Pacto Climático Europeu quer mais ligações entre ciclovias da AML e transportes públicos
Sara Matos / Global Imagens

Pacto Climático Europeu quer mais ligações entre ciclovias da AML e transportes públicos

É defendida uma "maior integração das bicicletas no sistema de transportes intermodal da AML", assim como a criação de "mais ligações aos comboios, metro e autocarros com parques de estacionamento específicos para velocípedes".
Publicado a
Atualizado a

O Pacto Climático Europeu quer que o Conselho Metropolitano de Lisboa coordene investimentos das 18 câmaras da Área Metropolitana (AML) para que a bicicleta possa ser usada como meio de transporte e não apenas como um "instrumento de lazer".

O grupo vai lançar o apelo ao Conselho Metropolitano de Lisboa, que integra as 18 Câmaras da AML, numa iniciativa que decorre este sábado, 1 de junho, pelas 09:30, na Estação Fluvial de Belém, em Lisboa.

Em comunicado, o Pacto Climático defende uma "maior integração das bicicletas no sistema de transportes intermodal da Área Metropolitana de Lisboa", com "maior comunicação entre as diferentes ciclovias dentro das cidades e com mais ligações às ciclovias dos concelhos vizinhos".

Considera que devem ser também criadas "mais ligações aos comboios, metro e autocarros com parques de estacionamento específicos para velocípedes". 

De acordo com o Pacto Climático Europeu - cujas iniciativas em Portugal são protagonizadas por mais de 30 "embaixadores", sendo a associação ambiental ZERO a responsável nacional pela coordenação das atividades desta iniciativa central do Pacto Ecológico Europeu, promovido União Europeia - "os entraves ao crescimento da mobilidade ativa na AML são consequência da falta de investimento das câmaras em infraestruturas para a mobilidade suave".

“Na Área Metropolitana de Lisboa quase não há infraestruturas para a bicicleta enquanto meio de transporte”, refere António Gonçalves Pereira, embaixador em Portugal do Pacto Climático Europeu e coordenador da Ecomood Portugal, citado no comunicado do Pacto Climático.  “A razão para uma das principais ciclovias ser à beira do Tejo - e mesmo estando lá muito bem - prende-se, precisamente, com a visão das bicicletas enquanto meio de lazer, e não enquanto meio de deslocação preferencial para as pendulações casa-trabalho e casa-escola ou universidade”, argumenta. 

O Pacto Climático Europeu considera que, "apesar de a Câmara Municipal de Lisboa ter anunciado um novo investimento de 13 milhões de euros em ciclovias, o "investimento, só por si, não garante a boa ligação entre os troços cicláveis, nem a segurança dos ciclistas face ao automóvel, nem da integração efetiva da bicicleta no sistema de transportes que liga os 18 concelhos da Área Metropolitana de Lisboa". 

Para António Gonçalves Pereira, "era fundamental que o plano anunciado para Lisboa contivesse uma visão intermunicipal e intermodal”, tendo referido que esta é uma atribuição que cabe ao Conselho Metropolitano de Lisboa.

“Só com a articulação entre os investimentos que vão ser realizados em Lisboa e os que têm de ser realizados noutros municípios, poderá ser incentivada a utilização da bicicleta como meio de transporte preferencial para centenas de milhar de movimentos pendulares diários entre os concelhos onde residem os habitantes da Área Metropolitana de Lisboa”, considera. 

Apelo ao Conselho Metropolitano de Lisboa e "Bicicletada pelo Tejo"

Neste sábado, 1 de junho, além de lançar o seu apelo ao Conselho Metropolitano de Lisboa para que haja mais ligações entre ciclovias da AML, o Pacto Climático Europeu vai, em antecipação do Dia Mundial da Bicicleta, organizar a “Bicicletada pelo Tejo”, durante o qual "os participantes farão um trajeto intermunicipal de bicicleta, de Belém até ao Ecoparque de São João da Talha, aproveitando para, pelo caminho, recolher resíduos e fazer algo artístico com eles".

Haverá, depois, no final do percurso, um "piquenique e um momento de conversa sobre mobilidade ativa e comunitária, no evento de Recriação Histórica do 25 de abril da Junta de Freguesia de Santa Iria de Azóia, São João de Talha e Bobadela", dá nota o Pacto Climático Europeu, que tem, aliás, como objetivo "mobilizar as comunidades na Europa para os investimentos, atividades e processos que sejam progressivamente menos dependentes dos combustíveis fósseis e da emissão de gases com efeito de estufa, promovendo a transição para modos de vida mais seguros e saudáveis e para uma economia sustentável".

De acordo com Rita Prates, da ZERO, “a mobilidade ativa, nomeadamente a bicicleta, tem um papel fundamental na descarbonização do setor dos transportes, assim como na melhoria da qualidade de vida das pessoas, dos problemas de poluição do ar, ruído e trânsito”.

“A diminuição do uso carro e o aumento do uso da bicicleta é também sinal de uma cidade saudável e agradável. A consequência é que o espaço público fica livre e mais seguro para usufruto das populações, para as crianças brincarem na rua e para a criação de comunidade”, acrescenta.

Rita Prates considera que "esta é uma abordagem fundamental para combater o isolamento da população mais idosa". "Não é por acaso que outras grandes capitais estão a cortar com o carro e a dar condições ao uso da bicicleta: Oslo, Copenhaga, Berlim, Paris, até aqui ao lado, em Barcelona ou Vitoria-Gasteiz”, exemplifica.

A ambientalista fala no caso de Oslo, onde "mais de 700 vagas de estacionamento foram transformadas em ciclovias, parques e áreas de convívio", e indica que "Paris planeia remover 70 mil lugares de estacionamento para criar novas faixas de transporte ativo”. “Portugal tem de ir ao encontro dos avanços que já foram adotados há muito no resto da Europa. Preocupa-nos que a mobilidade ativa não seja prioridade para os nossos municípios, e seja muitas vezes vista como um empecilho para o espaço público”, defende.

"As cidades já não aguentam tantos carros"

Mas para que haja uma adoção significativa da bicicleta como meio de transporte é preciso que o investimento seja feito nas ciclovias, considera Rita Prates.  “Alguns investimentos em mobilidade ativa em curso ou previstos em vários municípios da Área Metropolitana de Lisboa são importantes no quadro da concretização da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável 2020-2030 (ENMAC), que procura dar um contributo essencial para a descarbonização da mobilidade”, afirma.

Para um dos embaixadores em Portugal do Pacto Climático Europeu, António Gonçalves Pereira, é preciso, no entanto, ultrapassar "resistências e falta de visão de alguns autarcas e dos próprios cidadãos", como refere o comunicado.

“As cidades foram reformuladas no século XX em função do automóvel e as pessoas estão habituadas à tradicional utilização do carro para as deslocações diárias de curta distância”, afirma António Gonçalves Pereira.  “A questão é que as cidades já não aguentam tantos carros, o ambiente já não suporta o agravamento das alterações climáticas, as pessoas já não resistem a tantas horas de vida fechadas dentro de veículos”. 

António Gonçalves Pereira defende que “os autarcas têm de liderar a mudança através de investimentos públicos que promovam o uso das bicicletas e dos transportes coletivos”.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt