Inaugura hoje em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, Ciclos, a exposição que dá mote ao início da 6.ª edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa que tem como tema o planeta Terra, e que conta com a curadoria da dupla de arquitetos Cristina Veríssimo e Diogo Burnay. Também no âmbito dos primeiros momentos da Trienal, inaugura no mesmo dia a exposição Retroativar, no MAAT..Amanhã abrem ao público mais duas exposições: Multiplicidades, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado, e, na Culturgest a mostra Visionários. Há ainda uma quinta exposição, Projetos Independentes, que irá inaugurar no sábado no Palácio Sinel de Cordes, sede da Trienal de Lisboa, onde também serão apresentados vários livros sobre o tema desta edição..Ao DN, os curadores Cristina Veríssimo e Diogo Burnay justificam a escolha do tema com expectativas "simples e ambiciosas". "Lançamos um tema à volta do qual, pensamos, há um grande entusiasmo e congregação: estamos a falar do planeta! Não só no seu sentido planetário, mas também como a nossa casa, nos lugares com os quais nos identificamos e estabelecemos memórias e afetividades. Estamos também a falar das pessoas e das comunidades com as quais nos sentimos profundamente ligados. A nossa expectativa é que exista a oportunidade de quem visite as exposições conhecer o que os arquitetos andam a fazer, por isso, quisemos trazer para Lisboa exemplos de trabalho de pessoas e equipas transdisciplinares de todo o mundo. Queremos que a Trienal seja extrovertida, aberta às pessoas e não seja apenas um olhar interno sobre a disciplina e sim uma forma de celebrar a diversidade e formas de abordagem de problemas comuns que estão a ser tratados de forma muito diversas, em todo o planeta. É um alerta, uma expectativa de inclusão, mas também um certo apelo, um chamamento, para tornar ideias e reflexões em ações". Outra das expectativas que ambos os arquitetos esperam ver atingida é dar a conhecer o trabalho das futuras gerações e o que estas podem fazer para manter o planeta vivo e saudável. Isso foi feito através da integração de trabalhos das universidades nos temas principais das exposições. "Mostrar que a arquitetura, com o seu papel social e a sua relevância socioeconómica, política e cultural possa continuar a existir de forma sustentável e equilibrada. Porque sabemos que fazemos parte de uma das indústrias que causa mais poluição no planeta", explica Diogo Burnay..Os curadores esperam que um dos grandes objetivos desta edição seja o de ter uma abrangência geracional, dos mais novos aos mais velhos, e das várias camadas da população para que visitem as várias exposições. "A arquitetura não é algo que viva isolado de todos os outros seres e formas de ação de planeta", acrescenta Diogo Burnay. Por isso, sublinha por sua vez Cristina Veríssimo, "o tema chama por todos. Vivemos tempos inconstantes e, espero, começamos a ter mais consciência que qualquer coisa que toque a um lado tem reflexo noutro. Na relação que o planeta é só um, que cabe a cada um de nós tomar a iniciativa e não esperarmos pelos outros para tomarmos uma ação. Esta Trienal apela à ação: acordem que o planeta está a precisar de ajuda!"..Por isso mesmo, explicam os curadores, há, nas exposições, exemplos de trabalhos feitos em vários pontos do mundo com uma parte prática e concreta. "A exposição Retroativar fala de cidades que estão em expansão e de cidades que têm lugares de não pertença e como pequenas intervenções de um equipamento podem regenerar uma zona da cidade. Já a exposição Multiplicidades dá uma nova visão de como a arquitetura tem de se alterar com exemplos concretos. Quanto à mostra Visionários, vai buscar exemplos do passado e projetá-los para o futuro. Já a Ciclos é uma exposição mãos na massa, e mostra como podemos reutilizar e reciclar materiais em vez de estarmos sempre a construir com materiais novos"..Está a indústria da construção com os demais atores preparada para essa mudança de mentalidade é a questão inerente. Cristina Veríssimo defende que a arquitetura está consciente disso, "não estava tão presente nos clientes e no mercado , mas a crise e a pandemia veio trazer muita inversão e mais alerta. Agora os clientes, públicos ou privados, começam a pensar no custo do transporte dos materiais porque existiram mercados que agora fecharam as portas, como a China, que tinha materiais muito baratos e que por causa do covid-19, deixou de ser um mercado apetecível". A arquiteta acrescenta ainda que os alertas dados pelos temas desta Trienal não são novos mas a pandemia "contribuiu para que as pessoas começassem a pensar de outra forma, por isso achamos que temos de nos mexer e passar à ação. Já está tudo pensado, agora é concretizar as teorias existentes há mais de 40 anos"..Para além das exposições (ver caixa) um dos pontos altos da Trienal são as várias palestras, as chamadas Talk, Talk, Talk, que irão decorrer entre 26 e 28 de outubro no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian..Entre vários convidados que irão falar, a organização destaca Alexander D"Hooghe (26 de outubro), arquiteto que virá a Portugal falar de cidades ; Anupama Kundoo (28 de outubro), arquiteta atualmente responsável pelo projeto da cidade sustentável Auroville na Índia - um projeto criado pelo também arquiteto Roger Anger (1923 - 2008), e ainda a palestra do antropólogo Arjun Appadurai (26 de outubro)..A 6.ª edição tem ainda uma trilogia de prémios para entregar: o Carreira, Universidades e Debut (para arquitetos ou atelier em início de carreira). Distinções que não olharam a fronteiras, explicam: "recebemos candidaturas de todo o mundo". O prémio Carreira vai ser entregue a Marina Tabassum, arquiteta que trabalha sobretudo na Índia e cujo trabalho é feito utilizando técnicas de construção e transformações tecnológicas para uma maior sustentabilidade. "A sua obra arquitetónica é de excelência e merece esta distinção", explica Cristina Veríssimo..A finalizar a conversa com o DN, a arquiteta garante que "apesar do tema abrangente, " esta Trienal toca em assuntos chave, mas é apenas o início e um alerta, um apelo à ação de cada um de nós". "O tema desta Trienal é congregador, importa a todos e desperta um grande entusiasmo nas gerações mais novas. Sobretudo para o papel da arquitetura que, no futuro, terá que abordar os temas aqui apresentados com mais profundidade, quer do ponto de vista ético, de material, sócio económico e cultural" , acrescenta Diogo Burnay..filipe.gil@dn.pt