O vento que fez a diferença

Meteorologistas da BestWeather explicam como o incêndio se propagou rapidamente
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Ainda antes do IPMA (Instituto Português do Mar e Atmosfera) ter apresentado a avaliação sobre as condições meteorológicas que afetaram a região de Pedrógão Grande no passado sábado, já um grupo de estudiosos da meteorologia tinha descrito o acontecimento. Na página de facebook da BestWeather, o meteorologista Daniel Zeferino e o estudante de Geografia Física, Francisco Rodrigues, explicaram ao longo dos últimos dias o que aconteceu, em termos meteorológicos. "Não se pode dizer o que originou o fogo, mas sabemos que as condições meteorológicas geradas explicam porque as chamas progrediram tão rapidamente e eventualmente não ter havido tempo para afastar as pessoas das estradas", diz Daniel Zeferino.

No dia 16, sexta-feira, a BestWeather, que pretende ser a primeira empresa de meteorologia em Portugal, tinha alertado para trovoadas fortes nas zonas entre o Alentejo e o Baixo Mondego. "A presença de camadas de ar com humidade relativa baixa ao longo do perfil vertical, grandes diferenças de temperatura entre a massa de ar quente nos níveis baixos e ar mais frio que acompanhava a perturbação em altitude, eram favoráveis à ocorrência de fortes movimentos verticais, acentuados pelo aquecimento diurno, assim como queda de granizo de grandes dimensões", descreve.

No sábado chegou a confirmação: "Pela hora de almoço as temperaturas já superavam os 40ºC, e as máximas viriam a atingir 42-45ºC, sob forte sol e antes da evolução explosiva das trovoadas." Estava preparado um cenário explosivo. "Tivemos vários relatos de ocorrência de ventos fortes, associados a downbursts, queda de granizo e atividade elétrica intensa. Durante a tarde, na região de Pedrógão Grande, passaram vários núcleos de trovoada fortes, e embora não se consiga pormenorizar exatamente se a causa do incêndio foi devido a descargas elétricas atmosféricas ou outra causa humana ou natural, temos um grande grau de certeza de que as rajadas severas associadas às trovoadas contribuíram fortemente para a tragédia."

Este acontecimento meteorológico não é assim tão raro. "No Verão tende a ser mais gravoso, no interior acontece várias vezes. O que originou as graves consequências foi o incêndio. O vento é formado pelas correntes descendentes (verticais) que ao atingirem o solo seguem em todas as direções. São várias nuvens de conveção que alimentam ventos que, quando atingem o solo, seguem em todas as direções. A propagação é imediata e muita rápida. Com um fogo em curso, é difícil travar aquilo. O vento que se formou é que fez a diferença", explicou ao DN Daniel Zeferino.

Este meteorologista diz que é possível trabalhar melhor as previsões destes fenómenos. "A passagem da informação é importante. Nos Estados Unidos, os tornados e os furacões são acompanhados ao pormenor com informação à população constante. Aqui, não temos as mesmas condições mas podemos trabalhar de forma a fornecer a melhor informação."

A BestWeather existe há dois e faz previsões diárias, com respostas ainda a pedidos específicos que vão sendo feitos nas caixas de comentários.Tem a ambição de fornecer serviços de previsão meteorológica a nível empresarial. "Já fazemos aconselhamento a organizações de eventos ao ar livre. Queremos prestar serviços a unidades hoteleiras, na agricultura, e outros. A meteorologia é uma área essencial."

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