“O Influenza B é um vírus da gripe que não circulava como predominante desde antes da pandemia”
O último boletim do INSA demonstra que a atividade gripal começou a registar um ligeiro aumento na última semana de 2024. É possível prever quando é que se atingirá o pico da gripe? Este pode ser mais forte do que o da época anterior?
O que estamos a observar é que esta época tem todas as semelhanças às épocas de atividade gripal que se registavam antes da pandemia da Covid-19. Esta é a situação atual. No fundo, o que os dados nos mostram é que desde o início de dezembro tem havido um aumento da circulação do vírus da gripe que está a provocar infeções respiratórias. Mas, neste momento, e isto é algo que está descrito também, é normal que após o período do Natal e do Ano Novo haja ainda um aumento de transmissibilidade do vírus, devido à maior proximidade entre as pessoas e em locais fechados.
Quer dizer que o país não está a ter uma atividade gripal mais forte do que a do ano passado na mesma altura?
No ano passado, a época de gripe não se verificou exatamente nas mesmas semanas. A avaliação do INSA da atividade gripal é feita a nível de semanal. É com este timing que atualizamos os dados. Mas, do que sabemos agora, é que a atividade gripal é a esperada para uma época gripal de outono e inverno. A diferença relativamente à época passada é que este ano, em Portugal e até ao momento, o vírus detectado com maior frequência é o vírus Influenza do tipo B. É um vírus humano, sazonal, que só circulou no ano passado já no fim da época gripal, mas é um vírus que não circulava como predominante desde 2019, antes da pandemia.
A atividade gripal está a voltar ao que era antes da pandemia, o Influenza B volta a ser predominante?
O Influenza B é um vírus humano, da linhagem Vitória, e não circulava como predominante desde antes de 2019, circulava em simultâneo com o Influenza A. E nesta época está a verificar-se a sua predominância, mas também nem todos os vírus da gripe que estão a circular são do tipo B. Temos também a circular, com menor frequência, os vírus do tipo A, que ainda podem vir até a tornar-se predominantes nas próximas semanas. O que sabemos, de facto, é que, neste momento, os vírus predominantes são do tipo B.
Mas estamos a ter uma época gripal diferente das anteriores devido a Influenza B?
O que pode acontecer é que uma parte da população, nomeadamente a mais jovem, poderá ainda não ter tido qualquer contacto com este vírus e estar mais suscetível à transmissão. Mas, até ao momento, este vírus Influenza B parece ser um vírus semelhante àquele que está contemplado na vacina da gripe, que, nesta época contempla dois vírus, o Influenza A e B. O que nos indica a vigilância é que, até ao momento, a atividade gripal é normal, não tendo sido detetado a nível virológico nenhuma característica que possa ser associada a uma maior severidade da infecção ou das infecções respiratórias.
O facto de haver mais doentes complexos nas urgências não quer dizer que tenha a ver com o vírus...
Pelo menos, em relação às características virológicas nada foi detetado no sentido de haver maior severidade da doença respiratória, mas sabemos por outros estudos que, normalmente, a severidade das infecções respiratórias está associada à população de grupos de risco, como doentes crónicos, doentes com imunossupressão, pessoas com mais idade, grávidas, etc. Daí a recomendação por parte das autoridades de saúde para a vacinação contra a gripe em todas as épocas.
Voltando à questão do pico da gripe e porque ainda não foi atingido e as urgências já estão cheias, é previsível quando é que este pode ser atingido?
O que os dados e o conhecimento de outras épocas gripais nos têm mostrado é que, normalmente, a atividade gripal mais intensa pode durar entre 4 a 8 semanas. Portanto, é de esperar que durante o mês de janeiro ou até fevereiro possa haver um aumento da intensidade da atividade gripal. E isso é, no fundo, uma época gripal com características normais. Claro que agora após as festas e o regresso às escolas pode favorecer o aumento da atividade gripal, nas próximas semanas, e é de esperar que neste período, de 4 a 8 semanas, ocorra o pico da gripe.
Em relação aos sintomas detetados, são diferentes?
A maioria dos sintomas provocados pelo vírus da gripe são limitados no tempo e estão associados a sintomas respiratórios e a alguns sistémicos, como febre, dores musculares, embora os indivíduos de grupos de risco possam desenvolver outras sintomatologias que requerem, mais cuidados, como necessidade de oxigénio ou de internamento, embora estes sejam em menor número.
O que podem fazer os cidadãos para tentar atenuar o pico da gripe?
O que pode fazer é ter em conta as medidas que tivemos para combater a pandemia. Mas, neste momento, e porque ainda se está no início da atividade epidémica, a indicação até dada pela Direção-Geral da Saúde, é que quem integra grupos de risco e ainda não se se vacinou deveria fazê-lo, porque ainda vai a tempo. Esta é a melhor forma de prevenção da doença severa, de uma infeção respiratória grave. Para quem tem então já sintomatologia de gripe ou sintomatologia respiratória, as medidas de prevenção da transmissão aos outros e de proteção aos próprios são as que se usou para o SAR-COV-2, uso de máscara, lavagem de mãos, evitar espaços fechados ou mesmo a atividade social, sobretudo quando se está em contacto com pessoas que sabemos que são de risco para a doença mais severa. Não nos podemos esquecer que durante a pandemia ficou comprovado que todas estas medidas foram eficazes para evitar a transmissão do SARS-CoV-2, e que quase todos os outros vírus respiratórios, incluindo a gripe, estiveram também ausentes durante esse período. Portanto, as medidas utilizadas para evitar a transmissão do coronavírus foram também efetivas para a transmissão dos outros vírus respiratórios, incluindo a gripe, e podem e devem ser utilizadas nestas alturas.