Manuel Salgado. Há 14 anos a ser o DLT (Dono de Lisboa Toda)
Investigações da PJ envolvem obras autorizadas pelo arquiteto que de 2007 a fevereiro passado, na vereação ou como presidente da SRU, controlou o essencial da política urbanística de Lisboa - e ainda hoje é consultor de Medina
Se o banqueiro Ricardo Salgado foi durante muitos anos conhecido como o DDT (Dono Disto Tudo), o seu primo arquiteto Manuel Salgado, poderia muito bem ser cognominado com toda a justiça de o DLT (Dono de Lisboa Toda). O percurso de ambos nas respetivas profissões é marcado por equivalências. A mais simples das quais é: tudo o que sobe, desce. De um poder imenso à sucessão de suspeitas judiciais - tudo tem acontecido na vida de ambos.
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As buscas ontem realizadas pela Polícia Judiciária na" Operação Olissipus" estão relacionadas com o longo consulado de Salgado como o mais influente decisor de Lisboa na área do urbanismo desde pelo menos há 14 anos.
Em 2007, o arquiteto - que Lisboa já conhecia como tendo sido, por exemplo, o autor do Teatro Camões (no Parque das Nações) e o co-autor (com Vittorio Gregotti) do CCB - chegou ao executivo da Câmara Municipal de Lisboa integrando a equipa de António Costa. E, como planeado desde o início, ficou com o pelouro do Urbanismo (até 2019).
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Mas, de uma forma ou doutra, a sua influência no urbanismo não cessou quando deixou a vereação, visto ter mantido a presidência (iniciada em 2018) da SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana). Em fevereiro passado deixou a presidência desta empresa municipal por ter sido constituído arguido no âmbito de um processo de investigação sobre o impacto na paisagem do Hospital CUF do Tejo, projeto aprovado enquanto era vereador do pelouro do Urbanismo.
"Nunca quis ser o Marquês de Pombal. Gostava de ter sido o Manuel da Maia, o engenheiro militar que coordenou os arquitetos que fizeram os projetos de reconstrução da Baixa."
Ao deixar a SRU, Salgado deixou de ter cargos na orgânica formal da CML mas na verdade manteve alguma margem de influência por se ter tornado consultor de Fernando Medina. O gabinete do presidente da câmara já garantiu que é uma consultadoria não remunerada.
As polémicas foram várias - e alguns projetos que aprovou foram parados pelo seu sucessor na vereação, Ricardo Veludo (a Torre da Portugália, por exemplo). Salgado - autor também do estádio do Dragão, no Porto - nunca renegou o seu primo Ricardo Salgado, dizendo-se até seu "amigo pessoal", mesmo com o banqueiro já caído em desgraça.
Há um mês numa entrevista ao Público, explicou a razão de tantas polémicas associadas às funções que desempenhou na CML: "Durante muitos anos, eu fui um alvo fácil na câmara. Servi de para-raios. As críticas feitas ao executivo eram canalizadas através de mim."
Na mesma entrevista, o arquiteto - nascido em Lisboa há 76 anos - explicava quem era afinal a sua referência com organizador da cidade: "Nunca quis ser o Marquês de Pombal. Gostava de ter sido o Manuel da Maia, o engenheiro militar que coordenou os arquitetos que fizeram os projetos de reconstrução da Baixa."
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