Eventos extremos vão ser cada vez mais frequentes: ondas de calor, secas prolongadas, tempestades mais fortes são exemplos.
Eventos extremos vão ser cada vez mais frequentes: ondas de calor, secas prolongadas, tempestades mais fortes são exemplos.Reinaldo Rodrigues

Manter aquecimento global abaixo de 2°C já é uma meta “impossível”, dizem cientistas

Estudo indica que a quantidade de gases já lançada na atmosfera garante “um aquecimento progressivo e inevitável”. “A meta de dois graus está morta”
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Um novo estudo liderado pelo climatologista James Hansen e publicado na revista "Environment: Science and Policy for Sustainable Development" conclui que manter o aquecimento global abaixo de 2°C, um dos cenários previstos no Acordo de Paris, já não é uma meta alcançável.

De acordo com os investigadores, o clima da Terra é mais sensível ao aumento das emissões de gases de efeito estufa do que se pensava anteriormente e o aquecimento global acelerou, tornando essa meta do Acordo de Paris "impossível" de alcançar.

A recente redução na poluição por aerossóis industriais, especialmente no setor naval, contribuiu para agravar o cenário, segundo o estudo. Esses aerossóis ajudavam a bloquear parte da radiação solar, mitigando temporariamente o aquecimento. Sem essa barreira, o efeito das emissões de gases de efeito estufa intensifica-se.

Em conferência de imprensa, James Hansen, um cientista climático que já trabalhou na NASA, destacou que um dos cenários mais otimistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, que previa 50% de hipóteses de limitar o aquecimento global a 2°C até 2100, é agora considerado pouco plausível.

Segundo o climatologista norte-americano, a quantidade de gases já lançada na atmosfera garante “um aquecimento progressivo e inevitável”. “A meta de dois graus está morta”, sentenciou.

As previsões dos investigadores indicam que as temperaturas permanecerão nos, ou acima de, 1,5°C nos próximos anos, subindo para cerca de 2°C até 2045, impactando ecossistemas, intensificando eventos climáticos extremos e provocando o derretimento de glaciares e o aumento do nível do mar.

O estudo também alerta para um possível colapso da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) nas próximas décadas. Este sistema de correntes oceânicas é essencial para a distribuição de calor e nutrientes nos oceanos e o seu colapso poderia causar grandes impactos climáticos, incluindo a subida do nível do mar em vários metros. Por isso, "descrevemos o colapso do AMOC como um ponto sem retorno", argumentam os investigadores no artigo, citado pela AFP.

O Acordo de Paris, assinado em 2015, visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e estabelece como um dos seus objetivos de longo prazo limitar o aumento da temperatura média global a níveis bem abaixo dos 2 °C acima dos níveis pré-industriais e prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. No entanto, dados do sistema de monitorização europeu Copernicus indicam que essa meta de 1,5°C já foi superada temporariamente nos últimos dois anos.

A 2 °C, uma meta alternativa, os impactos seriam ainda maiores, incluindo perdas irreversíveis nas camadas de gelo da Terra. E mesmo essa, alerta agora este estudo, “será impossível” de alcançar.

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