Médicos querem regras para condutores com vertigens
Os condutores com problemas de equilíbrio devem ter limitações na condução, por exemplo, é o que defende um grupo de médicos especialistas de toda a Europa. A Associação Dizzynet - Rede Europeia para a Investigação de Vertigem e Equilíbrio -, da qual faz parte o médico Leonel Luís, diretor do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santa Maria, quer emitir uma série de orientações para entregar no início do próximo ano às entidades europeias.
"Na Europa a regulação sobre esta matéria é quase inexistente", e tendo em conta que a que existe (em quatro países) é díspar, os especialistas decidiram propor regras que uniformizem todo o espaço europeu, explica o médico. Embora admitindo que os doentes "já tem a preocupação de limitar a condução quando têm crises de equilíbrio, vertigem ou enxaquecas, há a necessidade de regular estes casos".
"Queremos uma regulação equilibrada que no fundo responda àquilo que é uma necessidade, mas que não proíba as pessoas de conduzir porque têm uma problema de saúde que afeta o sistema vestibular [conjunto de órgãos do ouvido interno] - um problema de saúde que aliás é extraordinariamente frequente, todos nós conhecemos pessoas que têm tonturas, desequilíbrios, por exemplo, enxaqueca vestibular. Queremos pura e simplesmente regular de uma forma que seja inclusiva, construtiva e transversal, que não seja completamente diferente conduzir em Portugal e em Espanha, mas que também não diga a um doente - e é isso que acontece, neste momento, na Alemanha - que não pode conduzir um carro como não profissional, mas pode pilotar um avião."
Leonel Luís adianta que o grupo - que começou este trabalho agora -prevê chegar a um documento final "em janeiro" e nessa altura entregar as conclusões às entidades europeias, que "se mostraram disponíveis para receber o documento". Apesar de não haver números definitivos, sabe-se que os problemas de equilíbrio e enxaquecas representam, só no Hospital Santa Maria, 1 a 2% de todas as urgências. "Valores que estão em linha com os dados internacionais", acrescenta o especialista português.
Um dos passos que o otorrinolaringologista defende é a criação de uma subespecialidade que se dedique a estas doenças, credibilizando-as. "Temos uma associação portuguesa que é a APO, Associação Portuguesa de Otoneurologia, que está exatamente a trabalhar para criar a subespecialidade de otoneurologia, ou seja, uma subespecialidade de médicos tanto otorrinos como neurologistas que se dedicam ao tratamento destes doentes, com vertigem, com tontura, com desequilíbrio."
Serão esses especialistas que depois avaliam os doentes - cujas patologias são curáveis - e determinar em que circunstâncias e durante quanto tempo ficam inibidas de, por exemplo, conduzir. "Queremos também dar proteção laboral, para que estes doentes possam ficar sem conduzir ou regular os seus horários de acordo com o problema de saúde. Há pessoas que não podem trabalhar de noite, por exemplo, e precisam dessa justificação clínica."