Os jovens no desfile da Liberdade. "Temos um papel central nos valores de Abril"
Dois anos depois, o típico frenesim ao início da tarde do dia 25 de Abril votou a sentir-se bem no centro de Lisboa. Com a polícia a controlar a circulação de trânsito, música, bandeiras, cânticos entoados bem alto e gente de todas as gerações numa correria para baixo e para cima junto ao Marquês de Pombal. Tudo pelo mesmo motivo: voltar a celebrar o 25 de Abril depois de uma pausa provocada pelas restrições impostas pela pandemia.
Antes do início do desfile, militantes de forças partidárias e pessoas de todas as idades começavam a puxar dos cravos e a organizar-se para celebrar o dia da Liberdade. Entre eles estavam João Carvalho, de 23 anos, e Inês Guerreiro, com 20, ambos militantes da Juventude Comunista Portuguesa (JCP). "O 25 de Abril é uma data que assinala os direitos que foram conquistados e é isso que venho cá fazer: defender os direitos por que lutaram", diz Francisco. E o facto de ser jovem não tira simbolismo à data - pelo contrário. "É, talvez, a data mais fundamental que nós temos, que nos garantiu mais direitos e privilégios", considera Francisco.
A seu lado, Inês ouve atentamente as respostas do seu camarada e, após alguns minutos, acaba por intervir: "Ainda faltam cumprir muitos valores de Abril. E nós, enquanto jovens, temos um papel central na concretização desses princípios", e, na opinião da jovem, "as comemorações do 25 de Abril mostram que o povo está empenhado com aquilo que foi a revolução. As pessoas não comemoram a data só pela democracia mas também pelos valores que sentem ser seus".
Uns metros mais abaixo, junto aos pais, está Margarida, de 14 anos. Naturais da Sertã, deslocaram-se a Lisboa para ver a filha mais velha, estudante na cidade, e para participarem nas comemorações. "É a primeira vez que participo. Desfilar aqui representa, acima de tudo, a importância da liberdade, pela qual devemos lutar e não abdicar", diz Margarida. Apesar da idade, a jovem deixa a promessa: "No futuro, virei mais vezes".
Uns metros acima, está Marta Rodrigues, de 25 anos, filiada no Movimento Alternativa Socialista (MAS), e também estreante num desfile do 25 de Abril. "Estar aqui significa celebrar a democracia e os direitos que alcançámos até hoje. Temos de continuar a preservar a democracia", considera, uma vez que "ainda é preciso melhorar a qualidade de vida dos portugueses e do regime. Há que investir no povo".
Soa, então, um dos hinos de Abril: Grândola, Vila Morena, que é cantado a plenos pulmões pelas várias centenas de pessoas presentes no topo da Avenida da Liberdade. Sara Proença, de 19 anos, acompanhada pela mãe, também canta. Quando termina, explica que marca presença no desfile porque "só graças ao 25 de Abril é que isto é possível". A sensação de estar a celebrar na rua pela primeira vez é, diz, "claramente mais especial do que estar em casa a ver os mesmos documentários de sempre".
Com duas chaimites a abrir o cortejo, o desfile demorou vários minutos a arrancar. Já com meia Avenida da Liberdade percorrida pelos primeiros participantes, ainda havia grupos organizados no Marquês de Pombal para tentar avançar escassos metros. No entanto, nem só com portugueses se fez o desfile de comemoração do 25 de Abril. Exemplo disso é Lucy Oliveira, de 24 anos, francesa filha de pais portugueses, e para quem as comemorações não são surpresa. "Este é o dia da Liberdade. Os meus pais estavam cá quando a revolução aconteceu e quero assistir porque sei o quão importante é esta data", explica Lucy. "Há tanta gente feliz na rua, nota-se que é um dia importante e quero participar e manter viva essa memória que os meus pais têm", remata a jovem.
Já o desfile ia com praticamente duas horas, quando, a alguns metros do Marquês de Pombal, na Avenida Fontes Pereira de Melo, chegava o desfile da Iniciativa Liberal (IL), que esteve parado cerca de meia hora para evitar que se juntassem os dois cortejos, visto que ainda havia grupos à espera de começar a desfilar. Os liberais - que pelo segundo ano consecutivo organizam um desfile próprio - partiram da praça do Saldanha, acompanhados por ucranianos (incluindo a embaixadora), e, chegados ao Marquês de Pombal, desceram também a Avenida da Liberdade.
Por entre cravos levantados e gritos de guerra, ambos os desfiles seguiram caminho. No fim, o desfile da IL voltou a subir a Avenida da Liberdade, com o desfile principal a ir até ao largo dos Restauradores.
rui.godinho@dn.pt