Pornografia e stress fazem diminuir relações sexuais
Um estudo realizado nos Estados Unidos revelou que os norte-americanos tinham menos nove relações sexuais por ano em 2010 do que no final da década de 1990. Diz a investigação publicada na revista Archives of Sexual Behavior que passaram de 62 para 53. Uma tendência que é comum a outros países. Em 2013, um outro trabalho tinha revelado que os britânicos entre os 16 e os 44 anos tinham cinco vezes relações sexuais por mês, quando em 2000 eram seis vezes. O mesmo se passa na Austrália, onde em 2014 os heterossexuais tinham relações sexuais 1,4 vezes por semana, mas dez anos antes a média era de 1,8 vezes. Como será em Portugal?
Ana Alexandre Carvalheira, professora e investigadora do ISPA - Instituto Universitário, desconhece a existência de estudos sobre a frequência da atividade sexual dos portugueses, mas diz que, do que observa na sua prática clínica, "no consultório temos muitas mulheres e homens com queixas de diminuição de desejo". O que é surpreendente é que "são homens jovens, entre os 30 e os 40 anos, com desinteresse sexual, o que leva a uma diminuição da atividade sexual".
Embora não tenha dados sobre a atividade sexual dos portugueses, a psicóloga coordenou um estudo, que envolveu Portugal, a Noruega e a Croácia, sobre o interesse sexual masculino, segundo o qual a falta de desejo sexual afeta pelo menos 10,5% da população masculina nacional. Uma percentagem elevada, mas que fica abaixo de outros dois países. O grupo mais afetado é, segundo a investigação, o dos homens entre os 30 e os 39 anos. Segundo a também sexóloga, o stress profissional e o cansaço são os fatores que mais interferem no desejo sexual dos homens em Portugal. "Entre os 30 e os 40, há a ascensão na carreira profissional, casamento, nascimento de filhos, conflitos e divórcios. Tudo isto diminui o desejo de homens e mulheres", justifica.
Falta disponibilidade para o sexo
Os estilos de vida atuais estão a refletir-se no sexo. "Vivemos num contexto social de enorme exigência de realização a todos os níveis. Sentimo-nos pressionados para a realização a nível profissional, social e cultural, e também amoroso e sexual. Quem não tem uma vida sexual satisfatória facilmente se sente miserável. Hoje, mais do que nunca, o amor é difícil, manter as relações e ter disponibilidade para o sexo também." O imediatismo que marca a atualidade "é contra a disponibilidade que é precisa para o sexo, para manter o desejo sexual, sobretudo em relações longas".
[destaque:Investigadora diz que o contexto social atual é de enorme exigência e deixa pouca disponibilidade para as relações sexuais]
As redes sociais e a pornografia também têm vindo a ser associadas à diminuição da frequência das relações sexuais. No estudo que coordenou, "a amostra de homens que não tinham desejo sexual apresentava uma prevalência de masturbação e de consumo de pornografia elevadíssima". Este é, segundo a investigadora, "um fenómeno que está a acontecer cada vez mais, sobretudo nos homens, embora as mulheres também consumam pornografia".
Trata-se de um "padrão de sexualidade individual, de sexo a solo, associado ao consumo de material pornográfico". Quando se instala este padrão, o homem deixa de se interessar pela parceira. "Há uma descarga da tensão sexual através da masturbação. É uma coisa rápida, fácil e sem investimento." No consultório, Ana Carvalheira seguiu dois homens, com cerca de 30 anos, quadros diretivos de empresas, que "a meio do dia iam à casa de banho com os smartphones procurar um conteúdo pornográfico específico para se masturbarem". Isto funciona como "um escape, uma descarga para aliviar o stress".