A passagem semanal de Pedro Duarte por Lisboa dá-nos espaço para nos encontrarmos no Eric Kayser das Amoreiras. Se não fosse a atividade associativa, sobretudo na CIP e na Câmara de Comércio americana, e ainda algum trabalho político - de pensamento e contributo cívico, nada que o chame ao palco -, estaríamos a comer um lanche no seu Porto-natal, onde passa cada vez mais tempo. Mas as reuniões do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD - órgão consultivo que procura ouvir a sociedade civil para preparar a resposta do partido em futura governação -, para cuja liderança foi escolhido pelo amigo Luís Montenegro, obrigam-no a fazer a A1 com regularidade. Bem menos do que nos tempos de deputado, claro, até porque as funções que há 12 anos desempenha na Microsoft são mais internacionais e permitem que as cumpra de onde quiser. E cada vez mais é o Porto que lhe vai no coração.."Há 25 anos que faço este caminho - não me falta o que fazer em Lisboa, mas tenho valorizado crescentemente a minha cidade", diz, assumindo mais adiante que a família e os amigos, que são o seu centro nevrálgico e emocional, preenchem uma grande fatia do bolo que desequilibra a balança para o norte..Os esticões à capital começaram, ainda assim, mais tarde do que se tivesse aceitado o primeiro convite político que lhe fizeram, aos 22 anos, para ser número dois na lista do PSD Porto à Assembleia. Foi a primeira vez em que recusou fazer da política a sua vida. "Estava a tirar o curso e achava que tinha de me concentrar", justifica, explicando que a faculdade foi a sua primeira e única experiência de aprendizagem no privado, e apenas porque não havia cursos de Direito no público, no Porto..Com cafés à frente e já a descontrair da viagem de carro, Pedro confessa que nem sabe bem o que o levou à política, mas está certo de ter sido esta que o fez desembarcar nas leis - "gostava de Ciência Política, de Direito Constitucional; nunca fui atrás da ideia de exercer, de fazer barra, nunca vibrei com o processo judicial, mas gostava muito das matérias de organização do Estado", conta quem, de facto, passou escasso tempo a estagiar num pequeno escritório portuense, a Vaz e Loureiro, e depois na Miranda Advogados..Já iam longe dos tempos em que acreditava que os jogos a extremo-esquerdo no Boavista e no FC Porto - "cheguei a assinar uns contratos, ainda que duvide da sua legitimidade", ri-se - podiam levá-lo a uma carreira no futebol profissional. "Deixei de jogar aos 16 anos e logo no liceu comecei a interessar-me por temas que tinham que ver com a organização da sociedade.".Ninguém na sua família tinha inclinação ou proximidade com a via política - o pai era professor, a mãe farmacêutica, a irmã economista num banco -, mas recorda o pai a ler as notícias, a acompanhar o telejornal, e lembra-se das conversas familiares lhe despertarem interesse para os temas da governação. Daí a ver-se metido nas associações de estudantes foi um pequenino salto, com empurrão de alguns colegas de extrema-esquerda do liceu. "Estávamos naqueles movimentos contra a PGA, fazíamos manifestações... até que me apercebi que estava a ser manipulado pela JCP." Parou para pensar e encontrou as ideias em que se revia, aquelas que debatia no seu grupo de amigos, muito mais à direita. "Filiei-me na JSD e subi a presidente, depois fui deputado, fui fazendo esse percurso sem grandes ambições. Nunca estive na política porque queria ser ministro ou presidente da junta. Desde o início, o que me movia era o sentido de poder contribuir, dar alguma coisa à sociedade.".A subida fez-se por puxão, apenas um ano depois de ganhar a jota. Sendo presidente da juventude social-democrata, "tinha de ser deputado", diziam-lhe. Tinha uns 25 anos, "era um miúdo"... "Depois insistiram comigo que não podia deixar o Parlamento porque tinha assumido a presidência da comissão parlamentar de Educação e Ciência - era uma época conturbada e era importante ficar; depois fui reeleito e tornado vice-presidente do grupo parlamentar. E de repente percebi que estava ali há dez anos. estava a ficar igual aos que criticava, àquelas pessoas que vivem e dependem da política. E pus ponto final.".Fê-lo na altura mais inesperada: quando Pedro Passos Coelho, de quem fora um dos primeiros apoiantes, chegou