ModaLisboa prenuncia estação fria cheia de cor
Foi logo a seguir ao almoço que se iniciaram os desfiles do segundo dia da Moda Lisboa que decorre este fim de semana na capital e que exibe as coleções outono/inverno 2017/18. O espaço foi pequeno para o desfile do designer de moda Filipe Faísca, com público a ficar à porta mas todas as filas da plateia estiveram repletas de gente.
A tarde começou com o desfile da Awaytomars, uma marca de criação e financiamento coletivo, que apresentou peças de roupa pintadas à mão e fez uma performance de Body Painting; e seguiu com a apresentação de Ricardo Andrez com uma coleção que corresponde "à estética sport/street explorada pela marca, contrastando com beleza clássica". Pouco depois foi a vez da Eureka mostrar o seu calçado romântico e minimalista. A música exótica que abriu o desfile da estilista Lidija Kolovrat este sábado na Moda Lisboa, no interior do Museu Coleção Berardo, no Centro Cultural de Belém, já fazia prever o que se seguiria: uma coleção com cores bastante vivas, onde predominaram os coordenados vermelhos, e que nos transportou para o clima exótico das florestas da América do Sul.
Nestas suas peças, a criadora bósnia misturou lã, tecidos e bordados, chegando até a fazer em alguns coordenados desenhos com fios e correntes coloridas descoladas das roupas, acabando por balançar ao ritmo do movimento dos manequins.
A maquilhagem por sua vez, não foi uma das apostas de Kolovrat, com a maioria dos modelos a desfilar com a cabeça ou o rosto totalmente coberto com redes, que variaram entre o preto e o vermelho, ou máscaras de bordadas com várias cores.
Entre os 26 manequins que desfilaram para Kolovrat esteve Luís Borges, uma cara bem conhecida dos portugueses.
Faísca encantou
O ponto mais alto da noite havia de se seguir. O passado ressoa no desfile de Filipe Faísca, mais concretamente a passada década de 80. A coleção outono inverno 2017/18 apresentada este sábado, na segunda noite de desfiles da Moda Lisboa, a decorrer no Centro Cultural de Belém, até domingo visitou esse tempo colorido de Portugal, tendo como peças marcantes grandes casacos feitos dos tradicionais cobertores de papa que à época habitavam as casas populares, as palas para sombrear o rosto no verão, os plissados que apareceram subidos até aos colarinhos dos casacos compridos e no brilho compacto de alguns vestidos e jumpsuits.
Mas esta é apenas um parte dessa coleção que incluiu saias de várias alturas, algumas delas em lápis até ao joelho, realçando a silhueta feminina, outras largas e fluidas até ao tornozelo, passado também por vestidos - um cinzento com capuz, outros dois em rosa velho, bastante clássicos, e um incrível vestido preto, super feminino, que parece de tecido impermeável e forrado a penas.
A coleção de Filipe Faísca parece mais inspirada no verão do que no inverno, se ao verão associamos o tempo do lazer, da descontração, não deixando de ser sofisticada atributo que consegue através das sedas e dos estampados animal. Um encontro feliz com o passado e com o público que encheu a plateia da Moda Lisboa, aplaudiu longamente e, em alguns casos, de pé.
Oficina Mustra requintada
A Oficina Mustra apresentou uma coleção assumidamente masculina, cheia de requintes de alfaitaria, com casacos de fazenda assertoados a predominar. O tailor é mesmo o ponto forte desta marca portuguesa para homem que aposta numa componente manual como forma de diferenciação.
A atriz Inês Nunes, que depois de uma carreira nas passerelles nacionais, enveredou pela representação, estando de momento a interpretar uma personagem transexual, desfilou no meio dos manequins masculinos encarnando a mesma personagem. Esta escolha, assim com as echarpes utilizadas em alguns coordenados, não é inocente. A intersexualidade está pelos vistos a entrar na moda, até num dos domínios mais conservadores como é a alfaiataria. Os manequins internacionais Luís Borges e Fernando Cabral, que estiveram recente em trabalho nas Semanas de Moda de Milão e Paris também vestiram a Oficina Mustra para este desfile.
Luís Carvalho em grande
Amilna Estevão, a modelo angolana que desfilou para Yves Saint Laurent há poucos dias, abriu o desfile de Luís Carvalho com os lábios pintados de vermelho tal como todas as modelos que a seguiram. Com o passo seguro e ritmado pela música que deu à plateia vontade de dançar, exibiu um coordenado preto com brilho.
Ao preto juntaram-se os vermelhos secos, verdes, verdes e prateados, a maioria repletos de reflexos. Uma escolha natural já que foi no mar que o designer se inspirou como explicou ao Delas.pt nos bastidores "Mais uma vez fui buscar a inspiração natureza que é quase sempre uma referência nas minhas coleções. Inspirei-me nos animais, nas plantas, e nas espécies que habitam o fundo mar, através da fluidez e das formas mais ondulantes. Nas cores usei os pretos e os azuis-escuros, mas depois com apontamentos de cor que fui buscar aos corais e a alguns peixes que tem cores mais garridas."
Desta viagem o designer também trouxe as sobreposições e as formas ondulantes que se desenharam nos vestidos em recortes e drapeados. Uma coleção com quarenta e cinco coordenados de materiais ricos e formas coerentes, com opções para mulheres de todas as idades e estilos. Mas que foi escolhida para desfilar hoje foi uma mulher confiante e irreverente, características reveladas pelas meias de rede e pelas botas de atalhos que não podiam ter funcionado melhor nesta coleção.