habitantes da aldeia de Nhacambo, também em Tete. Segundo as notícias oficiais, confirmadas pela Cruz Vermelha Internacional, o ataque à aldeia provocou 17 mortos e 31 feridos.
Os últimos anos de guerra em Moçambique ficaram marcados pelo general Kaúlza de Arriaga, um dos ‘falcões’ do regime. Embarcou para Moçambique, despachado por Marcello Caetano, que o queria longe, convencido de que iria acabar com a guerra - vencendo-a! Gabava-se de ser em todo o mundo o segundo militar mais entendido em guerra de guerrilha. Concedia em pôr acima dele o general Giap - que derrotara os franceses na Indochina e havia de vencer os americanos no Vietname. Viu-se a competência de Kaúlza.
Quando chegou a Moçambique, a guerra decorria com baixa intensidade, praticamente confinada ao Norte. Ao terminar o mandato de comandante-chefe, em julho de 1971, o general não deixou saudades: a guerra chegara ao paralelo da cidade da Beira e a zona de Tete já era um inferno. A tática de Kaúlza falhou. A Operação Nó Górdio - a maior e mais prolongada ação militar da Guerra Colonial - veio a revelar-se um disparate: Kaúlza queria aniquilar a guerrilha na região dos macondes, mas os guerrilheiros furtaram-se magistralmente ao combate. As tropas portuguesas atacaram três bases desertas.
O que mais incomodou o governo chefiado por Marcello Caetano não foram as táticas de Kaúlza, mas o massacre de Wiriamu, perpetrado por tropas comando, em dezembro de 1972, e que o comandante-chefe negou à exaustão que tivesse acontecido. Até que o presidente do Conselho desembarcou em Londres, em 16 de julho de 1973, para uma visita oficial de três dias. Nesse mesmo dia, o jornal The Times denunciou o massacre com testemunhos dos Missionários de Bruges.
Kaúlza queria continuar em Moçambique, mas Marcello Caetano não lhe renovou a comissão. Escreveu-lhe: “(...) reconheço a vantagem para si, para Moçambique, para todos nós em outra pessoa rever os conceitos e as táticas da ação antissubversiva em Moçambique.”