Número de greves explode no início do ano. Função Pública paralisa hoje
Numa altura em que se voltam a ouvir sugestões de revisão da lei da greve - que partiram há dias do Presidente da República -, o número de paralisações dispara, como o provam os últimos números oficiais. Os tempos de trégua no período da "geringonça" são já só memória.
Os últimos números disponíveis nas estatísticas de greves da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) são os relativos a janeiro deste ano - e não enganam. Nos últimos dez anos não há comparação possível. O número de pré-avisos de greve ascendeu a 204. É quatro vezes mais do que no mesmo mês de 2022. E quase seis vezes mais do que em janeiro de 2021. E 2,5 vezes mais do que no janeiro mais agitado da última década, o de 2020. Por outras palavras: como os números claramente demonstram, o clima social mudou.
Relacionados
A agitação veio para ficar. E com o aparecimento de sindicatos novos, como o S.TO.P., que consegue mobilizar em greves e manifestações dezenas de milhares de funcionários do sistema educativo (docentes e não docentes), as antigas organizações sindicais mais convencionais sentem-se elas próprias na obrigação de acelerar e vir para a rua. Longe vão os tempos das tréguas sindicais ao governo do PS, no tempo da "geringonça".
É neste quadro, de agravamento das tensões sociais, que hoje a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública - uma das mais importantes estruturas sindicais da CGTP - promove uma greve, sendo previsíveis perturbações nos setores da educação, saúde, serviços centrais e locais. E que amanhã a central sindical promoverá uma manifestação em Lisboa.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
O seu líder, Sebastião Santana, já se manifestou bastante otimista: "Estamos à espera de uma adesão maciça", disse, acrescentando que serão afetados "serviços centrais da administração pública, as autarquias locais, serviços de saúde, entre outros, porque as reivindicações são justíssimas".

Fonte: Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho
© Infografia DN
Segundo previa há dias numa conferência de imprensa, poderá verificar-se nas escolas a "adesão forte", levando mesmo ao seu encerramento. "Os trabalhadores da administração pública andam a perder poder de compra há décadas, o governo continua sem dar resposta, temos um quadro de empobrecimento geral dos trabalhadores no país", afirmou, citado pela Lusa. E acrescentou que os sindicatos da Frente Comum da área da educação, que representam os trabalhadores não docentes, emitiram avisos prévios para a greve do dia 17 e não houve contestação dos serviços mínimos propostos para as escolas, mas "há tentativas de imposição à boleia de outras greves". "Estamos a falar de avisos prévios que incidem apenas sobre o dia 17, não houve contestação aos serviços mínimos propostos pelos sindicatos da Frente Comum neste setor, portanto não estamos à espera que nenhuma autarquia nem nenhum diretor de escola imponha serviços mínimos para este dia", reforçou.
O evidente agravamento dos protestos revelados pelos números de janeiro da DGERT sobre pré-avisos de greve surge também numa altura que se começam a ouvir sugestões de alterações à lei da greve. E essas sugestões até já foram feitas ao mais alto nível na hierarquia do Estado.
Na semana passada, na entrevista conjunta RTP/Público com que assinalou os seus sete anos de mandato, o Presidente da República, confrontado com as greves do S.TO.P. e com, por exemplo, o novo método das paralisações intermitentes, sugeriu alterações regulamentares, "para tornar previsível a vida das pessoas". Ou seja: há "novas formas de luta" que representam "uma realidade completamente nova" e essas novas formas de luta "não estão disciplinadas" pelo que "têm de ser previstas na lei".
O poder de iniciativa, acrescentou o Presidente, teria de partir ou do governo ou dos partidos no Parlamento. Ora, no governo a palavra de ordem é não mexer em nada - pelo menos por ora - e nos partidos do centrão (PS e PSD) passa-se o mesmo, para já não falar, evidentemente, nos partidos à esquerda do PS, que também recusam alterações. Nas centrais sindicais, esta é também uma ideia de que ninguém quer ouvir falar, por mais que as novas formas de luta protagonizadas por sindicatos independentes ponham em causa o poder do sindicalismo convencional.
E assim como há novas formas de luta em desenvolvimento, também os protestos chegam a setores que antes pareciam intocáveis. Ontem, por exemplo, manifestaram-se os enfermeiros do setor privado da Saúde, fazendo um dia de greve - e os patrões reagiram assegurando "grande abertura negocial" para acolher as reivindicações.
Os protestos estão também a chegar ao setor da comunicação social. Os trabalhadores da Lusa aprovaram uma greve de quatro dias, entre dia o próximo dia 30 e 2 de abril. Os trabalhadores da TVI também chegaram a ter uma paralisação marcada para a última quarta-feira, mas desconvocaram-na, face a uma nova proposta salarial da administração.
Partilhar
No Diário de Notícias dezenas de jornalistas trabalham todos os dias para fazer as notícias, as entrevistas, as reportagens e as análises que asseguram uma informação rigorosa aos leitores. E é assim há mais de 150 anos, pois somos o jornal nacional mais antigo. Para continuarmos a fazer este “serviço ao leitor“, como escreveu o nosso fundador em 1864, precisamos do seu apoio.
Assine aqui aquele que é o seu jornal