PJ detém cinco pessoas por alegados crimes de rapto e de roubo em Viseu
Cinco pessoas foram detidas pela alegada autoria de crimes de rapto e de roubo sobre um intermediário financeiro de 42 anos, que terão ocorrido na semana passada em Viseu, revelou esta quinta-feira a Policia Judiciária (PJ).
Em comunicado, a PJ esclareceu que a detenção de quatro homens e uma mulher foi realizada pela Diretoria do Centro, depois de alegadamente terem raptado e roubado um homem, "com a finalidade de lhe serem cobrados dividendos de produtos financeiras no valor de vários milhões de dólares americanos, a que investidores teriam direito".
"Os agressores deslocaram-se a Portugal com o propósito de abordar a vítima, um intermediário financeiro, que, alegadamente, seria detentor de códigos e senhas que permitiam o resgate desses dividendos junto de instituições financeiras internacionais".
De acordo com a PJ, os factos tiveram início no dia 19 de fevereiro, quando a vítima chegou à sua residência e os suspeitos, com recurso ao uso da força, obrigaram-na a revelar códigos e senhas dos documentos financeiros que, na verdade, eram falsos.
"Mediante coação e violência, a vítima prontificou-se a entregar ao grupo um dispositivo digital, guardado num cofre bancário em Viseu, no qual alegadamente possuía milhares de 'bitcoins', e prometeu transferir as elevadas quantias, como contrapartida ao prejuízo causado".
Sob controlo do grupo, o intermediário financeiro foi obrigado a ir ao banco, no dia 20 de fevereiro, onde recuperou o referido dispositivo.
Alegando dificuldades informáticas, que não lhe permitiam aceder às 'bitcoins', disse ter de regressar ao banco, onde possuía outro dispositivo que desbloquearia o primeiro.
"Já no banco, pediu ajuda aos funcionários para alertarem a PSP que, ao deslocar efetivos para o local, permitiu a libertação da vítima com a fuga dos suspeitos".
Durante a madrugada de 21 de fevereiro, com a colaboração com a Diretoria do Norte, quatro dos suspeitos foram localizados no Porto, "preparando-se um deles para abandonar o país".
Na ocasião, foram encontrados na sua posse pertences roubados à vítima, nomeadamente cartões bancários que permitem o acesso a um conjunto alargado de contas e aplicações financeiras.
Os quatro homens, todos estrangeiros, com idades compreendidas entre os 27 e os 46 anos, foram detidos e presentes a Tribunal para primeiro interrogatório judicial, sendo-lhes aplicada a medida de coação de prisão preventiva.
Já a mulher, uma empresária de nacionalidade portuguesa que também integrava o grupo de agressores, foi detida na quarta-feira.
Em conferência de imprensa, a PJ detalhou mais pormenores sobre este caso, revelando que os detidos deverão pertencer a uma célula de executantes, continuando a investigação à procura dos mandantes.
"A investigação vai ter de prosseguir, porque temos de perceber se existem mais suspeitos nesta matéria, designadamente mandantes. Acreditamos que esta é uma célula de executantes, considerando os conhecimentos que já conseguimos obter deles, dos quatro estrangeiros e da própria mulher", revelou o diretor da Polícia Judiciária (PJ) do Centro.
Numa conferência de imprensa que decorreu ao final da manhã de hoje, em Coimbra, Avelino Lima explicou que o grupo de estrangeiros - um sul-americano e três europeus de países distintos e não comunitários - deslocaram-se a Portugal exclusivamente para "raptar a vítima e conseguir extrair proveitos financeiros a que tinha acesso".
Já a função da mulher portuguesa era de articulação com os quatro primeiros detidos.
"Certamente também haverá mandantes, ou seja, partes interessadas, porque aquilo que era o objetivo desta organização, que veio cá fazer este crime extremamente grave, é recolher fundos de elevados valores. Temos de perceber quem são os mandantes deste acontecimento", sustentou.
De acordo com o diretor da PJ do Centro, os detidos pretendiam roubar "valores muito elevados, na ordem dos milhões, seja com ativos financeiros, seja em moeda virtual, seja fundos".
"Estamos a falar de uma quantidade enormíssima, que temos de perceber qual é a real dimensão e, acima de tudo, qual é a sua origem: de que fundos é que estamos a falar", referiu.
À vítima de 42 anos, residente na zona de Viseu, "foi exigido a devolução de fundos", essencialmente virtuais de moeda americana, que terão regras próprias para serem movimentados e "provavelmente podem ter sido esses desacordos que sujeitaram a esta intervenção musculada e criminosa deste grupo".
"Falamos de algo muito incomum entre nós, não temos muito registo histórico deste tipo de acontecimentos: deslocar-se um grupo a território nacional para esta missão criminosa e, da forma como o fizeram, denotam uma capacidade pouco corrente em território nacional", indicou.
Avelino Lima disse não ter dúvidas de que se trata de crime organizado, pela forma como foi feito, pelo conhecimento que tinham de como atuar, mas também pela velocidade com que tentaram fugir às autoridades.
O sequestro ocorreu no final do dia 19, com o intermediário financeiro a ser raptado quando chegava à sua residência, na zona de Viseu, tendo depois sido conduzido para um hotel na cidade de Viseu, onde "esteve sob coação e violência" até ao dia seguinte, em que se deslocou a uma instituição bancária e conseguiu alertar os funcionários, que chamaram a PSP.
"A vítima sofreu ofensas à integridade física que não foram incapacitantes, mas com elevada coação. Queremos crer que, se não tivesse corrido como correu, provavelmente as coisas poderiam correr bem pior para a vítima", evidenciou.
Aos jornalistas, o diretor da PJ do Centro afirmou que a investigação decorre com a colaboração de autoridades policiais internacionais e que já foi possível apurar que o homem sul-americano "já tem um histórico de acontecimentos no país dele de origem".
Sobre os europeus, que são de nacionalidades não comunitárias, também estão associados a crimes violentos e com um longo histórico.
Às cinco pessoas foi decretada a medida de coação de prisão preventiva, depois de primeiro interrogatório judicial.