Médicos e doentes reivindicam o rastreio do cancro do pulmão
Associação quer que todos façam exames e lança campanha de sensibilização "Não há dois pulmões iguais. Não há dois cancros iguais". Este tumor é o que mais mata em Portugal.
O cancro do pulmão é um dos tumores mais mortíferos, o terceiro entre as doenças cancerígenas em Portugal e o que mais mata. Daí que vários especialistas, os médicos e os doentes, reclamem o rastreio tal como acontece para o cancro da mama e do colo do útero. É a associação Pulmonale que dinamiza o debate e, esta quarta-feira, lança a campanha de sensibilização para a heterogeneidade: "Não há dois pulmões iguais. Não há dois cancros iguais."
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"Pretendemos sensibilizar a população para perceber que cada caso é único e cada cancro tem um perfil. Os doentes devem procurar o máximo de informação sobre a sua situação e compreender que não é igual à do amigo, ao conhecido, que teve um cancro do pulmão", explica Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale, Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão.
Comparar a própria situação com a de alguém que passa pelo mesmo é uma das razões que levam ao diagnóstico tardio deste tumor, segundo a dirigente associativa. "Há pouca literacia, o cancro do pulmão é diagnosticado numa fase muito tardia e, durante muitos anos, estava associado a uma sentença de morte. Hoje, as opções de tratamento são muito diferentes. É importante falar sobre isto para que as pessoas estejam abertas e promovam o diagnóstico atempado".
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Uma prevenção que tem de ser feita a nível individual, uma vez que o país ainda não adotou o rastreio universal como acontece em outros. "O tema esteve em discussão a nível da comunidade c científica durante anos. Em finais de 2020, foram publicados estudos que demonstram a efetividade do rastreio. Os Estados Unidos e o Canadá a avançaram primeiro, entretanto, começaram os países europeus, alguns dos quais ainda em projeto copiloto. A associação está a promover o debate para que se introduza o rastreio para minimizar a taxa de mortalidade por cancro do pulmão", explica.
Diagnóstico atempado
O diagnóstico precoce pode aumentar a taxa de sobrevivência ao tumor, que atualmente se situa nos 15% cinco anos após ser diagnóstico. Em 2020, Portugal registou 5400 novos casos da doença e 4 797 mortes. Este tumor é responsável por 11,6 % de todos os casos de cancro, dados da World Count, uma vez que o registo nacional só existe até 2018. "Seria importante que a divulgação dos dados fosse em tempo útil para perceber a evolução da doença, por exemplo, saber é o impacto da pandemia", critica Isabel Magalhães.
4 797 mortes em 2020
O que se sabe decorre da experiência clínica. A perceção do oncologista António Araújo, diretor de oncologia do Hospital de Sto. António (Porto), é que a pandemia agravou o estado de saúde destes doentes. "As pessoas adiaram a ida às consultas e ao hospital e acabaram por vir à urgência num estado mais avançado da doença. Entravam muito mais pela urgência do que pela referência dos médicos assistentes (medicina geral e familiar)".
Há um primeiro indicador que são as mortes o ano passado devido ao cancro do pulmão, praticamente o mesmo número dos novos casos. E que será um valor subestimado, alerta o médico, já que morreram pessoas sem o diagnóstico.
"O cancro do pulmão é o tumor que mais mata em Portugal e em todo o mundo e tem vindo a aumentar", diz António Araújo. A principal razão reside no tabaco. "Existe o efeito do consumo do tabaco entre os homens e que, apesar de estar a descer nos últimos anos, ainda não desceu na taxa de mortalidade. E, por outro lado, aumenta o consumo de tabaco entre as mulheres".
Os efeitos negativos da nicotina na saúde dependem do número de cigarros consumidos diariamente, do período de tempo em que se é fumador, se usa cigarros com ou sem filtro, se trava e inala o fumo, etc. Tendo conta todos os indicadores, "um fumador aumenta em 20 vezes o cancro do pulmão relativamente a um não fumador", sublinha o oncologista. Explica que cada cinco cigarros provoca uma mutação genética.
A taxa de incidência é maior a partir das décadas dos 60 e 70 anos, particularmente dos 60 aos 70.
Novembro é o mês dedicado ao cancro do pulmão. A campanha de sensibilização da Pulmonale tem como embaixadora Helena Costa, participação consiste na recolha de testemunhos, cujos vídeos serão disponibilizados. "Entrevistei três pessoas e percebi exatamente o que estavam a passar", sublinha.
Foi diagnosticado um tumor carcinoide do pulmão à atriz em dezembro, um ano depois dos primeiros sintomas. Descobriram quando se investigava a razão pela qual uma asma não reagia ao tratamento. A situação está estável há seis meses e, se fosse hoje, a atriz diz que teria reagido de forma diferente aos sinais.