"O PR tem de escolher um lado, ser neutral é tomar o lado do opressor"
O S.T.O.P. promoveu uma marcha de protesto entre o Ministério da Educação e o Palácio de Belém. Deixaram os seus problemas e propostas, querem uma posição do Presidente.
"Presidente da Nação tem mão na Educação"; "Presidente da Nação tens que investir na Educação" gritaram este sábado os profissionais das escolas quando entraram na Praça Afonso de Albuquerque, em frente ao Palácio de Belém. Eram 16.13. Marcelo Rebelo de Sousa mandou os assessores receber uma delegação que lhe pediu para tomar uma posição. Assim terminou uma marcha que teve início no Ministério da Educação.
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André Pestana, o coordenador nacional do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P.), que convocou a ação de protesto, veio mais uma vez ao microfone para anunciar o trajeto do camião até à residência oficial do Presidente da República (PR). E anunciar mais uma grande vitória. "A polícia diz que somos 80 mil pessoas, se dizem esse número é porque somos muitos mais". Mais tarde, ao DN, sublinhou: "Juntámos milhares em sete dias, nunca conheci nada assim, e este é o sindicato mais jovem de Portugal".
A PSP não confirmou ao DN a estimativa daquele número.
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André Pestana é o cordenador nacional o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação
© Rita Chantre / Global Imagens
Os membros da delegação entregaram as razões dos protestos e aguardam agora a posição de Marcelo. "Como disse Desmond Tutu, "neutralidade perante uma injustiça, é escolher o lado do opressor". O PR tem de escolher um lado, se continuar aparentemente neutral é tomar o lado do opressor", disse André Pestana antes do encontro. Depois da reunião, voltou a subir para o camião e falou aos manifestantes.
Este é um sindicato que marcha em nome de todos os profissionais da educação, mas a grande maioria dos que estão na rua são professores. E vieram de todas as zonas do país, como Ana Márcia, 43 anos, professora de Economia e Contabilidade, a lecionar em Águeda. Está num grupo com Ana Semedo, professora de Educação Especial, Ana Regueiro, de História, Luísa Pires, de Inglês, Eduardo Ferreira, de Educação Física, e Fátima de Cerveira, educadora de infância. Lecionam desde a base ao secundário e todos têm queixas, mas sublinham que as maiores são as de Ana Márcia.

As Anas - Márcia, Semedo e Regueiro- , Luísa, Fátima e Eduardo vieram de Àgueda.
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Ana traz ao pescoço uma tabuleta onde se lê "Contratada há 18 anos". E tem de dar aulas em dois estabelecimentos de ensino para ter um horário completo, caso contrário seria penalizada nos descontos para a Segurança Social.
"Estou a dar aulas na Gafanha da Nazaré e em Águeda, sempre estive em duas escolas. Este ano, a distância entre as duas é de 40 Km e é o melhor ano", conta Ana Márcia. Leciona várias disciplinas, vários níveis, no ensino regular e profissional. Perante algumas propostas do ministro da Educação, João Costa, quer mais explicações. "Na proposta de vinculação, por exemplo, não diz exatamente quais são as condições".
Propostas em discussão
O Governo apresentou para negociação um conjunto de medidas que resume em três eixos: Aproximar (63 em vez de 10 zonas pedagógicas, reduzindo as distâncias para colocação), fixar (mais professores colocados) e vincular (mais lugares no quadro e menos tempo para vinculação). Mas há muitos outros problemas por resolver, segundo os professores: a contagem do tempo de carreira (foram retirados 6 anos, 6 meses e 23 dias, lê-se em vários cartazes); o fim das quotas para progressão de escalão, o aumento de salários, etc.,.

Margarida é professora de Português há 32 anos, sempre longe de casa.
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Margarida Velindro, 57 anos, dá aulas de Português há 32 mas, ainda assim, não tem tido vida facilitada, apesar de todos os alunos terem de frequentar a sua disciplina. "Moro em Coimbra e dou aulas no Agrupamento de Escolas em Arganil, faço 120 km todos os dias [ida e volta]. Estou no quadro há 31 anos, nunca consegui ficar em Coimbra. Estou no 6.º escalão e não poderei atingir o topo da carreira", protesta.
Susana Sequeira, 46 anos, professora do 1. º ciclo há 22 anos, em Alhandra, gostaria de lecionar na região do Alentejo, de onde é natural e onde não conseguiu vaga quando iniciou a carreira. "Há quatro anos que estou na mesma escola, mas andei por muito lado. Além de que há diferenças de condições de trabalho nos vários níveis de ensino. Um professor do 1.º ciclo trabalha mais horas que um dos outros níveis".

Susana é professora do 1.º ciclo, nível de ensino em que diz haver ainda mais desigualdades
© Rita Chantre / Global Imagens
Susana já foi sindicalizada e participou na manifestação de professores de 2008. Voltou à rua há 15 dias. Margarida também já foi sindicalizada, saiu e tinha desistido de participar. "Nunca era resolvida a minha situação". Defende: "O S.T.O.P. não é um sindicato, é um movimento espontâneo. O André Pestana é um líder/servidor".
Marcharam em defesa dos direitos dos profissionais da educação, a que juntaram os protestos com a decisão do Tribunal Arbitral, que decretou serviços mínimos para os dias de greve. Decisão que a CONFAP (Confederarão Nacional das Associações de Pais) elogiou. "É estranho estarem satisfeitos quando faltam condições nas escolas e de apoios sociais para os alunos", contrapõe André Pestana.
ceuneves@dn.pt
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