Medidas do Governo para o Mira entram em vigor

89% de Portugal Continental está em seca e este foi o quarto abril mais quente desde 1931. Espera-se que agrave no verão.

Apartir de hoje será proibido, temporariamente, a instalação de novas estufas e a plantação de novas culturas permanentes nas áreas agrícolas na zona do Mira, como é o caso de Odemira, até que os níveis de água sejam repostos na albufeira de Santa Clara, que alimenta aquela área. Esta foi uma das medidas que o Governo determinou para combater a seca que tem afetado Portugal.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), 89% do território de Portugal Continental está em situação de seca, com 34% do mesmo em seca severa e extrema. Beja, Évora, Faro, Portalegre, Santarém e Setúbal são os distritos com concelhos em seca extrema. Esta área duplicou em relação a março, altura em que 48% do território estava a ser afetada.

O verão revela-se desafiante e espera-se um agravamento. "O que podemos esperar para o verão é, muito provavelmente, um agravamento desta situação de seca a nível nacional. As regiões mais afetadas serão o Algarve e Alentejo, mas também a Norte poderá haver um agravamento", diz Sara Correia, técnica da Associação ambientalista Zero.

Também Espanha está a ser afetada por uma seca e o país aprovou um pacote de mais de 2 mil milhões de euros para combater o impacto da seca no setor produtivo. Tanto neste país como em França alguns municípios já proibiram a rega de jardins, lavagem de carros e o enchimento de piscinas. No verão passado Portugal tomou medidas semelhantes, mas este ano ainda não foram anunciadas.

"Essas medidas, pela mensagem que passam à população, têm o efeito de sensibilizar para a necessidade de pouparmos. A questão é que são medidas muito dirigidas para o setor urbano, que não é de todo o setor que mais água consome", afirma a técnica da Zero. Os principais consumos de água a nível nacional têm origem na agricultura e, por isso, o nível de poupança no setor doméstico não é tão significativo.

Sara Correia explica que além de nos estarmos a deparar com uma redução da quantidade de água, também enfrentamos a redução da sua qualidade. "Há uns anos tivemos uma evolução positiva a nível de melhoria de condições das nossas massas de água, mas nos últimos temos assistido precisamente ao contrário". A agricultura e a pecuária têm um impacto significativo na qualidade da água e é necessário criar medidas que ajudem na poupança. A nível urbano também é necessário investir em sistemas de saneamento para aumentar a rede nacional. "Ainda temos municípios com uma percentagem da sua área muito pouco abrangida por sistemas de saneamento". A qualidade é esssencial pois se não for garantida vai diminuir ainda mais as utilizações que se podem fazer da água disponível.

Quanto à decisão do Governo de limitar novas estruturas na zona de Mira, a Zero considera que é uma medida positiva pois não se podem instalar culturas que necessitam de muita água num momento em que não se pode aumentar a procura deste bem. "A medida é positiva, a questão é que nessa região já temos muitas estufas instaladas, já se criaram necessidades de água ao longo destes anos. É uma medida que é insuficiente face às necessidades que temos neste momento". As culturas permanentes necessitam de água o ano inteiro e não sazonalmente como na agricultura mais tradicional, em que os agricultores determinam que tipo de cultura vão fazer com base na água disponível. "Temos de pensar no tipo de culturas que estamos a promover a nível nacional, especialmente nas regiões mais afetadas".

A Zero critica ainda não haver uma estratégia preventiva para a seca em Portugal. "Os vários Governos têm falhado ao aplicar medidas no momento, numa situação que já está instalada, em vez de criar medidas preventivas para fazer face a situações futuras".

sara.a.santos@dn.pt

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