Cirurgias à obesidade reduziram em relação a 2022. Mas o aumento em relação a 2021  é considerável: mais 391.
Cirurgias à obesidade reduziram em relação a 2022. Mas o aumento em relação a 2021 é considerável: mais 391.David Tiago / Global Imagens

Obesidade ameaça 60% da população. A prioridade? Tratá-la com rapidez

No Dia Mundial da Obesidade, Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia conversou com o DN, fez um retrato da doença em Portugal e pediu mais ação.
Publicado a
Atualizado a

Mais do que focar-se no tratamento das consequências da obesidade é “preciso que o sistema de saúde se foque em tratar a obesidade”. O repto é lançado por Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). Ouvida pelo DN, a responsável considera ainda que “em boa verdade, é também necessário haver um maior treino dos profissionais de saúde para tratar a obesidade”,  isto enquanto se devem criar “consultas de obesidade nos cuidados primários”. Afinal, diz, “esta é uma doença tão prevalente que o tratamento deve começar nos cuidados primários” também. Só casos mais graves serão, então, atendidos “nos cuidados hospitalares”. “E mesmo nesses casos, é preciso uma melhor e maior acessibilidade para o tratamento cirúrgico da obesidade”, advoga.

Segundo os dados mais recentes, Portugal tem “cerca de 60%” da população em pré-obesidade, explica Paula Freitas. Recorrendo aos números dos últimos Censos (de 2021, que contabilizavam 10,3 milhões de habitantes), isto representa cerca de 6,2 milhões de pessoas com pré-obesidade. Em adultos portugueses, “a prevalência da obesidade anda na ordem dos 23% e a pré-obesidade anda na casa dos 35%”. Estes dados “são mais elevados nas classes sociais mais desfavorecidas”, explica.

Em termos mundiais, um estudo internacional publicado na revista Lancet (e que contou com a participação de investigadores da Universidade de Coimbra) aponta que “no total, 159 milhões de crianças e adolescentes e 879 milhões de adultos viviam com obesidade em 2022”. E, entre os adultos, “a taxa de obesidade mais do que duplicou nas mulheres e quase triplicou nos homens”. Comentando este fator, Paula Freitas aponta ainda outro dado: à medida que a idade avança, os fatores de risco ligados à obesidade vão aumentando. E, acrescenta, “um estudo ‘custo e carga’ [que procura avaliar impactos financeiros e humanos das doenças] sobre a obesidade demonstrou que 43% dos óbitos totais ocorridos em Portugal continental estavam relacionados com a doença”.
Em 2023, houve 1965 pessoas em Portugal a fazerem a cirurgia da obesidade, segundo dados da Administração Central do Serviço de Saúde. Em relação ao ano anterior, foram operadas menos 12 pessoas. Ainda assim, comparando com 2021, houve um aumento de 391 doentes operados.

As prioridades: prevenção e comparticipação

Em relação a terapêuticas, alguns medicamentos para a diabetes (uma das comorbilidades muitas vezes associadas à obesidade) têm tido algum sucesso junto dos doentes com excesso de peso. Mas não são de fácil acesso: “Não há comparticipação. Isto gera uma dificuldade às pessoas de classes sociais mais desfavorecidas para se tratarem. Há uma inacessibilidade à terapêutica. E não tratar os doentes com obesidade é fazer com que estes doentes no futuro tenham muito mais comorbilidades associadas, o que tornará ainda muito mais oneroso o tratamento das doenças. Se não se tratar a obesidade hoje, terão de ser tratadas, no futuro, 200 comorbilidades associadas e pelo menos 13 tipos de cancro”. Com isto - e tendo em conta que “há várias novidades” no que toca a fármacos - a SPEDM, em conjunto com a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade têm lutado pela comparticipação destes medicamentos, ainda que seja necessário haver uma decisão política e, depois, uma decisão técnica. Algo que, segundo Paula Freitas, é um “problema”, porque “ainda não existe sequer o subgrupo farmacoterapêutico para os fármacos para a obesidade”.

Até lá, o foco é apostar em medidas de prevenção, que considera “fundamentais”. “Temos em mãos um problema gravíssimo que é haver pessoas com a doença instalada. Essas precisam de medidas urgentes. Mas acho que devemos ter medidas de prevenção da obesidade, promoção de estilos de vida saudáveis, mas isto deve começar logo, digamos, no pré-escolar. As medidas de estilo de vida, de prevenção das doenças, da promoção da saúde devem fazer parte dos currículos desde cedo, mas isso só vai ter frutos daqui a muitos anos. Hoje já temos um problema que não se resolve com a prevenção, mas sim com o tratamento”, remata. 

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt