Pai das crianças foi o primeiro a pedir ajuda à APAV
Nélson Ramos, o pai das meninas que morreram no mar de Caxias, foi o primeiro a pedir assistência à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Primeiro por telefone e depois presencialmente, para reclamar do comportamento da mãe e das dificuldades em conviver com as filhas. Posteriormente, Sónia Lima queixou-se do ex-companheiro por violência doméstica. Os técnicos da associação confirmam os dois processos e que decorreram em separado, até porque "as denúncias são diferentes".
Daniel Cotrim, assessor da direção da APAV, escusa-se no dever da confidencialidade para omitir os motivos das queixas do pai. Apenas refere que foram diferentes dos da mãe, que acabou por denunciar o companheiro à PSP. Sónia Lima acusou-o de violência doméstica e o seu caso foi considerado de "risco elevado". Também referiu abusos sexuais e que foram investigados pela PJ, na sequência de um inquérito do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa-Oeste (secção de Sintra).
"Ele [Nélson] teve um tratamento idêntico ao de qualquer vítima e de acordo com o que nos foi solicitado. A esposa esteve cá depois e solicitou outro tipo de apoio", disse Daniel Cotrim. Explicou que não ligaram um caso ao outro: "Os processos são confidenciais e, mesmo quando sabemos que são da mesma família, são tratados por técnicos diferentes. Neste caso, não havia relação entre o tipo de queixas para que estabelecêssemos uma ligação entre os dois".
Ambas as participações foram após a separação do casal, que viveu em união de facto até ao início de novembro e desde que Sónia engravidou de Samira, de três anos. Terá sido a mulher a pôr o homem fora de casa e com queixas de violência. Nélson foi ouvido em janeiro no âmbito deste processo.
Rui Maurício, o seu advogado, disse ao DN que pensa estar-se perante uma "situação de alienação parental" (acusações para afastar o pai das filhas) e que a mãe gerava "instabilidade" na família.
E o Nélson escreveu num comunicado: "Desde a minha separação que procurei ser um pai presente e não faltar com nada às minhas filhas. Procurei-as e, sempre que me foi permitido, visitei-as. Pedi auxílio às instituições APAV e CPCJ [Comissão de Proteção de Crianças e Jovens] e Tribunal de Família e Menores (CPCJ) [Amadora] que não quiseram ouvir-me, pessoalmente ou através dos meus advogados."
A presidente da CPCJ de Amadora, Joana Fonseca, não recebeu pessoalmente Nélson Ramos e o advogado, mas terá sido "ouvido como qualquer pessoa que recorre à Comissão". Neste caso, "havia a suspeita de abusos sexuais e fez-se a sinalização para o Ministério Público (MP), não podíamos intervir", sublinha. O pai apresentou-se em dezembro e diz ele que foi quando teve conhecimento que havia um processo de proteção das crianças, cuja abertura foi requerida pelo MP no dia 2 desse mês.
Autópsia indica afogamento
Ontem, a TVI entrevistou o taxista que alertou as autoridades para a tragédia, quando parou o carro na marginal em frente à praia da Giribita, Caxias, e viu um carro mal estacionado. Ouviu gritos. "E espreitei lá para baixo, vejo dentro de um buraco de água um vulto ou dois, aos gritos", contou. Pediu socorro ao 112 e a quem passava, acabando por prestar socorro sozinho.
Quando lá chegou, apenas viu uma pessoa e que "estava a ir-se embora", a "perder os sentidos", " quase a morrer" e a dizer: " As minhas filhas , as minhas filhas...) "Salve-as." E diz que as autoridades tardaram em chegar.
Refira-se que o comandante Malaquias Domingues, da Capitania do Porto de Lisboa, disse ao DN que receberam o alerta às 21.05 e estavam na praia dez minutos depois. Uma hora depois, encontraram o corpo do bebé, Viviane de 19 meses, cuja autópsia, apurou o DN, indicou que terá morrido por afogamento. As buscas do corpo de Samira continuam até domingo.
Com Rute Coelho