Novo projeto abre caminho à reabertura das piscinas de São Pedro de Moel
O verão de 1967 foi agitado na Praia de São Pedro de Moel. Não se via desde o tempo em que o poeta Afonso Lopes Vieira organizava grandes tertúlias e receções na (sua) casa Nau, em cima da praia. No primeiro dia de junho era inauguradas as piscinas, um complexo que integrava também salões de banquetes e festas. Américo Tomás, então presidente da República, cortou a fita. Era um empreendimento privado, por iniciativa do industrial José Nobre Marques, que procurava algum reconhecimento público e social, para ombrear com o sócio José Lúcia da Silva, que acabara de oferecer um teatro à cidade de Leiria.
À distância de 57 anos, Pedro Barosa consegue visualizar a festa de inauguração. Era um rapaz de 16 anos nesse verão que mudou a vida de São Pedro de Moel e dos amantes da praia. Para mais, o pai fora presidente da Câmara da Marinha Grande até meados da década de 60, e por isso tem bem presente as idas à obra, mas sobretudo o que lhe antecedeu: as conversas, as autorizações, tudo o que envolveu o projeto.
“Vivemos bastante aqueles acontecimentos. A entrada sempre foi cara, mas eu e um grupo de amigos arranjávamos sempre maneira de passar lá um dia por semana: entrávamos de manhã e saíamos à noite. Lembro-me que havia um cartão com furinhos para quem podia comprar essa espécie de passe para um mês, e nós arranjávamos maneira de passar o cartão de uns para os outros, para entrarmos à borla”. Pedro foi um dos que encheu a sala do edifício Cosmos Azul e Mar, em São Pedro de Moel, onde no mês passado decorreu a reunião de Câmara (descentralizada) da Marinha Grande, tendo o Pedido de Informação Prévia e o respetivo projeto de arquitetura da requalificação das piscinas sido aprovado por unanimidade. Apesar de já não ter casa na praia, como na juventude, continua “um apaixonado por São Pedro de Moel”. E por isso regozijou, como tantos, com a esperança de ver renascer um espaço tão emblemático da vila, da praia “e do país”.
“Ter uma piscina, literalmente em cima da praia, sobre o mar, era um luxo”, recorda ao DN. Afinal, mesmo nos dias de mar bravo – que eram muitos – “podíamos sempre tomar banho”. De resto, esse foi um dos motivos que levou à construção daquele complexo, como recorda Gabriel Roldão, morador na vila desde o início da década de 80. “Naquela altura não tínhamos nada, foi um grande contributo para o concelho da Marinha Grande, com uma grande importância social”, recorda o investigador da história local.
Mais tarde, em 1987, o edifício seria adaptado a discoteca (a Hot Rio), e dois anos depois a Câmara deferiu a licença para a construção de salas de jogos. Já em 2004, uma nova licença seria emitida para adaptação do complexo a restauração e bebidas, ginásio, bem como a cinco espaços destinados a dança e salão de festas”. Foi assim que o empresário Luís Vasco Pedroso encontrou o espaço quando decidiu geri-lo, quatro anos depois. Ele que fora porteiro na discoteca, aos 19 anos, haveria de ficar para sempre ligado à história das piscinas de São Pedro com a criação doi Snoobar, e do Cheer’s. Até que, em 2013, acabou por atirar a toalha ao chão, fechando a porta. Até hoje. A crise de 2011 anunciou-se também nos espaços de diversão. De pouco lhe valeu todo o empenho na preservação do espaço, tão-pouco a aquisição das ações da Promoel, empresa proprietária.
“Os custos de manutenção estavam proibitivos, acabei por ter de fechar”, conta ao DN o empresário, que ainda hoje mantém o Old-Beach, a praia velha, em São Pedro, e o bar do Sport Operário Marinhense. Vendeu as ações “a um preço irrisório” ao grupo Gestoliva, que continua a deter o espaço – e que agora apresentou esta proposta de requalificação. Já houve outros interessados, ao longo da última década, mas “esbarram sempre nos requisitos da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), que acabou por chumbar todos”. Até que, finalmente, parece haver uma luz ao fundo do túnel.
Piscina sem saltos e apartamentos turísticos
Quando o grupo The Gift gravou o videoclipe do tema Verão nas Piscinas de São Pedro de Moel, em 2019, ficou evidente o estado de abandono, qual ferida aberta sobre a praia. Desde então, há sempre uma espécie de curiosidade mórbida à volta do espaço. Na apresentação do projeto de recuperação, entre a sala cheia, as opiniões dividiam-se. “Há quem ache que aquilo que vão fazer é uma aberração, que é uma dor de alma. Para mim também não é o ideal, mas a dor de alma é maior quando lá passo e vejo aquilo assim. Até tento desviar o olhar”, sublinha Pedro Barosa.
O plano de recuperação agora aprovado aponta para “um complexo turístico moderno, com arquitetura leve e contemporânea, integrado na paisagem, que vai ao encontro das mais exigentes práticas de sustentabilidade ambiental. É um projeto que respeita a História, os valores e o carisma de São Pedro de Moel. É um projeto aberto a todos, que vai manter a piscina aberta ao público veraneante, como queria o seu primeiro fundador”, afirma o presidente da Câmara, Aurélio Ferreira.
O projeto aponta para recuperar o conjunto antes construído, inserido na encosta, recuado em relação ao mar, “mantendo o espaço exterior o mais livre possível”. Junta-se agora um empreendimento de 15 apartamentos turísticos de tipologia T1 e T2, com classificação de 3 estrelas, um ginásio e um kids club. O novo edifício reduz a sua área de construção e redefine o seu volume, assegurando maior harmonia do conjunto com a envolvente.
Inclui ainda piscinas exteriores, um grande espaço de solário, área de animação infantil e espaços de lazer ao ar livre e um restaurante/lounge/cafetaria com esplanada. A zona sul é reservada às piscinas, com um grande plano de água e a antiga “piscina de saltos” transformada em chapinheiro para crianças, mantendo as pranchas como memória. A piscina grande será redimensionada numa outra configuração. Paralelamente, foi aprovado outro PIP relativo à construção de um conjunto habitacional com 14 apartamentos habitacionais.