Motas vão circular em faixas bus de Lisboa. Táxis e Carris são contra
As motas e scooters vão poder circular em faixas destinadas aos transportes públicos em Lisboa. Para já, será só em três avenidas e ruas da capital, no âmbito de um projeto-piloto que irá durar 180 dias, mas que poderá ser alargado ao resto da cidade. A proposta do executivo resulta de uma recomendação feita pelo CDS-PP em fevereiro do ano passado, mas que os centristas consideram pouco ambiciosa. Nos pareceres enviados à autarquia, a ANTRAL [Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros] e a Carris mostram-se contra a abertura dos corredores bus aos motociclos e ciclomotores.
A proposta é assinada pelos vereadores Manuel Salgado, do Urbanismo, e Carlos Manuel Castro, da Mobilidade de Proximidade, e deverá ser debatida na reunião privada de amanhã. No documento lê-se que foram escolhidas a Avenida Calouste Gulbenkian, a Avenida de Berna (entre a Praça de Espanha e o Largo Azeredo Perdigão) e a Braamcamp (entre a Rua Rodrigo da Fonseca e a Rua Duque de Palmela). Entre os vários critérios, os vereadores tiveram em conta a segurança na circulação, a fluidez do trânsito e a ligação entre polos de atração. "Se bem-sucedido", o projeto "poderá ser alargado ao resto da cidade."
O CDS-PP, que iniciou a discussão em janeiro do ano passado, congratula-se com a proposta, mas considera que vem tarde e é pouco ambiciosa. "Surge quase 15 meses depois da proposta que apresentámos. Vem tarde, mas mais vale tarde do que nunca", disse ao DN João Gonçalves Pereira, vereador do CDS-PP na autarquia.
A expectativa, adianta, é de que, "num futuro próximo, o projeto-piloto possa ser alargado a outras zonas". Para Gonçalves Pereira, o que está previsto "é poucochinho", pois, na opinião do vereador, a autarquia deveria ter incluído outras zonas na experiência. "Podia ter tido outro tipo de ambição e arrojo", destaca.
O vereador do CDS-PP defende ainda que foi feita "uma marotice" pelos autores da proposta, uma vez que não existe qualquer referência à recomendação feita pelos centristas em fevereiro do ano passado. João Gonçalves Pereira lembra que "a cidade ficará muito melhor", pois trata-se de uma medida que "beneficia quem circula de mota e de automóvel", tornando "a circulação mais segura" e "diminuindo a sinistralidade".
De acordo com a proposta, a Direção Municipal de Mobilidade e Transportes (DMMT) fez um estudo, solicitando os pareceres obrigatórios. A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) e o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT, I.P.), "se bem que sem carácter vinculativo, vieram, na sua generalidade, apoiar e incentivar esta medida, desde que fiquem acauteladas as necessárias medidas de segurança rodoviária e a necessária monitorização e avaliação do projeto-piloto, essencialmente ao nível da sinistralidade".
No entanto, a ANTRAL e a Carris opõem-se à abertura das faixas bus aos motociclos. No parecer enviado à câmara municipal, a Carris sustenta que não é "possível garantir as condições de segurança aos condutores vulneráveis". Já a associação que representa os taxistas considera também que a segurança rodoviária fica posta em causa, além de se "criar o caos na circulação destas vias, tornando a circulação muito mais lenta, difícil e insegura".
Contactado pelo DN, Florêncio Almeida, presidente da ANTRAL, diz que a circulação das motas nas vias reservadas aos transportes públicos "coloca em causa a segurança dos próprios motociclistas" e levará a que ocorram "acidentes com mais frequência". O representante dos taxistas defende que, "se os corredores bus foram feitos para os transportes públicos, é para eles que devem continuar a ser". A medida já foi implementada no Porto, mas "a cidade de Lisboa tem características diferentes". Florêncio Almeida adianta que, mesmo "não sendo legal", as motas "já circulam por todo o lado". "Toda a gente circula nos corredores bus e ninguém faz nada", lamenta.