Ordem dos Médicos vai avaliar mais seis casos suspeitos de má prática
A denúncia de más práticas no Serviço de Cirurgia Geral foi conhecida há uma semana. Na altura, a Ordem confirmou a nomeação de um perito, a pedido da unidade, para investigar 18 situações. Mas, nesta semana, recebeu mais seis, que só serão investigadas depois de o relatório do primeiro grupo estar concluído.
O perito nomeado pela Ordem dos Médicos para apoiar a investigação que o Hospital Fernando da Fonseca (HFF), conhecido como Amadora-Sintra, abriu a situações de suspeita de má prática clínica no Serviço de Cirurgia Geral já avaliou os primeiros 18 casos que foram entregues em novembro, faltando finalizar o relatório relativamente a três dos sete casos que tiveram de ser "analisados minuciosamente" por haver matéria que pudesse indiciar "má prática", mas estes três deverão ficar fechados até este fim de semana para o relatório final ser entregue ao Conselho Nacional nos próximos dias.
Relacionados
Mas o DN sabe que a Ordem recebeu, esta semana, do HFF, mais seis situações ocorridas no mesmo serviço e denunciadas à unidade hospitalar. Ou seja, num espaço de um mês à Ordem chegaram um total de 24 situações denunciadas, sendo que as últimas só começarão a ser investigadas após o relatório final das primeiras 18 estar terminado.
O DN sabe que deste grupo de 18, 11 foram logo colocadas de fora da abordagem de má prática, por a informação relativamente aos doentes, no que toca ao seu diagnóstico, tratamento e acompanhamento, ser clara e não haver sequer matéria para as enquadrar neste âmbito.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Segundo fonte da Ordem, destas 11 havia quatro doentes que não foram sequer operados no HFF, outros quatro em situações cancerosas terminais, nos quais "não foi necessária a aplicação de qualquer tratamento cirúrgico", havendo, no entanto, doentes que morreram, "devido à doença".
Outros dois casos que diziam respeito "a doentes com pancreatite aguda e que estavam internados no HFF, no Serviço de Medicina Interna, para os quais a cirurgia foi chamada por o seu estado ser muito grave e numa tentativa de desespero, para se fazer tudo. Um dos doentes, de 75 anos, sucumbiu ao seu estado, mas outro, uma mulher de 30, resistiu.
O último destes 11 casos respeita a uma doente que estava internada noutra unidade e que foi transferida para o HFF por haver suspeita de ter cancro do pâncreas e por ali haver um Centro de Referência de Patologia Hepato-Bilio-Pancreático. O diagnóstico de cancro não se confirmou e a doente foi reenviada para a unidade onde estava".
Assim, do grupo de 18 estão a ser avaliadas de "forma minuciosa" e com abordagem de suspeita "má prática", apenas sete situações, mas, até agora, só há duas que o perito nomeado pela Ordem, que tem estado a avaliar todas as situações com os elementos da direção do Colégio de Cirurgia Geral, considera poderem consubstanciar "conduta inadequada" ou, no limite, "má prática". Mesmo assim, dizem-nos, há um caso em que esta classificação não é unânime para todos os elementos da direção do colégio, "há quem considere que a morte do doente acontece como consequência natural do pós-cirurgia".
Questionado sobre o facto de ter sido pedida celeridade na investigação e uma semana depois ainda não haver relatório final, a mesma fonte rejeitou haver qualquer atraso da parte da Ordem, até porque "são situações que têm de ser avaliadas desde o processo de admissão no hospital, diagnóstico, diários clínicos, tratamentos, acompanhamento, etc".
Recorde-se que há uma semana, quando o Expresso divulgou em primeira mão esta situação, referindo estar em causa a existência de casos de morte de doentes ou de mutilação por má prática. Na mesma altura, a administração do hospital, através da diretora clínica, veio reafirmar a confiança nos cuidados prestados na unidade e tranquilizar os utentes.
O Ministério da Saúde fez o mesmo, através de um comunicado onde reiterava essa confiança. O bastonário dos médicos pediu celeridade nesta investigação para "um esclarecimento cabal e total de todos os factos". A situação já foi transmitida ao Conselho Disciplinar da Secção Regional do Sul da Ordem, a Entidade Reguladora da Saúde abriu um inquérito, a Inspeção Geral das Atividades em Saúde também e, na quarta-feira, o Ministério Público anunciou ter instaurado um processo de inquérito para averiguação da situação.
Mas esta semana a Ordem dos Médicos recebeu mais seis casos, suspeitos de má prática, denunciados à administração do HFF. Ao DN, o próprio bastonário confirmou que estes seis só serão avaliados depois de os relatórios das situações anteriores estar terminado. "É fundamental que se termine o primeiro grupo de situações suspeitas para se esclarecer o que há a esclarecer", afirmou, devendo assim os peritos da Ordem, ou seja os 11 elementos da direção do colégio de cirurgia que têm estado a analisar em conjunto todos os casos, iniciar a análise dos casos que agora só daqui a uma semana ou duas.
Apesar de, explicaram-nos, "a avaliação destas seis situações ser mais rápida, por um lado porque são menos do que o primeiro grupo e depois porque também o modus faciendi já está enraizado, sendo mais fácil a recolha da informação necessária para a análise".
Como já foi noticiado, a denúncia das situações partiu de um ex-diretor do Serviço de Cirurgia Geral, que terá sido afastado do cargo em janeiro do ano passado, por "há anos, e independentemente de ser um cirurgião com credenciais, muito bom tecnicamente, desenvolver uma gestão do serviço classificada por alguns de "despotismo", que levou ao afastamento de 22 profissionais qualificados em dez anos", contaram ao DN.
Partilhar
No Diário de Notícias dezenas de jornalistas trabalham todos os dias para fazer as notícias, as entrevistas, as reportagens e as análises que asseguram uma informação rigorosa aos leitores. E é assim há mais de 150 anos, pois somos o jornal nacional mais antigo. Para continuarmos a fazer este “serviço ao leitor“, como escreveu o nosso fundador em 1864, precisamos do seu apoio.
Assine aqui aquele que é o seu jornal