Matou 300 pessoas a mando de Escobar. Agora o Popeye é estrela no YouTube

Nos anos 80 e 90 do século passado esteve envolvido em alguns dos mais sangrentos casos do Cartel de Medellín. Cumpriu 20 anos de prisão e agora aposta nas redes sociais para falar e "ser ouvido". Pois, diz, é um "ativista"
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John Jairo Velásquez Vásquez matou 300 pessoas e terá sido o cérebro de 200 atentados com carros-bomba, sempre a mando de Pablo Escobar, o líder do Cartel de Medellín. Agora é uma estrela no YouTube, rede social em que tem um canal que consegue ter mais de 40 mil visualizações por cada vídeo que tem publicado nos últimos meses.

Conhecido nos tempos áureos como Popeye, Velásquez, que esteve preso 22 anos, decidiu apostar nas redes sociais para, segundo diz, se penitenciar da vida de violência e homicídios que levou. De tal forma leva esta "nova vida" a sério que até já é conhecido como Popeye Arrependido.

Aos 54 anos, o antigo assassino de um dos cartéis mais temidos do mundo, diz, em declarações ao The New York Times, querer "ter uma opinião". "Sou um ativista. Sou contra os governos venezuelano e colombiano. Sou contra Donald Trump [candidato republicano às presidenciais dos EUA que terão lugar em novembro] devido ao seu ódio contra os latinos. Só quero que ouçam a minha opinião", frisou aos jornalistas Christopher Mele e Sandra E. Garcia.

E as suas opiniões parecem interessar a muitos: os vídeos têm mais de 117 mil subscritores e 9,5 milhões de visualizações. Mas a verdade é que esta forma de estar do homem que foi preso por ser uma das pessoas que planeou a morte de um candidato presidencial colombiano em 1989 - Luis Carlos Galán, do Partido Liberal Colombiano - não agrada a muitos colombianos, principalmente os familiares de vítimas de John Jairo Velásquez Vásquez.

O filho de uma delas - um homem que morreu num avião em Bogotá (Colômbia) com mais 106 pessoas, em 1989 - disse recentemente ao The Guardian que a popularidade do ex-assassino está a ofuscar o mal que fez nas décadas de 80 e 90 do século passado. Gonzalo Rojas salientou que Vásquez nunca mostrou remorsos pelas suas atitudes anteriores.

Há ainda quem lhe chame "um auto promotor astuto" que capitaliza as suas ações, alegando que agora está reformado desta cultura de narcotraficante.

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A estas acusações Velásquez responde dizendo que se sentiu "renascido" após ficar em liberdade condicional, em agosto de 2014. Foi depois de sair da prisão que surgiu uma página no Facebook - Pope El Guerrero e até uma conta no Twitter. Ambas estão sem atividade desde agosto de 2015. Ao contrário dos vídeos no YouTube, em que têm surgido com mais regularidade. O mais recente tem um mês e mais de 40 mil visualizações.

Quando, no início do ano, criou o canal na rede social John Velásquez explicou que estava a mostrar a sua reintegração. "Ser um assassino não é normal", sublinhou, acrescentado que agora "respeito a vida e a sociedade". O sucesso de Velásquez é explicado por Vicent Gawronski, professor de ciência política no Alabama, com o facto de os assassinos bem-sucedidos serem "glorificados", por exemplo em séries e filmes. E dá os exemplos de Scarface, Os Sopranos ou Narcos.

Resposta aos familiares

Nessas declarações, o antigo assassino responde a perguntas que vai recebendo de familiares de vítimas dos ataques do Cartel de Medellín. "Foi a guerra [no combate ao tráfico por parte das autoridades] que matou o seu [respondendo a um familiar de um polícia morto] irmão, que estava defendendo um país, uma instituição. E fomos assassinos pagos pelos cartéis", defendeu-se.

A sua ligação a Pablo Escobar [foi o líder do Cartel de Medellín e desde 1975 que esteve ligado ao tráfico de droga, tendo morrido em 1993, aos 44 anos] é um dos fatores que faz que seja famoso. Aliás, escreveu um livro sobre o ex-patrão com o título O Verdadeiro Pablo: Sangue, Traição e Morte, em 2006.

Em outubro, num dos seus vídeos Velásquez referiu-se a essa ligação, garantindo que nunca iria dizer mal de Escobar: "Para mim, Escobar era um terrorista, um traficante de drogas, um sequestrador, mas também era meu amigo, ele tratou-me sempre com bondade e respeito. Era o tipo de homem que te olhava nos olhos e tu fazias o que ele dizia. Toda a gente sabe o que ele era, mas para mim sempre foi bom. Eu amei Pablo. Ele nunca me ficou a dever dinheiro por nenhum dos meus trabalhos."

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