Marcelo Rebelo de Sousa avisa que Portugal precisa de “quase milagre” no PRR e elogia “realidade forte” do DN
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alertou para o “quase milagre” que será necessário para aplicar 16 mil milhões de euros do PRR na abertura da conferência “O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter”, que está a decorrer nesta sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. E, felicitando o "Diário de Notícias" pelos seus 160 anos, acompanhado a História de Portugal, da Monarquia Liberal à Democracia, passando pela Primeira República, pela Ditadura e pela Revolução, realçou que o jornal "em boa hora permanece, resiste, é uma realidade forte no presente e para o futuro".
"Não houve período histórico que não tivesse as suas peripécias, os seus protagonismos, as suas lutas internas, a sua projeção no Diário de Notícias", disse o Chefe de Estado, numa intervenção gravada em vídeo, no lançamento de uma reflexão motivada pela "mudança de ciclo" no Mundo, Marcelo Rebelo de Sousa começou por realçar que existe um novo período nos Estados Unidos, com o regresso à presidência de Donald Trump. Mas em circunstâncias muito diferentes do que as do primeiro mandato do republicano, "porque há guerras que não existiam" e que tem o objetivo de terminar, mas também porque "a economia é diferente", após a pandemia e "crises várias". Decorre disso que "a Europa está diferente e com crises nos sistemas políticos, económicos e sociais", enquanto se "inverteu a ordem dos factores" na relação entre a cada vez mais liderante China e a Federação Russa.
Destacando que também em Portugal há "um novo ciclo", iniciado pelas eleições legislativas e que neste ano terá as eleições autárquicas, para o próximo ano as presidenciais, e no meio as eleições regionais na Madeira, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que para os Estados Unidos será "uma ilusão esquecer o Atlântico, esquecer a Europa, a ligação da Europa a África e à América Latina, em função de uma estratégia concentrada, apenas ou sobretudo, militarmente, estrategicamente e economicamente na China e no Pacífico".
Marcelo Rebelo de Sousa advertiu ainda para o "factor novo" que consiste na presença de grandes grupos multinacionais "que aparecem a fazer de intermediadores entre os grandes poderes". Sobre esses grupos, com negócios na China e na Rússia e influência nos Estados Unidos, disse que "intervêm na vida económica, social e política, nomeadamente na Europa, não respondem perante ninguém e não tem controlo nem escrutínio nenhum".
"É a concentração do poder económico nas mãos de muito poucos, que juntam ao poder económico o poder político, e de alguns muito poucos que juntam ao poder político o poder económico", acrescentou o Chefe de Estado na sua intervenção.
Quanto à realidade nacional, apontou como fundamental o crescimento económico. "Sem crescimento económico é muito difícil combater a pobreza, é impossível combater as desigualdades económicas e sociais", disse, realçando que isso pressupõe estabilidade política, dizendo que "naquilo que depender do atual Presidente da República assim será até ao fim do mandato".
Para Marcelo Rebelo de Sousa, será preciso que haja "contas certas" a assegurar estabilidade financeira, "mas também um mínimo de entendimento no sistema partidário para questões de regime". E apontou áreas como a Justiça, Administração Pública, Saúde, Educação e Habitação, até porque "é uma ilusão haver uma nova política, uma nova estrutura e uma nova realidade" sempre que um novo Governo inicia funções.
Sobre o PRR, o Chefe de Estado disse que "está muito atrasado", considerando que seria "um quase milagre que aquilo que não se fez em três anos", pois só se "pôs no terreno" 6300 milhões de euros, possa ser feito em ano e meio ou dois anos, aplicando 16 mil milhões. "Importa recuperar o tempo perdido e ver até onde é possível ir", disse.
No que toca à coesão económica e social, o Presidente da República alertou para a "sobreposição das manchas de envelhecimento e pobreza", em que os apoios sociais "periódicos e pontuais" constituem "sempre remendos numa situação que se vai agravando com o aumento da esperança média de vida".
E advertiu para o facto de Portugal, e a Europa em geral, estar a ficar para trás na Educação, Qualificação, Ciência e Tecnologia, comparando com os Estados Unidos, a China, o Japão, a Índia e outros países asiáticos.