Os serviços de saúde em Portugal têm vindo a identificar um maior número de casos de mutilação genital feminina (MGF), sobretudo nos últimos quatro anos. De acordo com os dados que constam do Registo de Saúde Eletrónico (RSE-AP) entre 2015 e 2024 foram identificadas 1290 mulheres que sofreram mutilação genital.Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), que, nesta terça-feira, Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital, publica o relatório anual sobre a situação detetada no nosso país, “este aumento de registos reflete a maior sensibilidade dos profissionais de saúde para esta matéria e não-necessariamente um agravamento destas práticas”, refere-se no documento. O mesmo revela que, no ano de 2024, foram registados 254 casos de MGF, o que representa um aumento de 13,9% em relação ao ano anterior, em que se registaram 223 casos.Os dados referentes a esta última década revelam que, em 2015, foram identificados 59 casos, em 2016, 78, em 2017, 60, em 2018, 63, em 2019, 126, em 2020, 99, em 2021, 138, em 2022, 190, em 2023, 223, e em 2024, 254. Sendo que a maioria das situações foram detetadas no âmbito da gravidez, 39,0% no parto; 17,7% no puerpério; 11,8% em consultas de vigilância. No âmbito “não-gravidez” foram detetados 15,7% nos cuidados hospitalares e 15,7% nos cuidados de saúde primários. A DGS destaca que dos casos identificados em 2024, “nenhum foi praticado em Portugal.”.Governo vai lançar campanha sobre riscos da mutilação genital feminina. A Guiné-Bissau continua a ser o local predominante em que ocorreram os casos (65,4%). Seguem-se Guiné Conacri (26,4%), Gâmbia e Senegal (3,1%). O que, segundo explica a DGS, “vem reforçar a informação já conhecida, tendo em conta o predomínio das comunidades imigrantes residentes em Portugal e a prevalência estimada da MGF nesses países.”De acordo com a DGS, as mulheres identificadas em 2024 com MGF em Portugal tinham, no momento do registo, entre os 21 e 30 anos, sendo que a média da idade aquando da realização do procedimento foi de 7,7 anos, variando entre os 6 meses e os 44 anos de idade. “Em cerca de 70,9% dos casos, a mutilação ocorreu até aos 9 anos de idade.” O relatório indica ainda que, em 2024, foram registadas complicações em 130 mulheres, correspondendo a 51,2% da totalidade dos registos, verificando-se que “82 incluem complicações do foro psicológico, 59 obstétricas, 55 de resposta sexual e 48 sequelas uro-ginecológicas.”A maioria dos registos, 73,6%, foram feitos em hospitais e 26,4% nos Cuidados de Saúde Primários. À exceção de um caso registado na região Centro, todos os outros casos foram registados em Lisboa e Vale do Tejo, o que “pode ser enquadrado, por um lado, na maior concentração de mulheres migrantes oriundas de países onde se pratica a MGF e, por outro, na realização de diversas ações de formação e de sensibilização destinadas a profissionais de saúde (cuidados de saúde primários e hospitalares) nesta região”, explica a DGS.