Ondas gravitacionais previstas por Einstein detetadas pela primeira vez
Era o último desafio da Teoria da Relatividade. O que Einstein previu há um século foi agora confirmado
Cientistas do Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (LIGO) acabam de anunciar em conferência de imprensa, em Washington que detetaram pela primeira vez diretamente ondas gravitacionais, um fenómeno teorizado por Einstein, mas que até agora nunca tinha sido confirmado.
As ondas gravitacionais são pequenas ondulações provocadas no tecido do espaço-tempo quando um corpo com massa é acelerado - resultam dos maiores cataclismo dos universo, como acontece por exemplo com a colisão de dois buracos negros. Foram previstas por Einstein em 1916, há exatamente um século, mas até hoje nunca se tinha conseguido detetar diretamente os seus sinais.
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Os sinais captados pelos dois detetores do observatório LIGO, localizados em Luisiana, e Washington, nos Estados Unidos, mostram um buraco negro binário em rotação, e o efeito de ondas gravitacionais que isso provoca. Até hoje nunca tinha sido possível detetar nenhuma colisão de buracos negros, ou buracos negros binários, como agora aconteceu.
A descoberta acaba por ser a melhor das celebrações dos cem anos da teoria de Einstein.

© EPA/LIGO
"Isto é só o princípio", explicou na conferência de imprensa Gabriela Gonzalez, cientista da experiência."Descobrimos as ondas gravitacionais e agora que temos os detetores e que sabemos que os buracos negros binários estão lá, podemos começar a escutar o universo".
Os sinais agora apresentados como a primeira prova direta das ondas gravitacionais foram ouvidos nos detetores a 14 de setembro do ano passado, oriundos das profundezas do universo, onde há mil e 300 milhões de anos dois buracos negros colidiram entre si, causando as tais perturbações no tecido do espaço-tempo.

© EPA/LIGO
Antes de Einstein ter mudado a forma como percebermos o universo, graças à sua teoria da relatividade geral, pensava-se que o espaço e o tempo eram duas dimensões fixas e independentes.
O físico mais famoso do século XX virou tudo do avesso ao propor uma teoria completamente nova que combina o espaço e o tempo num único modelo a quatro dimensões, a que chamou espaço-tempo, e que é tudo menos fixo. Isso implica, por exemplo, que a luz das estrelas distantes sofre um determinado encurvamento à passagem junto a um campo gravítico de uma estrela, o que foi, aliás, demonstrado logo, em 1919, pelo astrónomo inglês Arthur Eddington, que em maio desse ano fez uma expedição à ilha do Príncipe para fazer essas medições durante uma eclipse total do Sol.
À semelhança desse fenómeno, um corpo com massa acelerado através do universo - por exemplos dois buracos negros em rota de colisão - causam igualmente uma perturbação no espaço-tempo, as tais ondas gravitacionais, assim como uma pedra arremessada à superfície quieta de um lago causa uma ondulação.

© EPA/LIGO
Há mais de meio século que os cientistas tentavam detetar esta "ondulação cósmica", algo que tem sido difícil porque que estes são, na verdade, sinais praticamente impercetíveis, e antes do anúncio de hoje, houve até alguns falsos alarmes.
O mais recente aconteceu em 2014, quando um grupo de cientistas captou no telescópio BICEP2, instalado perto do Polo Sul, um sinal que parecia mesmo as tais ondas gravitacionais, mas que afinal veio a revelar-se poeira cósmica.
Agora parece que é mesmo. A equipa já publicou hoje, aliás, os seus resultados na Physical Review Letters, e na conferência de imprensa os líderes da experiência não deixaram margem para dúvidas. E garantiram que durante os próximos meses e anos vão conseguir captar muitos mais destes sinais.
Leia o comunicado de imprensa do grupo de cientistas (em português)