Natalidade subiu: mais 4219 bebés fizeram o teste de pezinho em 2022
Primeiros dados indicam uma ligeira subida da taxa de natalidade comparativamente com ano anterior, quando a pandemia provocou uma grande quebra. .
O Vasco nasceu no dia 12 de abril de 2022. Ele e outros 83 453 bebés fizeram o teste do pezinho (rastreio neonatal), o que representa um aumento de 5% relativamente ao ano anterior. Quem terá adiado a maternidade devido à pandemia, decidiu avançar quando surgiu uma vacina e as restrições foram levantadas. Se a tendência se irá manter, só em séries longas se saberá, mas os especialistas dizem que é preciso que os pais tenham um emprego estável
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A decisão de ter, ou não, um filho passa por múltiplos fatores, segundo a socióloga da família, Vanessa Cunha. O fator mais decisivo é ter um trabalho não precário e cujo rendimento seja compatível com as despesas para mais um membro na família. Daí que a grande queda demográfica de Portugal tenha ocorrido em 2013, na sequência da crise financeira.
"Nos anos da pandemia, tivemos uma nova quebra, que não teve tanto impacto como nos da crise devido ao discurso político e às medidas de mitigação da pandemia. Houve um choque muito grande no início da pandemia e as pessoas tiveram receio, mas não foi tão intenso como poderia ter sido porque houve uma tentativa de não se perderem postos de trabalho", explica Vanessa Cunha.
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Os pais do Vasco, de 9 meses, são Luís Canha (47 anos) e Ana Pereira (41), que já tinham um filho, o Tomé, de 3. Vivem na ilha da Madeira. Acompanharam a tendência dos portugueses em atrasar o nascimento do primeiro filho. Ana explica que no seu caso não foram decisivas as questões financeiras: "Foi fruto das circunstâncias, antes não tinha a pessoa certa."
Estavam juntos há quatro anos quando tiveram o primeiro filho. "Quisemos organizar a vida, aproveitar um bocado enquanto casal. Tudo acontece na hora certa", defende. Tem uma licenciatura na área do ensino, que não exerce. Ela e o irmão têm uma empresa familiar na área florestal. O marido é engenheiro civil.
Ana Pereira reconhece que são uma família com melhores condições económicas que muitas outras e têm uma boa estrutura familiar, que os apoia no cuidar das crianças. E o custo das creches na Madeira é bem inferior a outras zonas de Portugal. Isto, apesar de o governo regional não ter acompanhado a decisão do governo da república de tornar estes estabelecimentos gratuitos para as crianças que nasceram a partir de setembro de 2021, desde que seja uma Instituição Particulares de Solidariedade Social ou privada caso não haja vaga no público ou numa IPSS.
O casal paga 126 euros mensais na creche por cada filho, o valor máximo. Não têm qualquer subsídio devido ao rendimento do casal não o contemplar. E a Câmara Municipal da Calheta, onde vivem, deposita 50 euros mensais por cada criança até aos 5 anos de idade, valor que aumentou para 55 euros com o Vasco. "Há outras câmaras, como a de Santana, que dão este apoio. E, falando com amigos que vivem no Continente, também sei que os preços das creches e dos estabelecimentos de ensino são muito mais elevados".
48% em Lisboa e Porto
Na Madeira, 1751 bebés fizeram o teste do pezinho (ou diagnóstico precoce) o ano passado, mais 61 do que em 2021, mas menos 67 do que em 2020, acompanhando as oscilações do país. Os bebés estudados nos distritos de Lisboa (24 882) e do Porto (15 255) correspondem a 48% do total. Em terceiro lugar está Braga (6407), em quarto, Setúbal (6 373 ) e, em quinto, Aveiro (4104), todos localizados no Litoral. No lado oposto, estão as zonas do interior, com três distritos a não atingir os mil nascimentos anuais: Bragança (574) , Portalegre (584)e Guarda (612).
ão são o número exato das crianças que nasceram em Portugal, uma vez que o teste é feito entre o 3.º e o 6.º dia de vida do bebé, mas é equivalente. São os dados da Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética, do Departamento de Genética Humana do Instituto Ricardo Jorge,
Os números da natalidade começaram a subir em 2014 sem ser em demasia, com nova queda em 2021. O ano passado começou com poucos nascimentos (6482 testes em janeiro) e houve uma redução em dezembro (6744), mas agosto, setembro, outubro e novembro, ultrapassarem os sete mil. Setembro bateu o recorde anual (7979).
Um movimento de subidas e descidas que se têm verificado nos últimos anos. "Tem havido ligeiras oscilações que não alteram as tendências de fundo. Temos um processo de envelhecimento que, no topo, está ligado à longevidade e, na base, à redução de nascimentos. Muitas vezes, estamos a falar de alterações que parecem que são uma mudança de tendências mas obedecem a contextos mais circunstanciais que alteram ligeiramente os indicadores. As grandes mudanças foram durante o período da crise e da austeridade, o que teve um impacto muito forte a nível da natalidade e da fecundidade", explica Vanessa Cunha.
Na última década, agravou-se o fenómeno de envelhecimento da população, "com o aumento expressivo da população idosa e a diminuição da população jovem", indicam os Censos 2021. O país registou um decréscimo populacional de 2,1%. Cresceu o número de núcleos familiares monoparentais e baixou o das famílias numerosas.
ceuneves@dn.pt