Pneumoscópio vai ajudar a controlar a pneumonia e a meningite
É uma ferramenta de representação geoespacial que permite mapear o número de internamentos e mortalidade por pneumonia ou meningite em Portugal Continental. Suportado pela Pfizer, o Pneumoscópio está disponível a partir desta segunda-feira e assume-se como um importante contributo para que investigadores, profissionais de saúde e decisores "possam ter em conta o perfil de ambas as patologias, permitindo-lhes integrar um maior conhecimento e delinear de forma fundamentada estratégias de prevenção e atuação".
Rui Cortes, licenciado em Marketing e doutorando na Escola Nacional de Saúde Pública, é o coordenador deste projeto que tornará acessível ao cidadão comum os números da pneumonia e da meningite em Portugal, referentes aos últimos anos. "A ideia é que sirvam para a sensibilização do público, de uma maneira geral, e que tenham depois outra informação mais fina e mais desagregada de acesso restrito a profissionais de saúde, a trabalhos de informação académica, entre outros."
No Pneumoscópio estarão dados diversos como os óbitos - respeitando a confidencialidade de dados, ou seja, só pode ser desagregada a informação até a um nível que não coloque em risco a identificação de ninguém. Os dados passam a estar disponíveis por concelho, agregados aos centros de saúde, por cada Administração Regional de Saúde, relativos ao território de Portugal Continental.
No caso dos óbitos por pneumonia passam a estar disponíveis os dados a partir de 2014 e até 2018; já no que respeita aos internamentos os dados correspondem aos anos 2014-2016. "A vantagem destas ferramentas online é que são facilmente atualizáveis, o que faz delas quase um órgão vivo", sublinha Rui Cortes. "Em vez de se fazer um relatório, documentando tudo, aqui congrega-se a informação à medida que vais sendo libertada pelas diversas entidades", explica.
O maior trabalho coube à comissão científica, que definiu que informação e que indicadores é que eram importantes incluir. Posteriormente foram pedidos os dados à Direção-Geral da Saúde (DGS) e à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), ao mesmo tempo que eram cruzados os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Rui Cortes acredita que, se não fosse em tempo de pandemia, um projeto destes conseguiria pôr-se de pé em cerca de nove meses. Mas a covid-19 tem assoberbado os serviços e por isso demorou mais a concretizar.
Rui Cortes acredita que será possível usar uma ferramenta como esta noutras áreas da saúde, permitindo uma sensibilização para outras doenças. Por outro lado, irá também permitir "estratégias locais mais direcionadas".
Um dos elementos que ainda não estão na ferramenta é o chamado ICPC2 - os registos de informação através do médico de família, que permitem cruzar dados como diabetes, hipertensão, obesidade, insuficiência cardíaca, que, sendo fatores de risco, deixarão "correlacionar os internamentos e os óbitos, concelho a concelho". "Isso no futuro será claramente um fator de prevenção ou de resposta em cada uma das doenças", enfatiza Rui Cortes. "Sabemos que as áreas cardiovasculares têm sempre uma correlação com a pneumonia, e sabendo que aquela zona geográfica tem uma maior prevalência de determinados fatores de risco, isso pode ajudar a uma resposta diferenciada", acrescenta.
A empresa Lean Health - que trabalha na área da saúde - fez a sistematização da informação, usando uma ferramenta de georreferenciação que existe - e que é usada noutras áreas, por exemplo no que respeita aos dados sobre a covid-19, por concelhos.
"A nossa componente foi recolher os dados por cada uma das patologias, analisá-los e colocá-los de forma visual. A ferramenta é ainda pouco utilizada (tanto em Portugal como noutros países) e quando acontece é em análises mais macro, na comparação entre países e entre continentes", explicou ao DN o coordenador do projeto. "Com o Pneumoscópio, passará a ter uma utilização local. Assim será facilmente extrapolável para outras patologias", acrescenta.
Rui Cortes realça ainda o trabalho conjunto de várias áreas de saber, que incluem a ciência, a medicina, mas também a engenharia geográfica. Em conjunto, todos contribuíram para tornar possível este projeto.
Para assegurar a valência, a independência e a eficiência do projeto, foi nomeada uma comissão científica que inclui diversas especialidades da medicina: Carlos Rabaçal (Hospital de Vila Franca de Xira), Davide Carvalho (Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo), Filipe Froes (Sociedade Portuguesa de Pneumologia), Isabel Saraiva (Movimento Doentes pela Vacinação), Jaime Pina (Fundação Portuguesa do Pulmão), Rui Costa ( Grupo de Doenças Respiratórias) e Ricardo Mexia (Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública). Este último afirmou ao DN o entusiasmo com esta nova ferramenta, que "permite mapear a doença de forma bastante visual e intuitiva".
"É o que nos vai permitir ter uma impressão mais clara do perfil da população, se há pontos em que seja necessário intervir de forma mais veemente. É também um instrumento de planeamento para prevenir algumas destas doenças", acrescenta Ricardo Mexia, certo de que essa capacidade de análise, também de uma forma muito visual, permitirá à comunidade médica e científica "ser mais precisa nas respostas que damos a alguns destes problemas de saúde". De resto, o médico sublinha que esta ferramenta existiria "independentemente da pandemia, mas neste contexto tem um valor acrescentado, sabendo que as outras doenças não foram alvo de um seguimento tão rigoroso como todos gostaríamos". E por isso mesmo considera que "um dos passos a ser ponderados pode ser um instrumento como este para outras doenças".
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