Portugal é terra de vinhos e todo o português tem alma de vinhateiro. O talento aplicado à vinha reveste-se de um longo e fecundo período de criação de valor que rapidamente se pode transformar em riqueza. O evento Nobre Gosto, que vai acontecer entre hoje e domingo no Palácio Marquês de Pombal, Oeiras, está na sua terceira edição e coloca vinhos fortificados (Madeira, Porto, Moscatel e Carcavelos) na berlinda e à prova, coadjuvados pelos vinhos doces. A entrada e circulação no recinto durante o fim de semana é gratuita, mas o acesso às provas livres é feito exclusivamente mediante compra de copo, no local, no valor de 10 euros..DR.DR.Vinhos Madeira .São doces e têm o segredo da longevidade pela acidez incrível que mostram. No entanto, é a estratificação da doçura que define o estilo de vinho, a que devemos juntar a indicação de idade. O vinho da Madeira está na moda e os coleccionadores estão cada vez mais aguerridos, procurando como bravos exploradores os derradeiros exemplares que paulatinamente se foram revelando, extraídos de garrafeiras particulares. Exceção feita à Tinta Negra, que hoje conhece os seus melhores momentos. No vinho Madeira a estratificação e os estilos são estáveis. As castas utilizadas na produção dos Madeira são brancas. As chamadas castas nobres são Sercial, Terrantez, Verdelho, Boal e Malvasia, por ordem crescente de doçura, e os vinhos são essencialmente distribuídos por indicação de idade, havendo contudo colheitas de anos específicos que os produtores entendem por bem singularizar. Produzidos por estufagem - mais rápido - ou em canteiro - mais lento -, os vinhos Madeira atingem elevados níveis de qualidade, destacando-se pelo equilíbrio único entre acidez e doçura que podem oferecer. Determina sobretudo a longevidade, excepcional no envelhecimento em canteiro, nas partes mais quentes das adegas, onde o calor é mais concentrado..Vinhos do Porto.Celebrados pela História e consagrados pela prodigiosa extensão do vale vinhateiro do Douro, as uvas dos vinhos do Porto provêm da chamada ilha do xisto, e as vinhas estão classificadas por letras, da A - a mais valorizada - à F, igualmente rica por diversas razões mas preterida face a critérios como exposição solar, altitude e acidentação. A obrigação do engarrafamento nas caves de Gaia deixou de existir nos anos 70 e os vinhos de quinta são uma realidade inalienável. Entender um rótulo de vinho do Porto pode ser um desafio para o não-iniciado, mas a matriz é simples e passa por considerar que há apenas três grandes grupos: brancos - produzidos a partir de castas brancas -, rubi - envelhecidos em garrafa, ambiente redutivo - e tawny - envelhecidos em cascos, ambiente oxidativo. Por isso, os Porto Vintage - os mais valorizados em termos mundiais - pertencem ao grupo rubi, enquanto os tawnies - que quer dizer alourado - normalmente são patrimoniais nas casas produtoras e podem facilmente atingir 50 ou mais anos. O mercado está a reconhecer e procurar com mais intensidade os chamados super-tawnies, mas há beleza e exotismo em toda a bateria de vinhos do Porto..Vinhos Moscatel de Setúbal.Dentre as manchas de produção de Moscatel fortificado, a proveniente das vinhas velhas de Setúbal é a porta-estandarte desta bebida única e indispensável. Em termos de área não é tão pronunciada como a do vinho do Porto mas tem muito charme e reputação. Muito ricos em doçura, conseguem mostrar acidez suficiente para conferir longevidades centenárias de forma natural. A casta Moscatel de Alexandria é a mais importante, mas a Moscatel Roxo está muito valorizada..Vinhos de Carcavelos.Estamos numa região que esteve perto de soçobrar face à especulação imobiliária e à fortíssima densidade populacional. Hoje há novos pequenos produtores que insistiram em valorizar os exóticos terrenos outrora brilhantes e desejados. A região está a oferecer diversidade a qualidade, com enologia de primeira linha e sobretudo vinhos distintivos e com muita personalidade..Vinhos doces.Não pertencem ao grande grupo dos vinhos fortificados porque não recebem qualquer intervenção para reter o açúcar dos mostos, mas através de trabalho na vinha isolam por exemplo cachos vindimados tardiamente, a seguir à vindima. De norte a sul do país, há excelentes exemplos possibilitados em anos excepcionais, sem chuva após a colheita, que possibilitou a evaporação sustentada da água presente nos bagos. Pronuncia-se assim a doçura, e nos casos mais felizes a presença do fungo botrytis cinerea, também conhecida como podridão nobre, espécie de véu que cobre os cachos e permite a sua valorização. Há ainda outros casos muito bem sucedidos, pelo que também os vinhos doces não fortificados tenham conhecido mais notoriedade junto dos consumidores.