Morreu o grande repórter do DN Manuel Neto
Quando se fala do jornalista Manuel Neto, fala-se obviamente do Manel. O tipo que as novas gerações diriam que era "um tipo cool". A saber: sempre de ganga, ténis, sempre All Stars, t-shirts ou camisa por fora das calças, com orgulho na careca que ostentava há muito e, no bigode, uma marca sua, sobretudo nos anos que para ele foram os anos de ouro da capital, (nos anos de 1970-1980), mas que abandonou tempos antes de deixar o jornalismo.
O Manel era um tipo cool, acima de tudo o camarada de Redação que tinha sempre uma história para contar a quem chegava de novo, uma palavra a dizer a quem stressava ou que achava que não era capaz. "Recordo-me do Manuel Neto como um verdadeiro camarada, capaz de ajudar quem precisasse na redação apesar do seu estatuto de grande repórter. Era uma figura popular na redação", diz Leonídio Paulo Ferreira, atual diretor adjunto do DN.
O Manel, e se a memória não trai os mais próximos deveria ter agora 70 anos, embora a idade não passasse por ele ou ninguém soubesse verdadeiramente há quanto tempo durava o seu percurso do lado de cá da vida. Sabia-se que se antes era um amante da noite, da cidade, da vida urbana, agora tinha voltado ao Norte para se dedicar ao campo. Jornalista e pintor, o Manel foi acima de tudo um viajante, dentro do seu próprio país, ou em qualquer parte do mundo.
Dele é conhecida a história, que deixou escrita nas páginas do DN, o ano sabático que tirou, ainda jovem e rumou para os Estados Unidos da América para começar a conhecer pessoas e o mundo. Quis o destino que Jacqueline Kennedy o aceitasse como seu funcionário, bartender, durante meses, sem saber do seu interesse já pela escrita e pelo jornalismo, onde conheceu a diva e muitos dos que com ela privaram. As histórias que vividas contava-as aos camaradas de redação e escreveu-as.
"O Manel era uma figura querida nas redações., conhecido pelas suas histórias, esta era uma entre muitas", diz José Leite Pereira, ex-editor de política e ex-editor executivo do DN e diretor do Jornal de Notícias. O Manel era jornalista. Ponto. Repórter. Em qualquer área, tanta fazia que fosse na área da cultura, da sociedade ou do internacional. No DN, trabalhou para quase todas as secções. De Grande Repórter à edição. Da sociedade e da cultura ao internacional, tendo sido ele um dos enviados do DN para a cobertura da Guerra do Golfo, em 1991. Mas ao fim de 30 anos de profissão acabou por deixar o jornalismo. Tinha 53 anos quando tomou a decisão de trocar "a caneta e o bloco de notas pelo pincel e pelo acrílico" e, embora com formação em fotografia e cerâmica, preferiu sempre assumir-se como "um artista autodidata"
Deixou a capital para se refugiar no Meco, onde recuperou umas cavalariças que serviam de atelier e de galeria ao mesmo tempo. A porta da Quinta dos Curvais estava aberta para quem quisesse ver os seus quadros e também algumas peças de cerâmica. Depois, rumou a Espanha, ao Sul, Marbella, onde continuou a pintar e a expor durante vários anos. Regressou a Lisboa, fez várias exposições e há um tempo regressou ao Norte, a Ponte de Lima, para, mais uma vez, ser um viajante de uma nova vida.
Manuel Neto, o Manel, nasceu na Foz, no Porto, frequentou o Colégio Brotero e o Liceu Garcia de Orta, cedo se fascinou pela escrita, pelas crónicas dos espetáculos, pelas crónicas da noite, pelas entrevistas a tantos e tantos artistas. Começou no Jornal do Comércio, depois veio para a capital para integrar a Secção de Cultura e Espetáculos no Diário de Popular durante vários anos. Foi jornalista, repórter e editor no jornal de espetáculos O Sete, e no início da década de 1990 ingressou na Redação do Diário de Notícias. O Manel partiu subitamente. À família, o DN endereça as mais sinceras condolências.