a primeiro-ministro - e teve mesmo de lhe explicar, e aos outros, que saía por vontade e não por divergência, insatisfação ou motivos ulteriores. "A reunião de cinco minutos para dizer a Passos Coelho que ia sair durou duas horas, porque ele queria entender a minha decisão", conta..E se o convidassem agora para um governo? Resposta-reflexa: "Não, nem pensar, não está nos meus horizontes. Até porque já tive essa experiência - passei rapidamente pelo governo de Santana Lopes e foi maravilhoso. Já sei como é e está bom." Voltar à Assembleia também não o seduz. Insisto com o argumento de ainda estar ligado à atividade e ao partido. "Eu fiz uma opção ao fim de uma década porque não queria ser político profissional", justifica. "Pode parecer arrogante, mas não há muitas pessoas nestas andanças que tenham recusado tantos cargos políticos como eu, e de todos os tipos.".E se Passos voltasse? "Não tem que ver com protagonistas. O atual Presidente sempre foi inexcedível comigo, sou muito amigo de Montenegro e tenho enorme admiração por Passos Coelho, mas o que me mobiliza é pensar o futuro, o que aí vem." Admite que não vê grande viabilidade num regresso do ex-primeiro-ministro à política ativa e quanto ao PSD, considera-o muito bem entregue: "Confio nas qualidades de Luís Montenegro e acho que tem as características certas para, neste momento, liderar o partido e ser candidato a primeiro-ministro. Gostava que lá chegasse, porque acredito que tem condições para mudar o país.".Divorciado há mais de uma década - comecei a andar com a Ana aos 15 anos, casámo-nos aos 25 e divorciámo-nos aos 35", enumera, guardando os maiores elogios para a mãe das duas filhas em comum, Maria e Mariana, com quem mantém "uma relação fantástica" -, é com as miúdas que passa grande parte do tempo livre. E mesmo tendo a mais velha acabado de se mudar para Paris para estudar Gestão, tem com as filhas uma relação de enorme proximidade. "Fazemos imensos programas a três e tenho imensa sorte com elas em tudo." Não lhes dá, porém, o mesmo grau de liberdade de que ele próprio usufruiu, a crescer na Boavista, a jogar futebol na rua, a explorar a cidade com os amigos. Continua a viver na zona onde nasceu, agora na fronteira da escarpa social que separa Serralves e o bairro da Pasteleira..Conta-me como foi mudar de vida. Aos 35 anos, Pedro tinha a missão de reinventar-se. "Há alturas na vida em que tem de se mudar e se é para mudar, que seja radical. Então fiz algo quase tresloucado, fui fazer o oposto do que fazia como advogado e deputado, saltando para uma área altamente dinâmica e ativa, como a tecnologia, numa multinacional.".Não adorava ser advogado e tinha vindo a fazer uma aproximação apaixonada à gestão - fez uma formação na área para juristas, depois um MBA, a que se seguiu o mestrado no ISEG, em Economia Internacional. A vida e o funcionamento das empresas, a liderança, os comportamentos organizacionais atraíam-no e soube que a Microsoft estava a recrutar para a área legal. Uma batelada de entrevistas depois, com protagonistas sediados em Madrid, em Roma, em Berlim - todas remotas, muito antes da era do teletrabalho, chegando a ter de ir fazê-las à sede da empresa em Portugal para ter as devidas condições -, foi escolhido. E se ao fim de 12 anos não está nada arrependido, continuando visivelmente entusiasmado com o trabalho que tem - "adoro o que faço, principalmente poder estar sempre a aprender coisas novas, ter esta multiculturalidade... eu sou o único português na equipa e isso traz imensa riqueza" -, mais feliz ainda terá ficado a mãe, que detestou a sua incursão pela política. "Os meus pais, aliás, só souberam que eu tinha entrado nessa vida depois de lá estar", ri-se, explicando depois que os anticorpos da mãe resultam da exposição pública que a política traz e da má fama que tem ganho. "É um problema da sociedade, porque os incentivos para se estar na vida pública são cada vez mais os errados...".Quanto a ele, encontrou na tecnologia a sua missão e na Microsoft a sua casa. E ainda que evite os adjetivos, é óbvia a paixão com que fala da companhia e do potencial que, através dela, lhe passa pelas mãos. "Esta é a realidade que eu conheço, claro, não sou neutral, mas olhando para o mercado, é difícil encontrar uma empresa tão no epicentro das mudanças que estão e vão acontecer no mundo, do ponto de vista geopolítico (já investimos 300 milhões em apoio ao exército ucraniano, a defender Kiev de ciberataques, etc.) à Inteligência Artificial, com o ChatGPT a liderar. Outras, como a Cisco, a Google ou a IBM também estão neste campeonato, mas estamos no centro do furacão do futuro, e isso mobiliza-me imenso.".Há outro fator de atração: sendo a Microsoft uma companhia americana, não só aceita como até incentiva o envolvimento dos seus em temas da sociedade. E Pedro nunca perdeu a vontade de contribuir - o que explica que ainda dê tempo ao PSD e ao associativismo empresarial. E que tenha metido dois meses de licença sem vencimento para ajudar à eleição de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência, enquanto diretor de campanha. Uma coisa "muito concreta" e com o limite definido: "Foi o pressuposto para aceitar o convite, terminava funções no dia das eleições", conta. A Microsoft não impediu nada - "claro que é preciso cuidado com potenciais conflitos de interesse, mas a empresa tem mecanismos de compliance que o previnem, é tudo muito blindado, e eu tenho bom juízo". Até porque vê com bons olhos o trabalho cívico, seja em ONG ou na política.."Hoje tenho a tentação de achar que é possível fazer isto como quando era miúdo, em paralelo com o core da minha vida, porque a lógica do contributo cívico continua a realizar-me." Mesmo porque deixar a companhia é uma ideia irreal. "Tenho desafios novos todos os dias, a mudança é tão rápida que nem há zona de conforto ou acomodação possível, por isso não me sinto desassossegado como já me sentia na política.".Enterrado ficou o sonho de miúdo: "Dizia que queria ser piloto de aviões. Tinha um fascínio por isso, comprava livros, simuladores caríssimos... Mas percebi que era uma carreira limitada e que não iria chegar lá. Não era uma coisa muito racional.".E o que ainda gostava de fazer? "Aprender a cozinhar." Ri-se. "É horrível, sou péssimo. Além de ser útil, acho que ia gostar, porque admiro imenso as pessoas que o fazem. É um projeto de vida em que admito possa vir a ter sucesso."
A passagem semanal de Pedro Duarte por Lisboa dá-nos espaço para nos encontrarmos no Eric Kayser das Amoreiras. Se não fosse a atividade associativa, sobretudo na CIP e na Câmara de Comércio americana, e ainda algum trabalho político - de pensamento e contributo cívico, nada que o chame ao palco -, estaríamos a comer um lanche no seu Porto-natal, onde passa cada vez mais tempo. Mas as reuniões do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD - órgão consultivo que procura ouvir a sociedade civil para preparar a resposta do partido em futura governação -, para cuja liderança foi escolhido pelo amigo Luís Montenegro, obrigam-no a fazer a A1 com regularidade. Bem menos do que nos tempos de deputado, claro, até porque as funções que há 12 anos desempenha na Microsoft são mais internacionais e permitem que as cumpra de onde quiser. E cada vez mais é o Porto que lhe vai no coração.."Há 25 anos que faço este caminho - não me falta o que fazer em Lisboa, mas tenho valorizado crescentemente a minha cidade", diz, assumindo mais adiante que a família e os amigos, que são o seu centro nevrálgico e emocional, preenchem uma grande fatia do bolo que desequilibra a balança para o norte..Os esticões à capital começaram, ainda assim, mais tarde do que se tivesse aceitado o primeiro convite político que lhe fizeram, aos 22 anos, para ser número dois na lista do PSD Porto à Assembleia. Foi a primeira vez em que recusou fazer da política a sua vida. "Estava a tirar o curso e achava que tinha de me concentrar", justifica, explicando que a faculdade foi a sua primeira e única experiência de aprendizagem no privado, e apenas porque não havia cursos de Direito no público, no Porto..Com cafés à frente e já a descontrair da viagem de carro, Pedro confessa que nem sabe bem o que o levou à política, mas está certo de ter sido esta que o fez desembarcar nas leis - "gostava de Ciência Política, de Direito Constitucional; nunca fui atrás da ideia de exercer, de fazer barra, nunca vibrei com o processo judicial, mas gostava muito das matérias de organização do Estado", conta quem, de facto, passou escasso tempo a estagiar num pequeno escritório portuense, a Vaz e Loureiro, e depois na Miranda Advogados..Já iam longe dos tempos em que acreditava que os jogos a extremo-esquerdo no Boavista e no FC Porto - "cheguei a assinar uns contratos, ainda que duvide da sua legitimidade", ri-se - podiam levá-lo a uma carreira no futebol profissional. "Deixei de jogar aos 16 anos e logo no liceu comecei a interessar-me por temas que tinham que ver com a organização da sociedade.".Ninguém na sua família tinha inclinação ou proximidade com a via política - o pai era professor, a mãe farmacêutica, a irmã economista num banco -, mas recorda o pai a ler as notícias, a acompanhar o telejornal, e lembra-se das conversas familiares lhe despertarem interesse para os temas da governação. Daí a ver-se metido nas associações de estudantes foi um pequenino salto, com empurrão de alguns colegas de extrema-esquerda do liceu. "Estávamos naqueles movimentos contra a PGA, fazíamos manifestações... até que me apercebi que estava a ser manipulado pela JCP." Parou para pensar e encontrou as ideias em que se revia, aquelas que debatia no seu grupo de amigos, muito mais à direita. "Filiei-me na JSD e subi a presidente, depois fui deputado, fui fazendo esse percurso sem grandes ambições. Nunca estive na política porque queria ser ministro ou presidente da junta. Desde o início, o que me movia era o sentido de poder contribuir, dar alguma coisa à sociedade.".A subida fez-se por puxão, apenas um ano depois de ganhar a jota. Sendo presidente da juventude social-democrata, "tinha de ser deputado", diziam-lhe. Tinha uns 25 anos, "era um miúdo"... "Depois insistiram comigo que não podia deixar o Parlamento porque tinha assumido a presidência da comissão parlamentar de Educação e Ciência - era uma época conturbada e era importante ficar; depois fui reeleito e tornado vice-presidente do grupo parlamentar. E de repente percebi que estava ali há dez anos. estava a ficar igual aos que criticava, àquelas pessoas que vivem e dependem da política. E pus ponto final.".Fê-lo na altura mais inesperada: quando Pedro Passos Coelho, de quem fora um dos primeiros apoiantes, chegou a primeiro-ministro - e teve mesmo de lhe explicar, e aos outros, que saía por vontade e não por divergência, insatisfação ou motivos ulteriores. "A reunião de cinco minutos para dizer a Passos Coelho que ia sair durou duas horas, porque ele queria entender a minha decisão", conta..E se o convidassem agora para um governo? Resposta-reflexa: "Não, nem pensar, não está nos meus horizontes. Até porque já tive essa experiência - passei rapidamente pelo governo de Santana Lopes e foi maravilhoso. Já sei como é e está bom." Voltar à Assembleia também não o seduz. Insisto com o argumento de ainda estar ligado à atividade e ao partido. "Eu fiz uma opção ao fim de uma década porque não queria ser político profissional", justifica. "Pode parecer arrogante, mas não há muitas pessoas nestas andanças que tenham recusado tantos cargos políticos como eu, e de todos os tipos.".E se Passos voltasse? "Não tem que ver com protagonistas. O atual Presidente sempre foi inexcedível comigo, sou muito amigo de Montenegro e tenho enorme admiração por Passos Coelho, mas o que me mobiliza é pensar o futuro, o que aí vem." Admite que não vê grande viabilidade num regresso do ex-primeiro-ministro à política ativa e quanto ao PSD, considera-o muito bem entregue: "Confio nas qualidades de Luís Montenegro e acho que tem as características certas para, neste momento, liderar o partido e ser candidato a primeiro-ministro. Gostava que lá chegasse, porque acredito que tem condições para mudar o país.".Divorciado há mais de uma década - comecei a andar com a Ana aos 15 anos, casámo-nos aos 25 e divorciámo-nos aos 35", enumera, guardando os maiores elogios para a mãe das duas filhas em comum, Maria e Mariana, com quem mantém "uma relação fantástica" -, é com as miúdas que passa grande parte do tempo livre. E mesmo tendo a mais velha acabado de se mudar para Paris para estudar Gestão, tem com as filhas uma relação de enorme proximidade. "Fazemos imensos programas a três e tenho imensa sorte com elas em tudo." Não lhes dá, porém, o mesmo grau de liberdade de que ele próprio usufruiu, a crescer na Boavista, a jogar futebol na rua, a explorar