O Presidente da República celebra esta quarta-feira a "força inquebrantável das mulheres", no dia internacional que lhes é dedicado, e considera que os passos dados para a igualdade em Portugal são ainda insuficientes.."Neste Dia Internacional das Mulheres, num momento em que aos desafios da pandemia recente se somam os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia e o seu impacto no quotidiano de todas e todos, o Presidente da República celebra a força inquebrantável das mulheres em todos os domínios da sociedade portuguesa", afirma o chefe de Estado..Numa mensagem escrita publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa acrescenta: "Trabalhadoras, cuidadoras, protagonistas da grande e da pequena história - mães, avós, companheiras, amigas - exemplo contínuo, através de gerações, de sabedoria, coragem, cuidado, apesar dos obstáculos com que se deparam, da violência, assédio e discriminação que tantas vezes as vitima até no seio das suas famílias".."A nossa democracia deu passos decisivos para salvaguardar a igualdade na lei e mitigar a discriminação contra as mulheres na Constituição, na legislação, na família, na revisão do Código Civil, na paridade no emprego, nos salários, nos cargos de direção, na política, nas responsabilidades familiares e domésticas, na proteção contra a violência - grandes passos, mas, ainda, insuficientes na promoção da igualdade de oportunidades", considera..O Presidente da República defende que neste dia internacional "cabe reconhecer o papel das mulheres na luta pelos seus direitos, inspiração histórica de outras lutas contra a injustiça na nossa sociedade e pelo mundo".."A todas as mulheres e em especial àquelas cuja invisibilidade, medo e sofrimento são vividos em silêncio, o Presidente da República estende hoje o seu reconhecimento solidário, a sua gratidão sentida no seu papel para a construção de um Portugal mais sustentável, inclusivo e próspero", lê-se na mensagem..Marcelo Rebelo de Sousa termina esta nota com "uma palavra de esperança", referindo que esta quarta-feira, simbolicamente, terá um encontro com uma associação criada por mulheres que vivem ou viveram em situação de sem-abrigo..António Costa, que terá hoje um almoço com 100 mulheres cientistas no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, assinalou a data com uma mensagem em que salienta o compromisso do Governo em relação ao combate pela igualdade para que "todas e todos" possam explorar o seu potencial.."Neste Dia Internacional da Mulher, celebramos as conquistas e progressos de todas as mulheres, conquistas de toda a sociedade. Saúdo a coragem de todas e todos os que lutam pela igualdade e dos que erguem a sua voz, por todo o mundo, por esta causa comum", escreveu o líder do executivo no Twitter..Na sua mensagem, o primeiro-ministro destacou também "o compromisso do Governo neste combate pela igualdade, para que todas e todos possam explorar o seu potencial e concretizar os seus sonhos"..O presidente da Assembleia da República, por seu lado, realçou que a democracia foi removendo da lei as discriminações que existiam em relação às mulheres e considerou que a luta pelos seus direitos deve ser travada todos os dias.."É muito importante continuarmos a comemorar o Dia Internacional da Mulher como um dia pela igualdade, a igualdade entre mulheres e homens, entre homens e mulheres. Essa igualdade é hoje mais forte do que era na lei, no sentido em que foram removidas certas barreiras legais que representavam discriminação das mulheres. E queria recordar isso mesmo, recordar que antes do 25 de Abril em Portugal havia mesmo discriminação legal, na lei, das mulheres", observou o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros numa mensagem em vídeo artilhada no Twitter..Augusto Santos Silva referiu depois que, por exemplo, "as mulheres estavam impedidas de ser militares, ser diplomatas ou ser juízas".."Felizmente, com a democracia, essas discriminações na lei foram sendo sistematicamente removidas. Mas não todas as discriminações na prática. E essas, é preciso continuar a combatê-las para que a igualdade seja uma igualdade real, uma igualdade entre todos", advertiu..O presidente da Assembleia da República defendeu que é "importante ter consciência dos problemas mais graves que o país enfrenta, porque alguns deles são problemas ligados justamente às discriminações de género"..Como exemplos, apontou o "flagelo que é a violência contra as mulheres, em particular, a violência doméstica contra as mulheres".."Este dia, o Dia Internacional da Mulher, é o dia que existe e que merece existir para nos lembrar que a luta pela igualdade, a luta pelos direitos das mulheres, é uma luta não deste dia mas de todos os dias", acrescentou..A acompanhar o vídeo, foi também publicada uma mensagem que se volta a referir que 8 de março é o Dia Internacional da Mulher.."Devemos assinalar esta data porque continuamos a viver numa sociedade que podia e devia ser mais igual, podia e devia insurgir-se todos os dias contra a discriminação, podia e devia combater todo o tipo de violência contra as mulheres", frisa-se nessa mensagem..Associações feministas e sindicatos vão marchar esta quarta-feira em 12 cidades portuguesas pelos direitos das mulheres, no âmbito da Greve Feminista Internacional, que acontece em Portugal desde 2019.."Além da celebração das nossas vidas, queremos também dar visibilidade à violências, às opressões, às desigualdades que as mulheres são alvo numa sociedade desigual, quer as mulheres cis [cisgénero], quer as mulheres trans [transexuais]", adiantou à Lusa Cheila Collaço Rodrigues, ativista do núcleo de Lisboa da Rede 8 de Março..A greve, que acontece no Dia Internacional da Mulher, vai para a sua quinta edição e decorrerá esta quarta-feira nas cidades de Aveiro, Barcelos, Braga, Bragança, Coimbra, Évora, Faro, Guimarães, Leiria, Lisboa, Porto e Vila Real, e, no sábado, em Chaves.."Esta greve assenta numa onda muito específica do feminismo e em três pilares principais: a greve laboral, a estudantil, mas também as dos cuidados -- que é, basicamente, o trabalho que as mulheres desempenham na sociedade e que sem o qual a sociedade colapsa", salientou..Cheila Rodrigues acrescentou que "o capitalismo colapsa sem o trabalho doméstico das mulheres"..Segundo a ativista, na iniciativa que vai decorrer em Lisboa, serão homenageadas todas as vítimas de feminicídio durante o ano passado em Portugal.."Todos os anos temos acesso aos números, que são vergonhosos, e estamos a falar apenas dos casos de feminicídio. Nem sequer falamos dos casos de violação. Há uma maior visibilidade, mas ainda há muito trabalho a fazer", realçou..Planeando "gritar" esta quarta-feira pelos direitos que têm faltado às mulheres nos últimos anos, a ativista prometeu fazer muitas críticas ao Governo por não apresentar soluções.."É a altura de nos unirmos. Nós feministas, mulheres de esquerda e todos os aliados", sublinhou, ressalvando que as mulheres devem "fazer frente à conjuntura nacional e internacional, que atualmente é bastante difícil"..A Rede 8 de Março vai também contar esta quarta-feira com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores de Call Center (STCC), do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Solidariedade e Segurança Social (STSSSS) e do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P.), que também já tinha agendado uma greve para o mesmo dia..O movimento, segundo Cheila Rodrigues, pretende "passar a mensagem de que o feminismo não é o que separa", mas sim o capitalismo, o patriarcado e a opressão..Apontado ainda para uma "luta histórica", a ativista recordou que os anos da pandemia foram muito complicados, apesar de a Rede 8 de Março nunca ter saído das ruas.."Fizemos sempre questão de garantir que algumas companheiras estariam sempre nas ruas, embora existissem assembleias 'online'", indicou, acrescentado que a partir de quinta-feira, um dia após a marcha, será iniciada a preparação para a iniciativa de 2024.