Assinala-se esta quinta-feira o Dia Mundial da Diabetes. Qual é o estado da doença em Portugal? Quantos doentes existem e quais os fatores de risco?Neste momento, os dados epidemiológicos mostram que a prevalência estimada na população adulta portuguesa é por volta dos 14,1%. Ou seja: temos cerca de 1,1 milhões de portugueses na idade adulta, entre os 20 e os 79 anos, com diabetes. Também sabemos que o envelhecimento da população portuguesa tem contribuído muito para este aumento, mas também o aumento da prevalência da obesidade tem impactado bastante nestes números. Estamos a falar aqui, sobretudo, da diabetes mellitus tipo 2. Cerca de 90% dos doentes com diabetes estão intimamente associados à obesidade. Depois temos um outro problema: quando se viu esta taxa, destes tais 14,1% de diabéticos, cerca de 44% ainda não tinha sido diagnosticado. Ou seja: temos de fazer mais diagnóstico, temos de fazer mais rastreios da diabetes e, sobretudo, temos de fazer um diagnóstico mais precoce. Acho que também valia a pena ver já os doentes que têm, por exemplo, pré-diabetes. Sabemos que, neste momento, devemos ter à volta de 28,6% de pessoas com pré-diabetes, ou seja, 2,2 milhões de portugueses. Se tratássemos estes doentes mais precocemente, acabariam por não ter complicações. Mas mesmo na faixa da pré-diabetes, já podemos ter complicações associadas à doença..Falou na questão da obesidade e também dos fatores associados. O perfil destes doentes mudou ou não? São pessoas mais jovens?É verdade. Se há uns anos, dizíamos que a diabetes tipo 2 era a diabetes do adulto, porque, muitas vezes, afetava pessoas com mais de 40 anos, isto agora não é verdade. Temos crianças que já podem ter a diabetes tipo 2. Como disse, está intimamente relacionada com a obesidade, sobretudo com a obesidade visceral. E dado que a taxa de obesidade tem aumentado mesmo na infância e na adolescência, podemos ter já crianças com diabetes tipo 2. Isto não é o retrato maior, mas cada vez temos pessoas mais jovens, a partir dos 18 anos, que podem ter diabetes tipo 2. Também é verdade que à medida que a idade aumenta, aumenta a probabilidade de as pessoas terem diabetes. E os fatores que concorrem são, obviamente, o excesso de peso, o envelhecimento da população, os seus hábitos alimentares e também o sedentarismo. Tudo isto são fatores que podem estar a contribuir para o aumento da diabetes..O caminho para a prevenção faz-se, então, com mais rastreios?O caminho ideal para a prevenção seria: se prevenirmos também a obesidade, também estamos a prevenir a diabetes. Penso que a prevenção tem de começar logo muito cedo, ou seja, com campanhas de modificação dos comportamentos, hábitos de vida saudáveis, antes de qualquer doença se ter instalado. As campanhas de literacia em saúde devem começar muito mais cedo, com campanhas agressivas sobre o que é alimentação saudável e também sobre o que é a promoção da atividade física. Isto antes de ter aparecido a doença. Porque depois de termos já o excesso de peso, depois da obesidade estar instalada, depois da diabetes estar instalada, não estamos a falar de prevenção. E nós temos de proporcionar aos doentes o melhor tratamento possível..Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e Diabetes..Ontem (terça-feira), a Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, anunciou que, a partir de 2025, vão ser feitas dispensas de bombas de insulina automáticas nas farmácias, com os doentes com diabetes a poderem escolher o modelo. Quantas pessoas as utilizam e qual é a posição da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia em relação a esta medida?As bombas infusoras de insulina são um tratamento ótimo para os doentes com diabetes tipo 1. Apesar de tudo, em Portugal, o número de pessoas que fazem terapêutica com bombas infusoras ainda é relativamente baixo. Acho que tem de haver mais, se as pessoas o quiserem. Também é verdade que, para terem acesso a estas bombas, também tem de haver acesso a consultas multidisciplinares. Não temos muitos dados de como é que vai funcionar este circuito, mas se for para facilitar a vida das pessoas, isto é, para terem a bomba ou para a adquirirem e depois voltarem aos centros de tratamento de diabetes onde tenham a sua equipa multidisciplinar que os trate, eu acho bem. Resumindo: se for uma medida, na prática, para facilitar a vida e para aumentar o número de pessoas com acesso às bombas, parece-nos muito bem. Mas não temos ainda muitos dados. Não sabemos como este circuito vai funcionar. Se funcionar bem, parece-nos excelente, porque o que queremos é que as pessoas decidam qual o tratamento que querem fazer e, se elas quiserem usar estas novas bombas infusoras de insulina, que facilitam o seu controlo e a sua vida, parece-nos muito bem. Mas, lá está, não percebemos ainda como o modelo vai funcionar por não haver dados.