Muitos festejam o Halloween mas poucos sabem a história

Hoje à noite comemora-se o que começou por ser uma tradição celta. Os portugueses acolheram a data, com os mais novos a irem de casa em casa a dizer "doce ou travessura"
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As abóboras, as teias de aranha e os chapéus de bruxa tomam conta das montras. De norte a sul do país, fantasmas, bruxas, zombies e vampiros vão sair à rua. As bloggers dão sugestões de maquilhagem e dicas para os melhores disfarces. "De uma tradição totalmente inexistente na sociedade portuguesa, o Halloween passou a um evento com alguma relevância. É um costume que está incorporado na nossa cultura a todos os níveis", destaca Mafalda Ferreira, especialista em ciências do consumo. Mas, apesar de ser festejado por muitos - principalmente pelos mais pequenos com os seus disfarces e pedidos de doces -, poucos conhecem a história do Dia das Bruxas.

"Não me parece que haja conhecimento da tradição associada. É celebração por celebração, sem o contexto presente. Como é uma tradição que remete para as questões místicas, tem piada por isso", diz ao DN a docente do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM). Segundo a responsável pelo Observatório de Consumo do IPAM Porto, nos últimos dez anos, houve "um crescimento sistemático a vários níveis", nomeadamente "na oferta de lazer para o segmento mais velho, de adolescentes e jovens adultos". Por outro lado, surgem cada vez mais "acessórios e uma parafernália de artigos que permitem caracterizar o dia". As marcas, prossegue, "estão muito atentas à recetividade dos consumidores a novos produtos ou eventos, pelo que conseguem criar vontade de ter objetos". Refere-se por exemplo às maquilhagens e aos acessórios.

O primeiro contacto com o Halloween, que há alguns anos surgia com a disciplina de Inglês, "hoje surge muito mais cedo, logo no pré-escolar". "E o facto de estarmos mais recetivos à informação, à facilidade em perceber o que está a acontecer noutras partes do mundo, faz que as tradições que antes tinham um cariz local passem a assumir uma perspetiva global. É por isso que vários eventos foram incorporados na cultura portuguesa", frisa Mafalda Ferreira.

Pelo bairro à espera de doces

Das escolas às corridas temáticas, o Dia das Bruxas é festejado de norte a sul do país. É o caso de Duarte que já escolheu a máscara de monstro que vai usar hoje na escola - tem 5 anos e está no pré-escolar - e na volta que ao final do dia vai dar pelo prédio e no bairro onde mora, em Corroios. Tal como nos dois anos anteriores junta-se a outras crianças, algumas mais velhas, como a irmã, e irá bater à porta dos vizinhos a pedir "doces" e a ameaçar "travessuras", diz. Depois o grupo vai dar a volta ao bairro e espera receber mais doces.

Esta é uma prática que ganhou maior dimensão nos últimos anos. Popularizado pelos Estados Unidos, este é, segundo os historiadores, um costume que teve origem numa tradição celta, o Samhain ("fim do verão"). A festa começava no dia 31 de outubro e durava três dias. Nesse dia o povo acreditava que havia maior proximidade entre mortos e vivos. Os espíritos voltavam a casa para pedir comida, pelo que os familiares deixavam alimentos à porta.

Em 1845, a tradição viajou da Irlanda para a América do Norte, na sequência da Grande Fome. Nessa altura terá surgido a tradição moderna de trick-or-treat (doce ou travessura), que depois foi exportada para vários países. Em Portugal já existia há vários séculos o "pedido de pão por Deus", que ainda resiste em algumas zonas mais rurais. Grupos de crianças saem à rua no dia 1 de novembro e vão bater às portas e pedir bolos e dinheiro. Um costume que está relacionado com a tradição popular portuguesa de dar bolos secos a quem ajudou nas colheitas.

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