Moradores votaram em jardim contra parque da EMEL
O Jardim do Caracol da Penha foi o projeto mais votado do Orçamento Participativo (OP) de Lisboa. O que levanta agora um problema à autarquia, uma vez que para este local estava prevista a construção de um parque de estacionamento da EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa ).
A votação foi clara: 9477 lisboetas preferem ver naquele espaço - onde se juntam as freguesias de Arroios e Penha de França - um jardim público, do que 86 lugares de estacionamento. Perante este resultado, a Câmara Municipal "está a estudar uma forma de compatibilizar a proposta vencedora do OP para o Jardim do Caracol da Penha com a questão do estacionamento para aquela zona que também é uma necessidade muito sentida pela população local", respondeu fonte oficial da autarquia ao DN.
Já do lado dos proponentes do projeto este resultado deixou todos os envolvidos "satisfeitos". "O nosso objetivo é ter um jardim público sem carros e não travar o estacionamento. Até porque esta é uma das zonas da cidade com forte carência de espaços públicos em geral", defende Miguel Pinto, do Movimento 180.
Para o movimento que se juntou em junho, a luta pelo jardim contra o parque da EMEL, "surgiu em resposta ao que, no entender dos seus integrantes, se apresentou como um diagnóstico inadequado da priorização - por parte da Câmara Municipal de Lisboa e das Juntas de Freguesia de Arroios e Penha de França - das necessidades da população, privilegiando o estacionamento automóvel em detrimento da criação de espaços verdes", pode ler-se no comunicado do projeto. Como iniciativa vencedora do OP na área de projetos estruturantes, o Jardim do Caracol da Penha vai receber 500 mil euros para a sua concretização. A proposta inclui espaços de produção hortícola, jardim, parque infantil e equipamentos desportivos.
A presidente da Junta de Freguesia da Penha de França, Sofia Oliveira Dias, felicitou os proponentes. No entanto, a autarca mantém a sua posição: "Defendo o projeto da EMEL, porque precisamos mesmo de estacionamento e o projeto deles parecia equilibrado entre espaços verdes e estacionamento."
Sofia Oliveira Dias faz referência ao facto de no projeto da EMEL constar zonas verdes de árvores entre o estacionamento previsto. O que, no entender, dos promotores do jardim era apenas "um estacionamento ajardinado" e que não permitia o usufruto do espaço público para a população local. Como alternativa o movimento 180 propõe o uso de oficinas em garagens de recolha ou usar edifícios devolutos para criar parques de estacionamento.
Recorde de votações
Esta edição do Orçamento Participativo teve 51 591 votos, mais nove mil votos face ao anterior recorde de votação. Registando-se assim um aumento de 22%. O segundo projeto estruturante mais votado foi a construção de um pavilhão desportivo em Carnide.
O aumento de participação revela, segundo o vereador da Relação com o Munícipe, Jorge Máximo, referiu à Lusa, "que o OP é uma ferramenta cada vez mais procurada pelas pessoas para darem ideias para a cidade". "O Orçamento Participativo mostrou que está vivo", sublinhou, acrescentando que este continua a ser "um excelente barómetro da governação e daquilo que as pessoas desejam".
Além destes dois grandes projetos vencedores, outros 15 (ver exemplos na fotolegenda e textos ao lado) são de caráter local e têm um valor de 150 mil euros cada um. Esta nona edição do OP contou com 182 projetos a votação, dos quais 106 eram estruturantes e 76 de âmbito local. A Câmara Municipal de Lisboa disponibilizou 2,5 milhões de euros para os projetos vencedores. Um milhão para os estruturantes e 1,5 milhões para os locais.