a cidade com os amigos. Continua a viver na zona onde nasceu, agora na fronteira da escarpa social que separa Serralves e o bairro da Pasteleira..Conta-me como foi mudar de vida. Aos 35 anos, Pedro tinha a missão de reinventar-se. "Há alturas na vida em que tem de se mudar e se é para mudar, que seja radical. Então fiz algo quase tresloucado, fui fazer o oposto do que fazia como advogado e deputado, saltando para uma área altamente dinâmica e ativa, como a tecnologia, numa multinacional.".Não adorava ser advogado e tinha vindo a fazer uma aproximação apaixonada à gestão - fez uma formação na área para juristas, depois um MBA, a que se seguiu o mestrado no ISEG, em Economia Internacional. A vida e o funcionamento das empresas, a liderança, os comportamentos organizacionais atraíam-no e soube que a Microsoft estava a recrutar para a área legal. Uma batelada de entrevistas depois, com protagonistas sediados em Madrid, em Roma, em Berlim - todas remotas, muito antes da era do teletrabalho, chegando a ter de ir fazê-las à sede da empresa em Portugal para ter as devidas condições -, foi escolhido. E se ao fim de 12 anos não está nada arrependido, continuando visivelmente entusiasmado com o trabalho que tem - "adoro o que faço, principalmente poder estar sempre a aprender coisas novas, ter esta multiculturalidade... eu sou o único português na equipa e isso traz imensa riqueza" -, mais feliz ainda terá ficado a mãe, que detestou a sua incursão pela política. "Os meus pais, aliás, só souberam que eu tinha entrado nessa vida depois de lá estar", ri-se, explicando depois que os anticorpos da mãe resultam da exposição pública que a política traz e da má fama que tem ganho. "É um problema da sociedade, porque os incentivos para se estar na vida pública são cada vez mais os errados...".Quanto a ele, encontrou na tecnologia a sua missão e na Microsoft a sua casa. E ainda que evite os adjetivos, é óbvia a paixão com que fala da companhia e do potencial que, através dela, lhe passa pelas mãos. "Esta é a realidade que eu conheço, claro, não sou neutral, mas olhando para o mercado, é difícil encontrar uma empresa tão no epicentro das mudanças que estão e vão acontecer no mundo, do ponto de vista geopolítico (já investimos 300 milhões em apoio ao exército ucraniano, a defender Kiev de ciberataques, etc.) à Inteligência Artificial, com o ChatGPT a liderar. Outras, como a Cisco, a Google ou a IBM também estão neste campeonato, mas estamos no centro do furacão do futuro, e isso mobiliza-me imenso.".Há outro fator de atração: sendo a Microsoft uma companhia americana, não só aceita como até incentiva o envolvimento dos seus em temas da sociedade. E Pedro nunca perdeu a vontade de contribuir - o que explica que ainda dê tempo ao PSD e ao associativismo empresarial. E que tenha metido dois meses de licença sem vencimento para ajudar à eleição de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência, enquanto diretor de campanha. Uma coisa "muito concreta" e com o limite definido: "Foi o pressuposto para aceitar o convite, terminava funções no dia das eleições", conta. A Microsoft não impediu nada - "claro que é preciso cuidado com potenciais conflitos de interesse, mas a empresa tem mecanismos de compliance que o previnem, é tudo muito blindado, e eu tenho bom juízo". Até porque vê com bons olhos o trabalho cívico, seja em ONG ou na política.."Hoje tenho a tentação de achar que é possível fazer isto como quando era miúdo, em paralelo com o core da minha vida, porque a lógica do contributo cívico continua a realizar-me." Mesmo porque deixar a companhia é uma ideia irreal. "Tenho desafios novos todos os dias, a mudança é tão rápida que nem há zona de conforto ou acomodação possível, por isso não me sinto desassossegado como já me sentia na política.".Enterrado ficou o sonho de miúdo: "Dizia que queria ser piloto de aviões. Tinha um fascínio por isso, comprava livros, simuladores caríssimos... Mas percebi que era uma carreira limitada e que não iria chegar lá. Não era uma coisa muito racional.".E o que ainda gostava de fazer? "Aprender a cozinhar." Ri-se. "É horrível, sou péssimo. Além de ser útil, acho que ia gostar, porque admiro imenso as pessoas que o fazem. É um projeto de vida em que admito possa vir a ter sucesso."