O que é a COP26 e porque é que é a última oportunidade para salvar o planeta?

Nas próximas duas semanas, a cidade escocesa de Glasgow é o epicentro das discussões sobre alterações climáticas. Exigem-se grandes compromissos para conseguir reduzir as emissões de carbono e manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus Celsius, a meta otimista prevista nos Acordos de Paris, mas as dificuldades são muitas.
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O que é a COP26?
A Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês) é o órgão de tomada de decisões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, o tratado que resultou da Cimeira da Terra realizada no Rio de Janeiro em 1992. A primeira conferência da ONU sobre o clima realizou-se em Berlim, em 1995, e este ano será o 26.º encontro, daí o nome COP26. O protocolo de Kyoto foi assinado na COP3, que decorreu nessa cidade japonesa em 1997, e os Acordos de Paris na COP21, que decorreram na capital francesa em 2015.

Onde e quando será a COP26?
A cimeira começa amanhã na cidade escocesa de Glasgow, sendo copresidida pelo Reino Unido e por Itália, e deve durar 13 dias. Estava inicialmente marcada para novembro do ano passado, mas teve que ser adiada por causa da pandemia de covid-19.

Quem irá participar?
Cerca de 25 mil pessoas, entre políticos, ativistas, cientistas, empresários ou jornalistas, deverão participar na conferência ao longo das quase duas semanas. Mas todos os olhos deverão estar focados nas discussões intergovernamentais. Os primeiros dias da COP26 contarão com a presença de mais de uma centena de líderes mundiais - com ausências de peso como o presidente chinês, Xi Jinping (a China é o maior poluidor mundial, responsável por quase um terço das emissões de dióxido de carbono), ou o russo, Vladimir Putin. Mas as negociações mais complexas devem começar quando estes partirem, ficando a cargo dos seus representantes. As negociações estão previstas para terminar às 18.00 de 12 de novembro, uma sexta-feira, mas em reuniões passadas o debate prolongou-se durante o fim de semana seguinte.

Porque é que a COP26 é importante?
A conferência deste ano tem sido apresentada como a última oportunidade para o mundo assumir compromissos ambiciosos para evitar danos catastróficos para o planeta. Nos Acordos de Paris os líderes mundiais comprometeram-se a limitar o aquecimento global a um aumento de dois graus Celsius em relação aos valores pré-industriais, "desenvolvendo esforços" para que este ficasse abaixo dos 1,5 graus. Na altura comprometeram-se também com cortes (não vinculativos) nas emissões de dióxido de carbono de forma a alcançar esse objetivo, sabendo à partida que eram insuficientes (se fossem cumpridos resultariam num aquecimento superior a três graus). Daí terem incluindo um mecanismo de revisão desses compromissos a cada cinco anos, sendo esta a primeira COP em que estes têm que ser apresentados.

O mundo está a caminho de fazer os cortes necessários?
As novas promessas já apresentadas são insuficientes - segundo a ONU, o que está agora em cima da mesa levará a um aquecimento de 2,7 graus neste século. Os cientistas defendem que, para alcançar a meta de 1,5 graus, é preciso reduzir as emissões em 45% até 2030 (em relação aos níveis de 2010) e alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Um dos grandes alvos para a redução prende-se com as promessas para o fim do uso do carvão, sendo que as metas diferem de país para país e tornaram-se mais difíceis com a atual crise energética que causou o aumento dos preços.

Este é o único problema?
Não, outra grande área de potencial confronto prende-se com o financiamento climático, isto é, o dinheiro que os países mais pobres (normalmente os mais afetados pelas alterações climáticas) recebem dos mais ricos (os maiores poluidores) não só para cortarem as suas emissões e fazerem uma transformação para as energias verdes, mas também para enfrentarem os impactos dos fenómenos meteorológicos extremos. A promessa feita na COP15 em Copenhaga, em 2009, era de que receberiam cem mil milhões de dólares por ano até 2020, mas essa meta não foi alcançada. No ano passado, não chegou a 80 mil milhões. E os especialistas dizem que o objetivo dos 100 mil milhões já se tornou insuficiente para fazer face ao problema.

Qual é a expectativa de Portugal para a cimeira?
No início da semana, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, disse que não estava muito otimista em relação à COP26 por causa da falta de ambição das propostas já apresentadas. Portugal estará em Glasgow como "o país que foi o primeiro no mundo que disse que ia ser neutro em carbono [em 2050] e o que presidia à União Europeia quando se comprometeu com ser o primeiro continente neutro em carbono em 2050", disse à Lusa. O país tinha-se comprometido em Paris a reduzir as emissões em 40% até 2030, tendo já atualizado esse compromisso para a redução de 55%. Portugal também espera contribuir, em dez anos, com 35 milhões de euros para o financiamento aos países em vias de desenvolvimento.

E se a cimeira for um fracasso?
Não seria a primeira. Após a COP25, em Madrid, em 2019, o secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou-se "desapontado" com o resultado. Apesar de a COP26 ser apontada como a última oportunidade, o debate não vai acabar em Glasgow. A COP27 já está marcada para novembro do próximo ano, em Sharm El Sheikh, no Egito.

susana.f.salvador@dn.pt

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