Quando as doenças da tiróide são diagnosticadas são tratadas ou até curadas facilmente.
Quando as doenças da tiróide são diagnosticadas são tratadas ou até curadas facilmente.

Mais de 500 mil portugueses podem sofrer de doenças da tiroide e não saberem

Em Portugal, estima-se que 7,4% da população sofra de doenças da tiroide, sendo que 5% o desconhece. Por isso, o presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo diz que a principal mensagem de hoje, para a população e para os médicos, é: “Pensar na tiroide” para a “diagnosticar e tratar”.
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São das doenças que mais impacto têm na vida pessoal, profissional e social de cada pessoa, levando-as, muitas vezes, a recorrer a quatro ou cinco médicos diferentes, devido aos sintomas que desenvolvem, quando, se calhar, bastava “pensar na tiroide” para haver um diagnóstico correto e tratamento fácil. E pensar na tiroide, diz o presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), é pensar na glândula que produz hormonas a mais ou a menos e que pode provocar “um conjunto de quadros clínicos para os quais a população deve estar minimamente atenta e os médicos, em primeiro lugar os de Medicina Geral e Familiar, devem estar informados e sensibilizados para, quando existem, poderem diagnosticá-los”, alerta João Jácome de Castro, para quem o dia que hoje se celebra “é fundamental para a sensibilização”, porque “as doenças da tiroide representam um dos maiores problemas de Saúde Pública”.


Os dados demonstram isso mesmo. A Organização Mundial da Saúde estima que 750 milhões de pessoas sofrem de alguma das patologias da tiroide, sendo que destas, 60% desconhecem que as têm. Em Portugal, os dados da SPEDM estimam que 7,4% da população sofre do mesmo problema e que 5% (500 mil) também não sabem. Muitos destes casos nem nunca são diagnosticados e outros levam meses ou anos até o serem.

Quando “se a população e os médicos estivessem mais sensibilizados para a tiroide e para o seu funcionamento, o diagnóstico “estaria à distância de uma análise ao sangue, que é barata, ou de uma ecografia, no caso de nódulos”, sublinha Jácome de Castro. Reforçando: “É tão simples quanto isto - se não pensarmos na tiroide e nos sintomas que as suas patologias podem desencadear, não diagnosticamos; se não o fazemos, também não tratamos e nem curamos, quando na esmagadora maioria das situações isto é possível e fácil.”


Para o presidente da SPEDM é assumido que as doenças da tiroide estão subdiagnosticadas no nosso país, mas a verdade é que não há dados concretos que o demonstrem, apenas estimativas. O mesmo acontece com o impacto económico e social que estas podem ter nos doentes e na sociedade. “Ainda não há nenhum estudo nacional que demonstre este impacto”, confirma Jácome de Castro. 


No entanto, há algumas certezas, nomeadamente a de que “são doenças com elevada prevalência na população e altamente impactantes na saúde e na qualidade de vida dos doentes”.

E o médico dá um exemplo quanto ao primeiro ponto: “Se fossemos fazer um rastreio para a Avenida da Liberdade ou em qualquer outra avenida da capital, provavelmente iríamos detetar que 30% dos rastreados tinha nódulos na tiroide e destes 5% com significado clínico”, destacando ainda que “há uns anos o professor Sobrinho Simões fez um estudo em autópsias e apurou que 6,5% dos doentes tinha cancro da tiroide”. Por isso, “a tiroide existe e é importante que se pense nela. A população como os médicos, quer sejam de Medicina Geral, ou de Ginecologia-Obstetrícia, têm de estar atentos aos sintomas”, reforça o médico endocrinologista. 


Do hipo ao hipertiroidismo são vastos os sintomas


João Jácome de Castro explica ao DN que as doenças da tiroide podem ser divididas em dois grandes grupos. Por um lado, temos as doenças em que há alteração da função da tiroide por excesso de hormonas, que é o hipertiroidismo, e, por outro, temos as doenças que levam a uma alteração da tiroide por esta produzir menos hormonas, o hipotiroidismo.

A questão é que “são doenças que vão interferir com o funcionamento do coração - alterando a frequência cardíaca, a pressão arterial, promovendo a insuficiência cardíaca e aumentando o risco da doença isquémica do coração por um lado - ou com o aparelho gastrointestinal, provocando ou obstipação ou diarreias”.

Mas não só. A intervenção do funcionamento da tiroide chega a outras áreas do corpo humano, como à pele, que pode sofrer alterações, ficando seca, ou à queda de cabelo. As mulheres podem sofrer alterações nos ciclos menstruais e na fertilidade. Por exemplo, “o hipertiroidismo pode levar a um estado mais agitado, à irritabilidade, ansiedade, dificuldade no relacionamento interpessoal, o que, muitas vezes, tem repercussões na vida profissional e pessoal de cada um. No hipotiroidismo a tendência é mais para a depressão, cansaço, frustração, para não falar das variações no peso, que são grandes”.


Os sintomas são variados e, como lembra o presidente da SPEDM, no caso de estes existirem e as pessoas não procurarem um médico, ou se o fizerem e este não estiver informado sobre a tiroide, o que vai acontecer é aquilo que se passa hoje: “A pessoa que tem ritmo cardíaco alterado e palpitações vai procurar um cardiologista, a que tem alterações no aparelho gastrointestinal vai procura um gastrenterologista, o que se sente deprimido um psiquiatra, o que tem problemas na pele, o dermatologista, e as mulheres acabam por ir a um ginecologista-obstetra. Ao todo, gasta-se tempo e dinheiro em cinco ou seis médicos, quando um só clínico poderia diagnosticar a doença e tratar os sintomas, bastava uma análise ou uma ecografia.”


Mais cancros da tiroide, mas a grande maioria é tratável


No meio de tantos quadros clínicos, Jácome de Castro alerta para o facto de nem todas as pessoas, com um ou mais destes sintomas, sofrerem necessariamente de patologias da tiroide. “Temos de alertar, mas não alarmar. É preciso sensibilizar e divulgar para que seja possível diagnosticar estas doenças, porque têm de ser acompanhadas e tratadas”, argumenta.


No caso do cancro da tiroide, o médico confirma que “estamos a ter mais novos casos por ano. Em 2023, tivemos cerca de dois mil novos casos, o que pode ter a ver já com alguma preocupação no rastreio das doenças da tiroide”, mas, destaca: “É um cancro que se desenvolve muito lentamente e, na esmagadora maioria dos casos, é tratável e curável. A mortalidade não tem aumentado”.


Nesta área, o grande desafio vai para as mulheres, já que se estima que este seja um dos cancros que mais frequentemente as atinge. E, para isso, como diz o médico, “é preciso estarem atentas ao aparecimento de um aumento de volume localizado no pescoço, a dificuldades em engolir ou em respirar em determinadas posições”.


No Dia Internacional da Tiroide, as palavras-chave são “pensar na tiroide”, porque as suas patologias são facilmente diagnosticadas e tratadas, e quando o são ,“a qualidade de vida dos doentes aumenta brutalmente” e o que “todos queremos é que os nossos doentes recebam os melhores cuidados”. 

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